“É assim que se chupa”: meninos e meninas de 14 a 17 anos relatam assédio sexual de professor da Ufac

Alunos do Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Acre (UFAC) denunciaram em maio casos de assédio sexual supostamente cometidos por um professor da instituição. As denúncias, que no mesmo mês levaram ao afastamento cautelar do docente em um processo administrativo da universidade, também são apuradas em um procedimento criminal sigiloso do Ministério Público Federal (MPF) no Acre. O professor negou irregularidades (leia o posicionamento ao fim da reportagem).

Os relatos de oito alunos, entre garotos e garotas de 14 a 17 anos, foram feitos em 6 de maio em uma reunião entre pais, professores e representantes da Associação dos Docentes da Universidade Federal do Acre (Adufac), que à época liderava a greve na universidade.

A Adufac reuniu as acusações em uma representação feita ao MPF em 10 de junho. A maioria dos alunos não especificou quando os casos de assédio teriam ocorrido. Dois deles citaram o ano de 2022

A coluna teve acesso a um vídeo com os relatos dos alunos (veja abaixo galeria com detalhes das narrativas). Eles citaram comentários do professor sobre o corpo das jovens, toques inapropriados em braços, mãos e pescoço de algumas alunas, formas indesejadas de se dirigir a elas e “piadas” de cunho sexual dentro e fora da sala de aula.

Em um dos casos, um jovem de 17 anos, aluno do 3º ano do Ensino Médio, mencionou uma passagem em que o professor teria dado conotação sexual a um sorvete que havia comprado.

“Ele comprou o sorvete, passou pelos meninos e falou exatamente assim: ‘vocês, meninos, quando vão chupar um sorvete chupam na mesma bola?’. Uma colega minha estava por trás e ouviu, ele percebeu e falou ‘desculpe, não sabia que tinha uma senhorita por aqui’. Ele passou a mão no ombro dela e ela foi embora. Quando ele percebeu que não tinha mais nenhuma menina por perto, ele chegou nos meninos e falou bem assim ‘é assim que se chupa’ e deu o maior chupão na bola, um lambidão depois. Todo mundo ficou sem graça”, disse o rapaz.

Nos depoimentos, os alunos também disseram que o professor afirmava ter amizade com a direção da escola, postura que teria inibido denúncias dos jovens ao comando do colégio. A representação da Adufac ao MPF citou que o professor já havia sido alvo de denúncias anônimas no Instagram em novembro de 2023, sem que medidas tenham sido tomadas na ocasião

Uma das jovens contou ter relatado à direção do colégio uma ocasião em que ouviu do professor que seu corpo “era muito desenvolvido para a idade”. Depois disso, segundo a garota, o docente lhe disse que ela deveria “ficar calada” sobre situações envolvendo aluno e professor dentro de sala de aula.

O professor do colégio, que a reportagem não vai identificar, foi ouvido pela coluna. Afastado das salas de aula cautelarmente desde maio, ele negou qualquer assédio sexual contra os alunos do colégio da UFAC e se disse vítima de perseguição.

“Essas situações não têm nada a ver, eu nego. Não cometi assédio. O que acontece é que tem havido perseguições a pessoas no Colégio de Aplicação e eu sou uma delas. Perseguições por parte de professores e alunos. Minha vida é toda levada ao bom trabalho”, afirmou.

Além de apurar o caso criminalmente e sob sigilo, por se tratar de supostas vítimas menores de 18 anos, o MPF no Acre também enviou recomendações ao Colégio de Aplicação da UFAC em 11 de julho.

Assinado pelo procurador regional do Direitos do Cidadão, Lucas Costa Almeida Dias, o documento recomendou que o colégio adote um cronograma para ampliar debates sobre assédio moral e sexual; crie mecanismos de apuração de denúncias de práticas de assédio dentro da instituição; elabore uma cartilha com contatos e informações sobre o atendimento às vítimas; e amplie medidas de acolhimento.

A direção do colégio informou ao MPF que acataria integralmente a recomendação e orientou seus servidores a participarem do curso “Combate aos Assédios e Outras Formas de Discriminação”, da Escola Virtual do Governo.

A coluna entrou em contato com a assessoria comunicação da UFAC na manhã dessa quarta-feira (7/8), mas não teve retorno até o momento. O espaço está aberto a manifestações.

Por Guilherme Amado

Colunista do Metrópoles

 

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