A deputada estadual Michelle Melo não pode esperar que as dezenas de indicações suas para cargos no governo sejam exoneradas. Dela deve partir, urgentemente, um pedido à Casa Civil, à Secretaria de Governo, ao governador, para que seu grupo deixe a administração pública. Do contrário, o discurso da deputada, de moralismo supostamente exemplar, respeito à ética, de quem cuida das pessoas, não passará de vitimização barata.
Gladson Cameli não tem obrigação de manter o emprego de gente que está ali orientada por uma parlamentar infiel, que desgasta a governabilidade e desconstrói o projeto que ela jurou defender. Quando se indica alguém para trabalhar na máquina pública, espera-se comprometimento, apoio à causa pública. Isto não é utopia.
Há de se esclarecer o que está por trás da trairagem repentina e da ira lançada pela deputada contra quem lhe estendeu a mão. Duas questões devem ser explicadas urgentemente por Michelle: até que ponto é verdade que a deputada agiu com boas pitadas de chantagem pelo controle político da Fundação Hospitalar? Há limites em tudo.
É verdade, ainda, que o controle político do Hospital de Plácido de Castro não basta, assim como mais de 26 cargos seus, nomeados em sinal de gratidão e respeito à parlamentar? Sua fama de corajosa, destemida, boa samaritana, representante orgânica do povo, está na berlinda, assim como foram exposta as traquinagens da doutora fora da vida pública. Atitudes, aliás, que poderiam ser evitadas considerando se tratar de uma mulher de posses, rica, e de família notoriamente afortunada.
É contraditório e extremamente desonesto com seus amigos e eleitores vender a imagem de seriedade quando se está atolada em processos judiciais por não honrar compromissos financeiros. Pergunte ao juiz Matias Mamed, de quem partiu a ordem para penhora de bens da deputada, acusada por dívidas razoavelmente pequenas para o seu poder financeiro (aluguel, condomínio, IPTU, ar condicionado e outros). Enquanto os bens da deputada são vasculhados pelo sistema judiciário autorizado legalmente, o seu passaporte corre o risco de ser retido a qualquer instante.
Não é sobre moralidade somente. É sobre caráter incompleto da totalidade discursiva.