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Negacionismo ou desleixo? com 9 mortes em 40 dias, nem um terço das mães imunizaram seus filhos contra Influenza na capital; secretária lamenta

Nove crianças entre 6 meses a 5 anos de idade morreram em Rio Branco por insuficiência respiratória aguda. As mortes foram confirmadas em menos de 40 dias.

Ao menos uma das mães, Joelma Dantas, servidora pública, ex-candidata a vereadora e apoiadora de grupos de oposição ao governo, optou por culpar profissionais de saúde e os hospitais por uma “negligência” que somente ela viu. Seu filho de 10 meses sofreu seis paradas e faleceu quando havia um grupo de médicos tentando salvá-lo.

Buscamos informações sobre a razão desta mãe, que, por coincidência, fez campanha aberta contra a vacina da Covid há alguns meses, e chegou a espalhar nas redes sociais ter havido reações graves em pessoas que tomaram o imunizante. Nada foi provado, no entanto, apesar do denuncismo ter mobilizado autoridades para dar satisfação pública ao barulho causado nas redes sociais.

O Seringal tentou apurar se os pais que perderam seus filhos cumpriram sua obrigação de levá-los aos postos de vacinação, e se, de fato, completaram o esquema vacinal que previne contra o pior. Infelizmente, esta informação ainda é um mistério, inclusive para a secretária Sheila Andrade (Saúde).

Sheila gerencia a atenção básica na capital e revelou dados ainda mais preocupantes: menos de 30% das crianças nessa faixa etária foi levada para tomar a vacina contra a Influenza, quando a cobertura vacinal preconizada pelo Ministério da Saúde é de 90%.

A secretária lembra que o chamamento foi feito nas escolas, nas creches, na imprensa, e em praça públicas. E, numa entrevista exclusiva, revela que vacina nunca foi o problema. Aliás, mesmo respeitando o luto das famílias, ela admite que outros fatores podem ter contribuído para a pouca importância dada pelos pais a um assunto tão importante.

Veja abaixo:

O Seringal – As mães que estão em luto vacinaram seus filhos?

Sheila Andrade – Eu não tive acesso ao esquema vacinal das crianças que morreram. Não sei dizer se essas crianças tomaram a vacina. Eu prefiro continuar orientando as mães das crianças que estão vivas. Porém, você é o primeiro a nos questionar sobre esse fato. Acho que vale a pena buscar esta informação para nortear as nossas campanhas futuras, pra mostrar que é necessário trabalhar a prevenção muito antes.

O Seringal – Faltou vacina contra Influenza?

Sheila Andrade – Nós nunca paramos. Não faltou nenhum tipo de imunizante. Nós deixamos claro que a vacina contra a Influenza em setembro e outubro do ano passado não é a mesma de agora. Essa veio mais encorpada, mais eficaz, especificamente para o surto que tivemos em janeiro desse ano. Infelizmente, apesar de toda a campanha, a procura é baixíssima.

O Seringal – Por que será?

Sheila Andrade – É a rejeição mesmo dos pais e responsáveis. Não tem outra explicação. Montamos 18 pontos de vacinação na cidade. Fizemos chamamento na imprensa, nas escolas, nas creches. Infelizmente, a procura foi muito, muito baixa. Fizemos uma nova proposta para ir até os bairros, levar a vacina para essas crianças, e para isso estamos conversando com os líderes comunitários. A gente não pode desistir.

O Seringal – A senhora prefere não entrar em detalhes sobre a eventual desleixo das mães, pois elas ainda estão em luto. Mas a senhora acredita que essas crianças estivessem vivas se elas tivessem sido vacinadas?

Sheila Andrade – É bem provável que elas estivessem vivas, sim. Eu não posso te afirmar se as mães demoraram a buscar solução para seus filhos, pelo menos na atenção básica, ou se relevaram, se optaram por dar um remédio caseiro acreditando que o estado clínico não ia evoluir para algo pior. Não podemos desconsiderar a cultura da automedicação, embora não saibamos se isso realmente aconteceu.

O Seringal – Uma das mãe em luto já fez campanha aberta contra a vacina da Covid. Essa politização da pandemia matou muita gente por indução de um presidente claramente negocionista, que aglomera, reúne multidões e parece não se importar com a vida. A senhora acredita que isso acelerou o processo de morte dessas crianças?

Sheila Andrade – O negacionismo não pode ser descartado. A história está aí para confirmar isso. E cresceu muito com a pandemia da Covid. Não se pode negar a importância da vacinação e a contribuição dos cientistas pela vida. Vacina é a única arma que temos para trabalhar a prevenção. É uma loucura pensar o contrário. Sarampo e paralisia infantil foram erradicadas no Brasil graças à vacina. Por que a vacina não server somente agora?

O Seringal – As pessoas não negavam a vacina antes do Bolsonaro….

Sheila Andrade – Exato.

O Seringal – Quer mensagem a senhora  deixaria para as mães e responsáveis por crianças ainda vivas?

Sheila Andrade – Entendam que a vacina é importante para os seus filhos, e não se deixem levar pela politização do assunto. Ninguém morre ao se vacinar. Enquanto eu for secretária, vamos continuar lutando por mais médicos, mais vacinas, mais conscientização das pessoas.

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