Bolsonaro se diz magoado com comandantes militares que o apontam como articulador de golpe

Indiciado pela Polícia Federal por tentativa de golpe, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) se queixou a aliados de um ponto específico do relatório final da investigação: os depoimentos de ex-comandantes das Forças Armadas que relataram terem sido procurados pelo ex-mandatário para aderirem a um plano de ruptura democrática. O ex-chefe do Palácio do Planalto, de acordo com interlocutores, avalia que sua imagem com os militares pode sair prejudicada.

Bolsonaro tem dito que nunca participou de negociações golpistas, mas vê o discurso de “perseguição política” se diluir, dizem pessoas próximas.

A investigação, que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF), teve como um dos principais eixos condutores os depoimentos dos ex-comandantes do Exército, Marco Antônio Freire Gomes, e da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista Júnior. Eles relataram terem se reunido no Palácio da Alvorada com Bolsonaro e Paulo Sérgio Nogueira, então ministro da Defesa.

Na ocasião, o ex-mandatário, segundo o inquérito, apresentou um documento que previa as hipóteses de instaurar Estado de defesa ou de sítio, além de dar início a uma operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO). A minuta golpista seria o primeiro passo para impedir a posse de Lula, de acordo com a investigação.

Nesta segunda, Bolsonaro disse nunca ter tocado no tema com aliados, se disse perseguido por levantar a bandeira conservadora e admitiu a possibilidade de prisão, com base no discurso de “perseguição”.

— Nunca debati golpe com ninguém. Se alguém viesse falar de golpe comigo, eu perguntaria: “E o day after? Como a gente fica perante o mundo?”. A palavra golpe nunca esteve no meu dicionário. Jamais faria algo fora das quatro linhas da Constituição. Dá pra resolver tudo nas quatro linhas — afirmou o ex-presidente ao desembarcar em Brasília após uma temporada em Alagoas.

Questionado se temia ser preso por causa das investigações, o presidente afirmou que pode ser detido a qualquer momento. Na semana passada, a PF deteve quatro generais e um agente da própria polícia federal suspeitos de tramar um golpe.

— Eu posso ser preso agora, ao sair daqui (do aeroporto) —disse.

O ex-comandante do Exército Marco Antônio Freire Gomes disse em depoimento que se opôs aos planos golpistas de Bolsonaro. Ele relatou que foram apresentadas a ele duas versões da minuta do golpe pelo próprio ex-presidente e por Nogueira, avisando que aquilo tinha que ser implementado. O comandante implicou diretamente o ex-presidente na tentativa de golpe.

“Em outra reunião no Palácio da Alvorada, em data em que não se recorda, o então presidente Jair Bolsonaro apresentou uma versão do documento com a decretação do estado de defesa e a criação da comissão de regularidade eleitoral para ‘apurar a conformidade e legalidade do processo eleitoral'”, diz o registro da oitiva de Freire Gomes à PF.

Bolsonaro também teria chamado reservadamente no Alvorada o general Estevam Theophilo, comandante do Coter — comando das Operações Terrestres — com o intuito de mostrar o “firme propósito de implementar o que estava escrito”. O general Theophilo disse que foi à reunião no palácio a mando de Freire Gomes. Contudo, Freire Gomes não confirmou essa informação e disse que a ordem não partiu dele.

O general afirmou ainda à PF que se manifestou contra qualquer ação que impedisse a posse de Lula tanto diante de Bolsonaro como no Ministério da Defesa, em discussões reservadas com generais sobre o assunto.Assim como Freire Gomes, o tenente-brigadeiro Baptista Jr, que ocupou o cargo de comandante da Aeronáutica, também viu as duas versões da minuta do golpe, conforme revelou no depoimento para a PF – e afirmou que, se não fosse a recusa do comandante do Exército, o golpe provavelmente teria ocorrido.

“Indagado se o posicionamento do general Freire Gomes foi determinante para que uma minuta do decreto que viabilizasse um golpe de Estado não fosse adiante respondeu que sim; que caso o comandante tivesse anuído, possivelmente a tentativa de Golpe de Estado teria se consumado”, afirma o registro do depoimento.Ainda de acordo com o depoimento do ex-comandante da Aeronáutica, Bolsonaro teria sido alertado por ele que, se continuasse com a tentativa de golpe de Estado, teria que ser preso por ele.”Em uma das reuniões dos comandantes das Forças com o então presidente após o segundo turno das eleições, depois de o presidente da República, Jair Bolsonaro, aventar a hipótese de atentar contra o regime democrático, por meio de institutos previstos na Constituição (GLO [Garantia da Lei e da Ordem], ou estado de defesa, ou estado de sítio), o então comandante do Exército, general Freire Gomes, afirmou que caso tentasse tal ato teria que prender o presidente da República”, relatou.

Oglobo

Forças do Amazonas apreendem 92 pessoas em ação contra exploração sexual

As Forças de Segurança do Amazonas, em conjunto com órgãos que fazem parte da Rede de Proteção de Crianças e Adolescentes, realizaram, durante o...

Cruzeiro x Fortaleza: horário e onde assistir ao jogo da Copinha Feminina

Cruzeiro e Fortaleza se enfrentam nesta quarta-feira (04), às 17h45 (de Brasília), pela 3ª rodada da Copa São Paulo de Futebol Feminina. A partida...

Análise: Luta da Coreia do Sul pela democracia é longa e sofrida

A Coreia do Sul, país historicamente considerado democrático, foi surpreendida após o decreto de Lei Marcial do presidente Yoon Suk Yeol. Após a Guerra da...