O diagnóstico foi dado: Sebastião Sena, coordenador de Ramais da Prefeitura de Rio Branco, não poderá mais andar. A paraplegia é resultado de uma tragédia em ramal da Estrada Transacreana, no cumprimento de missão oficial, quando uma “caminhonete de ferro velho e em péssimo estado de conservação” foi entregue ao trabalhador e sua equipe.
Eles despencaram de uma ponte, deixando outros três trabalhadores seriamente feridos, em 11 de novembro de 2021.
Sena completa 17 meses prostrado numa cama, desassistido, ganhando um salário mínimo do INSS. A fisioterapia foi suspensa.
“É um ingrato, um peste, um mentiroso”, diz ele sobre o prefeito Tião Bocalom, que o tratava como “amigo” e havia prometido toda a assistência necessária para garantir-lhe a mínima qualidade de vida. O repórter Assem Neto adiantou o drama do trabalhador dias após o acidente (veja abaixo) e denunciou a corrupção dentro da Emurb envolvendo centenas de outros servidores, inclusive a resistência da prefeitura para recolher direitos previdenciários.
Na noite desta segunda-feira, em nova entrevista exclusiva, Sena relata um esquema para apagar provas contra a prefeitura, e detalhes de uma perícia camuflada, feita apenas na área urbana da cidade, omitindo a falta de condições e o trabalho degradante que é feito na zona rural. O programa de ramais da prefeitura da capital estacionou. Leia:
Sebastião Sena – O Bocalom me chamou de mentiroso. Provei na justiça que a Emurb não recolheu meus direitos previdenciários por 2 anos. A juíza mandou ele pagar em dezembro do ano passado. Quem mentiu foi ele e o Assis (diretor da Emurb).
Oseringal – O que eles prometeram e ainda não cumpriram?
Sebastião Sena – Eles deveriam me indenizar, mas eles se negam. Eu ganhava R$ 3,1 mil e agora estou encostado pelo INSS com um salário mínimo. Esse dinheiro não cobre minha medicação e as fraudas que preciso usar todo dia. O médico disse que eu não vou andar nunca mais.
Oseringal – E a fisioterapia?
Sebastião Sena – Eles suspenderam e não querem pagar particular. Fiz o encaminhamento para o INTO e só me chamaram depois de 8 meses quando os laudos estavam todos vencidos. mandaram refazer tudo de novo para ter acesso à fisioterapia. Tô fazendo por que preciso.
Oseringal – O prefeito ou o presidente da Emurb falam com você?
Sebastião Sena – Não, nenhum. O Assis me procurou no dia da audiência dizendo que não tinha como pagar a minha indenização. Prometeu me ajudar com a aposentadoria, mas nem isso eles estão correndo atrás.
Oseringal – Como você se sente?
Sebastião Sena – Abandonado pelos amigos e pelo poder público. Sou a prova viva da ingratidão. O Bocalom tinha discurso de humanidade e solidariedade. Um peste daquele tem humanidade der nada. Eu quero saber quem deu prêmio três vezes pra ele como melhor gestor e empreendedor em Acrelândia. Eu era motorista de graça, dirigindo um carro tirado do ferro velho, enquanto os figurões andam dentro da cidade com caminhonete nova.
Oseringal – O que disse a perícia no carro que você se acidentou?
Sebastião Sena – Fizeram uma perícia circunstanciada depois de 7 meses, dizendo que o carro não tinha defeito. Eu tenho provas de que a caixa de marcha e os freios não prestavam. Foram 4 carro do ferro velho que eles deram pra gente usar. Não me ouviram e não ouviram a equipe que andava comigo. O chefe da oficina da Emurb mentiu na Rede Amazônica, dizendo que o carro estava perfeito. Depois eu fui pra cima dele. Eu disse o diabo pra ele. Ele disse que cumpre ordens. Ora, se mandarem você dar o C…tu vai? Se mandarem comer merda tu vai? Mandaram ele mentir e ele obedeceu.
Oseringal – Você tem conversado com o Bocalom?
A última vez que vi o Bocalom eu pedi pra ele ser mais humano. Isso faz muito tempo. Ele é muito ingrato. Na hora de me contratar a conversa era outra, bem diferente. Esse homem é um ingrato. Eu não tenho nenhuma consideração por ele. Fez comigo, é capaz de fazer com outros.
Oseringal – O que fez o jurídico da Emurb?
O advogado Mário Paiva, da Emurb, é um canalha. Mentiu, dizendo que eu fazia o que queria. Mentira. Eu era pressionado por três engenheiros e o diretor da Emurb pra me virar. O que me lascou foi eu ter assinado uma tutela do carro. Esse cara ameaçou me demitir se eu não fosse pro trecho sem condições, ás vezes sem comida. Eu pedi 16 pessoas para tocar o programa de ramais, ele me deu 3 ajudantes. Eu coordenava e executava, dirigia, era serrador, pedreiro, carpinteiro, motorista, encarregado e ainda bastecia máquinas e levava comida para os trabalhadores. A Justiça do Trabalho só combate trabalho degradante e trabalho escravo nas empresas privadas. No serviço público, nada. Estou pedindo que façam uma auditoria, mas ouvindo a turma que trabalha comigo. Eu tenho guardado uma lona, que a gente usava pra se proteger de sol e chuva debaixo das árvores.