Na última quarta-feira, dia da rebelião mais sangrenta em um presídio do Acre, os 88 chefes de facções presos no Antônio Amaro, unidade tida como de “segurança máxima”, não pediram comida, muito embora tenham tomado o refeitório junto com o depósito de armas da unidade após renderem o policial penal Rodrigo Pessoa e fazê-lo refém.
Os sete chefões envolvidos diretamente na rebelião passaram 24 horas em negociações com o Gabinete de Crise enquanto decapitavam e esquartejavam cinco apenados de facção rival.
Na busca por explicações sobre o que aconteceu ali dentro, algumas suspeitas de favorecimento pela gestão do Iapen vêm a público a partir deste artigo.
O que chama atenção é que todos presos (ali só são guardados os cabeças de organizações criminosas), até mesmo aqueles que foram executados, vinham recebendo, em mãos, dietas extremamente ricas em nutrientes, em forma de sacolões, fora do cardápio normal (carnes, arroz, feijão, macarrão e saladas).
Esse privilégio não existe em nenhuma outra casa de detenção do Estado do Acre, mas no caso do Antônio Amaro foi autorizado na gestão do ex-diretor do Iapen, o agora deputado Arleilson Cunha.
As dietas foram barradas na administração do diretor Lucas Gomes.
Nem mesmo a multidão de detentos da FOC (Francisco D´Oliveira Conde), o maior presídio do estado, teve, algum dia, esse tipo de vantagem.
A reportagem de oseringal teve acesso no início da noite deste domingo à lista – e imagens – da dieta que é levada pelos familiares dos presos e tem até critérios personalizados. Ou seja, preso tal, dieta tal.
Os ítens são de invejar qualquer celebridade acima do peso ou aqueles que mantêm vida saudável por opção ou necessidade: leite pausterizado, suco natural, abacate, maçã, banana, granola, castanha do Pará, maçã, banana, barras de cereais, pacotes de leite ninho, iogurte, etc.
Em média, 90 dietas são recebidas entre segunda e terça-feiras.
Os alimentos seriam suficientes para 7 dias, por preso.
Imagine cada preso devorando 800g de leite em pó.
Agora imagina outros perecíveis numa cela minúscula, escura, sem refrigeração, sem geladeira.
A gestão do Iapen justifica ter autorizado a dieta para “ajudar no tratamento de gastrites”.
Ocorre que não há exame ou laudo médico atestando que algum presidiário sofra com essa doença.
A revelação trazida agora precisa de esclarecimentos do Estado, o que não foi possível por se tratar de um dia atípico em que as autoridades diretamente responsáveis se reservam ao direito de atender somente chamadas de quem está na sua agenda.
O espaço está aberto.