O comandante da base, tenente-coronel Moacir Mendonça Lima, deu ordem para liberar um grupo que invadiu a área militar de madrugada logo após a violenta tentativa de golpe de Estado na Esplanada dos Ministérios, alegando que eles estariam apenas “desorientados”.
Na página, que podia ser acessada antes da matéria, a Base de Administração e Apoio do CMP informava o nome do comandante Moacir, permitia o acesso à área de licitações e o download de galerias de foto dos militares do setor, por exemplo. Após a reportagem ser publicada, todos esses dados foram retirados do ar.
O Metrópoles questionou o Exército sobre a retirada do site e aguarda retorno. O espaço segue aberto.
Proteção
Um relatório do Exército obtido pelo Metrópoles mostra que 13 bolsonaristas invadiram a área do Quartel-General após o atentado do 8 de Janeiro e chegaram a ser presos por um soldado. Porém, por ordem do tenente-coronel, eles acabaram sendo liberados para se abrigar junto a outros golpistas, na Praça dos Cristais.
O documento mostra detalhes sobre o serviço do dia na Base de Administração e Apoio do Comando Militar do Planalto. No trecho sobre as ocorrências, o relatório cita a invasão. Os 13 civis, nove homens e quatro mulheres, invadiram o quartel por volta de 0h30, por uma entrada na cerca próxima à Divisão de Educação Física, um dos primeiros pontos de acesso do Setor Militar Urbano (SMU) de quem vem da Esplanada dos Ministérios.
Um soldado que estava de prontidão no local, sozinho e desarmado, rendeu os bolsonaristas. A Companhia de Guarda foi chamada, e os 13 invasores foram revistados. Com eles, os militares encontraram um canivete e até uma arma de choque. Detidos, eles seriam recolhidos devido à invasão a uma organização militar, com o agravante dos itens apreendidos.
Mas a ordem do tenente-coronel do Exército Moacir Mendonça Lima, comandante da Base de Administração e Apoio do CMP, contrariou todo o procedimento padrão. Eles acabaram liberados, e o militar de alta patente permitiu que o grupo pudesse se esconder na Praça dos Cristais.
O local concentrava os bolsonaristas acampados em frente ao QG e serviu de proteção contra a polícia, já que blindados do Exército foram colocados logo na entrada do SMU após os atos contra a democracia, impedindo a passagem de viaturas. Na manhã seguinte, mais de mil golpistas foram presos no acampamento.
Porém, a lista com o nome de todos os detidos no dia 9 conta com apenas dois dos 13 invasores: Bruno Edson Gabriel Marinho, 39 anos, natural do Rio de Janeiro, e Guilherme Cazelli Conde, 29, de Mato Grosso. Ambos são monitorados com tornozeleira eletrônica. Guilherme já é investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no Inquérito 4921, que apura os autores intelectuais e pessoas que instigaram os atos. Os outros 11 “sumiram”.
“Desorientação”
O Exército foi procurado pela reportagem para comentar a denúncia, mas alegou que a invasão ocorreu por “desorientação”, mesmo o grupo portando arma de choque e canivetes. “Durante a apuração sumária da ocorrência, constatou-se que o acesso ao local havia ocorrido por desorientação dos envolvidos, não tendo sido identificada a caracterização de dolo de invadir e/ou permanecer no local de forma irregular, o que motivou a liberação do grupo e o registro da ocorrência apenas para controle da informação”, argumentou.
Linha de blindados
O episódio da proteção ao grupo vai de encontro com outras denúncias de que militares de alta patente teriam auxiliado bolsonaristas logo após o 8 de Janeiro. Como relatado na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Antidemocráticos, em andamento na Câmara Legislativa do Distrito Federal, a Polícia Militar do DF tinha ordens de entrar no SMU, desmobilizar o acampamento e prender golpistas depois da depredação dos prédios da Praça dos Três Poderes.
Luís Nova/Especial MetrópolesMilitares do exército fecham o acesso ao QG. Blindado de transporte de tropa chega ao local
A PM, porém, encontrou uma linha de militares do Exército e blindados impedindo qualquer um de entrar na área do QG. A reportagem do Metrópoles também esteve no local naquela ocasião e confirmou essa ordem.
O ex-comandante militar do Planalto, general Gustavo Henrique Dutra, também na CPI, alegou que os bolsonaristas só não foram detidos imediatamente porque havia risco de morte com essa operação, que seria complexa, e o próprio presidente Lula (PT) teria concordado com a realização das prisões apenas no dia seguinte.
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