Mais clara não poderia ser a definição das contas públicas feita por um interlocutor do governo que falou à reportagem nesta tarde sobre “um esforço hercúleo” para recuperar o equilíbrio fiscal. Todo o secretariado foi intimado a evitar o supérfluo (como se supérfluo fosse permitido). O cinto nunca apertou tanto quanto agora, nos 4 anos e 7 meses de gestão.
“Imaginemos um paciente grave que, se for para a UTI, não retornará à enfermaria. É caixão”, disse.
Provocado detalhar as tais “medidas hercúleas”, ele confirmou reuniões setoriais e emergenciais contra equipe econômica e outros mensageiros do governador Gladsn Cameli (PP). Foi mais cirúrgico ainda.
“Pagamos, sim, os salários em dia. Mas o décimo-terceiro (última parcela) estará comprometida, ao final do ano, se medidas extremas não forem tomadas já”. Quanto a obras estruturais, estamos devendo. O diálogo com Lula está aberto e nós não podemos nos esquivar disso”.
O interlocutor não comentou as 15 medidas tomadas pelo governo, contidas numa planilha que a reportagem teve acesso, a fim de dar respostas rápidas na meta de equilíbrio fiscal.
“É por aí”, afirmou. E despediu-se assim:
“”Arcamos agora com as consequências de decisões intempestivas”.
Os contratos com terceirizados terão corte inesperado e traumático para muita gente: será de 30%. Não está claro se os trabalhadores já contratados serão afetados ou se a a redução será sobre os negócios com as empresas.
Também será de 30% o corte nos recursos que bancam, inclusive, despesas de autoridades em missão oficial que costumam carregar dinheiro em espécie ou por meio de cartões corporativos. Noutros governos, isto era batizado de “verba secreta”, já abolida (pelo menos em tese).
Ninguém será contratado a partir de agora. A folha de pagamento de ativos e inativos está bloqueada para novas despesas com pessoal. O déficit geral que precisa ser reduzido na folha é de 15%, segundo estudo da equipe econômica. Como isso será feito?
Diárias, passagens, locação e manutenção de veículos e aeronaves entraram na lista de medidas extremas. Arrecadar mais na fonte 100 (recursos próprios) é outro desafio para o secretário de Fazenda, Amarísio Freitas, que faz uma gestão questionável. A prova de fogo será nos próximos dias, quando ocorrerão os festivais de praia em Plácido de Castro (festa do surubim, Porto Acre (festa da melancia), Brasiléia (festa dos universitários), o festival de Verão de Tarauacá e os sete dias de farra em Sena Madureira (aniversário da cidade, Expo Sena e Festival do Mandi). Todos os eventos têm apoio direto do governo do estado.
Ao governo Lula, o Acre deve apelar.
E com a humildade de quem não deve ter vergonha de esticar o pires e admitir estar necessitado por ajuda e piedade.