A crise política na Venezuela ameaça deixar milhões de pessoas em situação de dificuldade, amplia a tensão na região e escancara o racha no continente. Nícolas Maduro rompeu relações com sete países da América Latina e expulsou seus diplomatas, como resposta alguns desses países também indicaram que estão expulsando os diplomatas venezuelanos de suas capitais.
O resultado pode deixar os venezuelanos que estão vivendo nos países da região sem assistência. O alerta é do Alto Comissariado da ONU para Refugiados.
Na segunda-feira, as autoridades de Caracas anunciaram as medidas contra Argentina, Chile, Uruguai, Costa Rica, Peru e Panamá depois que o bloco de governos emitiu uma nota denunciando uma suposta fraude nas eleições do fim de semana. Oficialmente, Maduro foi decretado como o vencedor, ainda que não tenha publicado as atas de cada uma das sessões. A oposição rejeita a derrota e denuncia uma manipulação.
Existem hoje 7,7 milhões de venezuelanos vivendo no exterior. Ou seja, um quarto da população do país deixou a Venezuela nos 25 anos do chavismo. O governo de Maduro destaca que o motivo é, acima de tudo, a sanção imposta pelos americanos e europeus, afetando serviços e qualidade de vida. A ONU admite que as sanções precisam ser retiradas. Mas alerta que elas não explicam e nem justificam a repressão.
Desse êxodo, 6,5 milhões estão na América Latina. Nos sete países afetados pela decisão de Maduro vivem 1,5 milhão no Peru, 500 mil no Chile, 164 mil na Argentina, 40 mil no Uruguai, 30 mil na Costa Rica e 60 mil no Panamá.
A avaliação do Alto Comissariado da ONU para Refugiados é de que, agora, esses venezuelanos espalhados pela região poderão ficar sem acesso a consulados e embaixadas. Isso significa uma dificuldade extra para aqueles que estão no exterior e precisam de documentos como certidões de nascimento, de casamento, passaportes e todos os demais trâmites consulares.
Diplomatas brasileiros e colombianos ouvidos pelo UOL indicaram que, diante desse cenário, uma das eventuais consequências seja o aumento do fluxo de imigrantes e refugiados para países que ainda mantém relações diplomáticas com a Venezuela. Ou seja, um movimento ainda maior de pessoas para o Brasil e Colômbia.
Nos últimos três meses, a agência da ONU indicou que o fluxo de venezuelanos deixando o país é ainda maior que o movimento daqueles que chegam à Venezuela. Pesquisas realizadas nas últimas semanas ainda alertam que entre 18% e 25% dos venezuelanos estariam dispostos a deixar o país caso Maduro continue no poder. Uma das, a ORC Consultants, chega a revelar que um terço dos entrevistados demonstrou interesse em sair da Venezuela caso a crise política se agrave.
Tensão regional
A tensão não se limita aos venezuelanos pela região. A decisão de expulsar diplomatas argentinos deixa a equipe política da opositora Corina Machado em uma situação complicada. Vários deles estavam refugiados na embaixada da Argentina em Caracas. O governo de Javier Milei denunciou o fato de que, desde ontem, homens não identificados circulam no perímetro da embaixada e o temor é de que possa haver uma invasão, diante da ruptura de relações diplomáticas entre Buenos Aires e Caracas.
O presidente chileno, Gabriel Boric, também atacou a postura de Maduro e diz que a expulsão de seus diplomatas ocorreu “com uma série de argumentos implausíveis e demonstrando uma profunda a intolerância à divergência, que é essencial em uma democracia”.
“O nosso governo no Chile é um governo de aliança entre a esquerda e a centro-esquerda, e defendemos firmemente os valores democráticos e o respeito irrestrito aos direitos humanos. Fazemos isso por convicção e por aprender com nossa própria história nacional”, afirmou.
“Nesse caso, não fizemos mais do que defender o que acreditamos ser correto: que os resultados da eleição sejam transparentes e verificáveis por observadores não comprometidos com o governo atual por meio da publicação das atas completas. Até o momento em que este artigo foi escrito, isso não aconteceu”, alertou Boric.