As perspectivas dentro do governo Lula para o futuro do valor do dólar

Em meio a disparadas sucessivas, o dólar fechou a terça-feira (3/12) a R$ 6,05. A equipe econômica do governo Lula (PT) entende que os patamares elevados deverão perdurar por mais tempo, sem estimar um horizonte curto para o país voltar a ter cotações mais baixas.

O secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, atribuiu o câmbio alto a “ruídos internos” decorrentes do processo de compreensão do pacote de corte de gastos e ao cenário internacional “desafiador”, citando especificamente os Estados Unidos (EUA).

O país norte-americano passa por um processo de transição de poder, após a eleição do republicano Donald Trump, que vai substituir o democrata Joe Biden em 20 de janeiro de 2025, e já tem dado sinais de uma política econômica mais protecionista.

Com Trump eleito, risco de juros e dólar em alta aumenta no Brasil

O maior protecionismo americano deve levar a um aumento e valorização do dólar, o que é bom para a indústria brasileira que exporta, mas pode significar crescimento dos juros e da inflação no Brasil e, consequentemente, desvalorização do real.

Além disso, as ameaças de Donald Trump contra os Brics acenderam novos alertas nos últimos dias. O futuro presidente americano cogita a imposição de tarifas elevadas ao bloco econômico caso os países que o integram decidam adotar uma moeda alternativa ao dólar. As declarações geraram temores por um aumento nas tensões geopolíticas, o que favoreceu a aversão ao risco nos mercados globais. Essa situação fortalece o dólar, que é visto como um porto seguro em tempos de instabilidade.

Originalmente composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, o Brics vem discutindo iniciativas transfronteiriças de pagamentos que tornariam mais fácil aos países-membros negociar em suas próprias moedas.

Em cenários como o atual, países emergentes tendem a sentir mais os efeitos das mudanças de rumos, explicou o auxiliar do ministro Fernando Haddad.

“Aumentou o risco de ter um cenário de uma inflação global maior. Isso acaba gerando uma reprecificação de ativos, com uma elevação de riscos e isso tem efeito sobre todos”, argumentou Ceron. “É natural, todas as moedas estão passando por um processo como esse [de depreciação, caso do real]”, completou.

Corte de gastos

O secretário ainda disse que as medidas de revisão de gastos vão “dar consistência para garantir que as coisas continuem bem no país”. “Esse é o compromisso”, frisou.

Essa opinião é compartilhada por outros auxiliares do presidente da República, como próprio vice, Geraldo Alckmin (PSB), que apostou em uma “acomodação do dólar um tanto mais baixa” após o Congresso Nacional aprovar as medidas de corte de gastos.

“Vai ficar claro que se o Congresso dar uma resposta rápida esse mês de dezembro, aprovando as medidas que o governo encaminhou, nós devemos ter uma acomodação do dólar um tanto mais baixa”.

Reforma da renda

O próprio Haddad admitiu na semana passada, após o dólar ultrapassar a barreira de R$ 6 pela primeira vez, que a antecipação da reforma da renda estava causando “ruído”.

“Vamos ver como isso acomoda. À medida que você vai explicando, as pessoas vão entendendo. Havia também uma confusão muito grande em relação à reforma da renda, que eu acredito que seja o que esteja dando o maior ruído. Não são as medidas apresentadas aqui”, disse o ministro na quinta-feira (28/11), depois de reunião com senadores.

Junto ao pacote de ajuste fiscal, o ministro da Fazenda também anunciou o aumento da faixa de isenção do Imposto de Renda (IR). A proposta é que, a partir de 2026, pessoas que ganhem até R$ 5 mil passem a ser isentas do tributo. A intenção de fazer esse anúncio combinado partiu da ala política do governo, na tentativa de minimizar os impactos negativos das “tesouradas” nos gastos.

Essa discussão, ainda que já anunciada de forma antecipada neste ano, deverá ficar para o ano que vem. É o que ministros do governo vêm sustentado nos últimos dias após as reações negativas no mercad.



Fonte: Metrópoles

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