Análise: O estilo Nancy Andrighi, que fará Gladson “sangrar” muito, mas não o afastará do cargo

Os adeptos da teoria do caos, aquela segundo a qual Gladson Cameli está às portas de ser afastado do cargo e até preso, perderam mais uma hoje, na votação dos agravos de instrumento do governador no STJ. Se, de um lado, Gladson não teve muitos ganhos (a devolução de seus bens, celulares e a anulação do processo, por exemplo), também não teve perdas. Ele se mantém firme no cargo. Pode até sangrar muito ainda, resultado da tensão em torno disso tudo, e quem sabe se tornar inelegível para as eleições gerais de 2026, isso se aparecer fato novo, leia-se PROVAS cabais de que ele recebeu um centavo sequer além do seu salário.

Sobram suposições no inquérito da PF. Muito fuxico.

Cameli não é ordenador de despesas, e isto está claro na Ptolomeu, razão pela qual sobram suposições, ligações exageradas, premeditadas, sem nexo, de isso com aquilo.

É bem verdade que alguns gestores afastados estão bem mais enrolados. Estes, sim, mandavam pagar por serviços das empresas, e em nenhum momento a PF afirma, por não haver provas, que tais propinas foram ordenadas pelo chefe do Executivo ou caíram em seu bolso.

Tem?
Não tem.

Senão, por quais motivos a ministra não acatou o pedido de prisão? Por que, então, não determinou o seu afastamento?

Indício não é prova.

Nancy é legalista. É rigorosa. Longe de ser lavajatista. E deu o benefício da dúvida a Cameli quando abriu a maior exceção do caso (permitindo que, ao final de 2021, filho e pai se comunicassem novamente).

A proibição ao governador de deixar o país é resultado de uma meninice irritante do próprio Gladson. Pense num governador infantil.

A ordem que lhe fez ficar em claro madrugada a fio trás o seguinte recado:

“Menino, fica quieto. Se comporta. Tu é investigado. Não tem nada que passar tanto tempo em Miami. Não agora. Me dê seu passaporte pra cá, agora!”.

E o que tem os apartamentos suntuosos, inclusive o de Miami? Ora, são da família e estão em nome de pai e mãe. Nada prova que tenham sido comprados com dinheiro do filho, tampouco recursos públicos.

Nas conversas de celular interceptadas pela PF, não há nenhum indício de que foi pago propina para ser entregue ao governador. Também não há qualquer evidência de que ele deu ordem, orientação ou simulou qualquer possibilidade de direcionamento de obra para amigos ou famílias.

Exemplo claro:

A tia Beatriz manda mensagem pedindo para que ele ajude seu filho com obras. Gladson manda áudio ao primo para saber do que se trata. O primo responde que a mãe se preocupa, afinal ela tem mais de 70 anos.

Gladson não diz “eu vou te dar” obras.

Ele diz que a licitação está aberta, “vá lá e se habilite”.  Ou seja, concorra como outro qualquer.

Onde está o tráfico de influência?

É capaz que exista. Mas onde está?.

Ademais, como bem disse a ministra Nancy Andrighi, conhecida por seu extremo zelo com o cumprimento do direito e se distanciar das pirotecnias da mídia, “as medidas adotadas são suficientes para cessar o fluxo de possíveis desvios de recursos públicos, razão pela qual, para não gerar prejuízo às empresas, autorizou-as a voltarem ao pleno funcionamento, mas fora do Acre e sem contratos aqui”.

 

Vamos aguardar as cenas dos próximos capítulos. Até este momento, o pragmatismo de Gladson Cameli segue vencendo e tem tudo para concluir o mandato até o final.

Sobre ser legalista:  aquele que observa rigorosamente o texto da lei, sem fazer nenhuma interpretação jurídica, mas tão-somente gramatical, sem atender à intenção e ao espírito do legislador.

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