Por Jorge Natal
“E agora, José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou. E agora, José? Está sem discurso, está sem carinho”. O trecho do poema de Carlos Drummond de Andrade ilustra o sentimento de solidão e abandono do indivíduo, a sua falta de esperança e a sensação de que está perdido na vida, sem saber que caminho tomar.
É dessa forma que o vereador Fábio Araújo (PDT) analisa o atual momento do prefeito Tião Bocalom. “Isso ficou evidente quando ele chegou num canteiro de obra e não viu ninguém trabalhando”, ilustrou o parlamentar, que ainda foi mais ácido: “sequer o partido dele o quer como candidato”.
“Nesses três anos, defendemos a população e propomos o melhor para a cidade. O Papel do vereador é fiscalizar e cobrar do Executivo”
Entres as idiossincrasias do alcaide, destacam-se: sumir durante uma enxurrada do igarapé São Francisco; fazer excessivas e injustificadas viagens; mandar policiais usarem a força contra garis; durante a madrugada, mandou desmontar quiosques; chamou servidores públicos de preguiçosos, comparando-os a gado; por não querer dialogar com o Parlamento, quase sofreu um processo de impeachment; diante de uma greve, saiu pelas portas dos fundos da prefeitura, evadindo-se na contramão pela avenida Getúlio Vargas; chamou os moradores do Benfica de baderneiros, bateu boca com merendeiras; defendeu o golpe militar; e pintou a cidade de azul.
“O nosso mandato é proativo e resolutivo, sim, o que não nos impede de fiscalizar os delírios, os desmandos e as irregularidades do prefeito”
Apesar de tudo isso, o prefeito é candidatíssimo à reeleição. “Só não sei o que ele vai dizer. Além de abandonar o produzir para empregar, recentemente doou os terrenos do programa 1001 dignidades”, afirmou o vereador, lembrando que a entrega das casas era para acontecer em 2022, passou para 2023, depois ficou para maio de 2024 e, no momento, está sem data definida. E agora, prefeito?
O Seringal – Como o senhor avalia o seu mandato?
Fábio Araújo – No tocante à produção, foram requerimentos, indicações, audiências públicas, participação em comissões e projetos de resolução e de lei. Alguns foram atendidos pelo Executivo, outros não. Quanto à ação parlamentar como um todo, temos uma boa representatividade. Fizemos reivindicações, fiscalizações, diálogos e encaminhamentos juntos aos setores da sociedade civil organizada, destacadamente os fazedores de cultura e os trabalhadores rurais. Nesses três anos, defendemos a população e propomos o melhor para a cidade. O papel do vereador é fiscalizar e cobrar do Executivo.
Fábio Araújo – Eu recebo as reivindicações, vou até o problema e levo as demandas para a prefeitura. Infelizmente, a maioria desses pedidos são engavetados. O nosso mandato é proativo e resolutivo, sim, o que não nos impede de fiscalizar os delírios, os desmandos e as irregularidades do prefeito. Quando há indícios de ilegalidade, fazemos representações junto ao Ministério Público, afinal, assim como nós vereadores, o órgão tem o papel de fiscalizar.
O Seringal – A situação dos ramais é uma dessas possíveis irregularidades?
Fábio Araújo – Essa é uma das nossas principais lutas. Desde o início do mandato, venho acompanhando e cobrando. O período das chuvas nem se intensificou e estamos diante do caos. A população rural está desesperada porque, além de isolada, não vai escoar a produção. Houve muitas promessas, mas o que vigora é a irresponsabilidade, a falta de compromisso e a politicagem.
O Seringal – E como se encontram os bairros afastados?
Fábio Araújo – Rio Branco padece por falta d’água, saneamento básico e ruas esburacadas. E não se vê, até agora, nenhuma intervenção da prefeitura. O que se vê é o prefeito querendo fazer elevados e viadutos, trazer ônibus elétricos, fazer paradas de ônibus com vidro blindex e botar para funcionar uma tal de vaca mecânica.
O Seringal – Falando em ideias mirabolantes, comente sobre o 1001 dignidades
Fábio Araújo – Além de não saber distinguir o que são prioridades, esse projeto 1001 dignidades é a maior das muitas fantasias do prefeito, como bem sugere o nome. Ele prometeu essas casas para 2022, passou para 2023, depois ficou para maio deste ano e, no momento, está sem data de entrega definida. Recentemente, ele doou para o Minha Casa, Minha Vida, do governo federal, os terrenos do programa.
O Seringal – Por que o senhor afirma que o projeto “produzir para empregar” fracassou?
Fábio Araújo – Eu desafio alguém a me apresentar uma saca de arroz fruto desse discurso. Não existem ramais trafegáveis, incentivos e muito menos uma política agrícola. No ano passado, tivemos graves denúncias no acondicionamento e distribuição de calcário e fertilizantes. Alguém conhece uma única agroindústria? Sabe por que isso não existe? Porque não existe produção no nosso município.