Um dos militares indiciados pela Polícia Federal por tentativa de golpe de Estado, tentativa de abolição do Estado democrático de direito e organização criminosa chegou a brincar com a possibilidade de prisão enquanto discutia planos. As trocas de mensagem do tenente-coronel do Exército Ronald Ferreira de Araújo Júnior estão no relatório final da PF enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Segundo a investigação, após uma reunião realizada no dia 28 de novembro de 2022 para planejar e executar ações voltadas a pressionar os Comandantes do Exército a aderirem ao golpe de Estado, os militares do Batalhão de Forças Especiais, apelidados de “Kids Pretos”, também atuaram na confecção de uma carta com teor antidemocrático denominada “Carta ao comandante do exército de oficiais superiores da ativa do exército brasileiro” que visava pressionar o alto comando do Exército.
O tenente-coronel Sérgio Cavaliere, também indiciado, envia a Ronald nomes de alguns militares que assinaram a referida carta. Ronald, então, comenta: “Já dá para jogar um golzinho no banho de sol”. Em outro momento, este mesmo militar enviar uma imagem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e escreve: “Vamos ser presos por ele”.
“O conteúdo das duas versões [da carta] deixa evidente o objetivo do grupo criminoso de incitar as Forças Armadas e parcela da população a apoiarem uma ação do poder Executivo para ‘restabelecer o estado democrático de direito no país’, um eufemismo para execução do golpe de Estado. Verifica-se novamente a utilização de premissas falsas, como a auditoria do Partido Liberal que teria identificado inconsistências nas eleições presidenciais, para convencimento dos leitores”, ressaltou a PF.
Em nota, a defesa de Ronald disse que indiciamento “não condiz, a toda evidência, com a realidade dos fatos”.
“Militar por vocação, Ronald não participou, a qualquer título, dos supostos crimes investigados, tampouco concorreu, intelectual ou materialmente, para a prática de qualquer conduta voltada à subversão da ordem jurídica do país que sempre procurou dignificar por meio da farda. A defesa, de todo modo, não obstante a conclusão da autoridade policial, confia na análise que será realizada pelo Ministério Público Federal e aguarda o acesso ao relatório da PF para maiores esclarecimentos”, afirmou.
Procurado, Sergio Cavaliere não se manifestou sobre o indiciamento.
Oglobo