terça-feira, outubro 8, 2024

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Tragédia em escola do PR reforça que o Brasil precisa desarmar a população

Leonardo Sakamoto

Colunista UOL

O ataque a tiros que deixou dois estudantes mortos em uma escola em Cambé (PR), nesta segunda (19), pelas mãos de um ex-aluno de 21 anos vem sendo usado para a campanha pelo armamento. Logo depois da tragédia, as redes sociais foram inundadas por quem defende colocar uma pistola na mão de professores e de funcionários. Não é a primeira vez que mortes em escolas são usadas por quem milita pelas armas de fogo. Quem acompanha aqui a coluna sabe que, infelizmente, a tática é recorrente. O mesmo aconteceu após o massacre em uma escola em Suzano (SP), na chacina em Saudades (SC), no ataque à escola estadual Thomazia Montoro, na capital paulista, ou mesmo nas mortes em Realengo, no Rio de Janeiro.

Enquanto a segunda vítima ainda lutava pela vida no hospital, discursos rasos pipocavam nas redes afirmando que a única maneira de parar um criminoso armado é colocando armas dentro das escolas. Davam como exemplo que o criminoso foi contido por um vizinho que ouviu os tiros e correu para ajudar. Só omitem que Joel de Oliveira, que impediu tragédia maior, estava desarmado, tal como professores que dominaram agressores em outros ataques.

Contar com policiais ou agentes de segurança treinados para usar uma arma em situações como essa e que possam alcançar o local rapidamente é importante. Mas entregar armas de fogo a civis poderia elevar o tamanho da tragédia. E campanhas como essa encobrem o verdadeiro debate que deveria estar sendo travado agora, que é o de acelerar o desarmamento da população. Imagine se, ao invés do revólver, o rapaz tivesse um fuzil, daqueles com acesso facilitado pelo governo Jair Bolsonaro. Poderia ter acontecido um massacre, como já ocorreu em outros momentos no Brasil e ocorre em escolas nos Estados Unidos – onde pessoas com transtornos mentais ceifam vidas periodicamente com armas pesadas.

Aliás, em determinados estados norte-americanos, que servem de referência para os defensores do livre acesso às armas no Brasil, jovens podem comprar fuzis em varejistas, sem dificuldade. Os decretos presidenciais que flexibilizaram o acesso a armas de fogo (tanto as de baixo calibre, quanto fuzis e espingardas) e munição foram uma das piores heranças do governo passado. Assim que assumiu, Lula reverteu alguns e exigiu recadastramento de armas. A Bancada da Bala no Congresso Nacional tentam reverter essas mudanças. Mas, mesmo que elas permaneçam, o estrago foi feito. E como o mercado ilegal é também alimentado pelas armas compradas legalmente, as escolas do Brasil estão menos seguro.

letalidade de ataques realizados com armas de fogo contra escolas é três vezes maior que a daqueles perpetrados com armas brancas, como facas e machadinhas. Os dados são do estudo “Raio-X de 20 anos de ataques a escolas no Brasil”, do Instituto Sou da Paz, que foi atualizado após o crime cometido em Cambé (PR).

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