Os avanços na pesquisa sobre o câncer deram aos pacientes oncológicos novas possibilidades de tratamento em 2024. São estratégias mais eficazes e menos agressivas, uma combinação que proporciona melhor qualidade de vida ao doente.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que os diagnósticos de câncer vão crescer 77% em 2050 em relação a 2022, chegando a aproximadamente 35 milhões. O rápido aumento dos casos se deve ao envelhecimento e ao crescimento da população, bem como à maior exposição a fatores de risco como obesidade e tabagismo.
Estratégias mais eficientes para o tratamento e prevenção de recidivas são cada vez mais urgentes. O Metrópoles escutou oncologistas para saber quais terapias se destacaram em 2024 e como elas podem beneficiar a população.
Câncer de pele
O ano de 2024 foi marcado por um passo importante no tratamento do câncer de pele, com a divulgação das imagens do primeiro paciente a receber uma vacina experimental que pode prevenir a recorrência do melanoma, o tipo mais grave da doença.
A terceira fase do estudo do imunizante está sendo feita com pacientes britânicos. A injeção utiliza uma técnica semelhante à tecnologia de mRNA, usada em algumas vacinas contra a Covid-19. Ela é adaptada de acordo com as células de cada indivíduo e tem potencial para ser usada também na prevenção de cânceres de pulmão, rins e bexiga.
A vacina é produzida pelas farmacêuticas Moderna e Merck/MSD e deve ser usada junto com o Keytruda, um medicamento imunoterápico que potencializa a prevenção da doença. Nos testes de fase 2, o risco de morte pelo retorno do tumor em três anos diminuiu 44% em comparação com as pessoas que usaram apenas o remédio.
“Esta vacina é um marco empolgante para visualizarmos como a terapia individualizada pode potencialmente transformar o tratamento da forma mais grave de câncer de pele no futuro”, disse o vice-presidente sênior da Moderna, Kyle Holen, em comunicado à imprensa em abril.
Câncer de pulmão
O câncer de pulmão é um dos tipos de câncer com maior incidência e mortalidade em todo o mundo. A maioria dos casos é diagnosticada em estágio avançado.
Um estudo publicado este ano mostrou benefícios significativos da imunoterapia para pacientes com carcinoma de pequenas células localmente avançado — um subtipo de câncer de pulmão bastante agressivo, 100% relacionado ao tabagismo.
A imunoterapia, em associação com a quimioterapia e radioterapia, aumentou o tempo de vida dos pacientes. De acordo com o oncologista Igor Morbeck, da Oncoclínicas Brasília, esse é o primeiro avanço no tratamento do carcinoma de pequenas células em anos.
“Há mais de três décadas, nada mudava em relação à sobrevida de pacientes com tumores de pequenas células tratados com quimio e radioterapia. Muitos deles têm recidiva e falecem da doença. Agora, a imunoterapia é colocada na linha de frente desse tratamento, melhorando a sobrevida. É uma ótima notícia”, ressalta o médico.
Câncer de mama
Entre os destaques de 2024, o oncologista Gustavo Fernandes, diretor nacional de Oncologia na Rede Dasa, chama atenção para o tratamento de pacientes diagnosticadas com câncer de mama triplo-negativo em estágio precoce.
Fernandes explica que os cânceres de mama triplo-negativo são muito difíceis de tratar por conta da agressividade. Estudos mostraram que a imunoterapia com pembrolizumabe antes da cirurgia aumentou as chances de remissão.
“É uma grande notícia. O pembrolizumabe é um medicamento em uso para outras doenças e que, agora, passa a ser administrado em pacientes com câncer de mama triplo-negativo precoce, mas com a certeza de que há ganho de sobrevida. Essa é uma situação muito desejável na oncologia”, afirma o médico.
Câncer de esôfago
Um estudo apresentado no encontro anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (Asco, na sigla em inglês) deste ano mostrou que um tratamento menos agressivo pode ser mais benéfico do que o padrão para pacientes com câncer de esôfago.
O oncologista Morbeck destaca que o tratamento com quimioterapia seguida por cirurgia mostrou melhores resultados em comparação com o tratamento padrão de quimiorradioterapia seguido de cirurgia.
“Tumores de esôfago são bem agressivos. Tirar a radioterapia é algo importante para os pacientes, porque eu evito toxicidades, efeitos colaterais que são ruins durante o tratamento. A combinação da quimio com a rádio seguida de cirurgia leva os pacientes com tumor de esôfago à uma situação de desnutrição muito importante. Se eu desintensificar o tratamento, a qualidade de vida é melhor”, afirma Morbeck.
Melhora do peso e disposição do paciente
Pacientes com câncer em estágio avançado têm perda de peso, de massa muscular e de energia expressiva. Isso se deve à presença do tumor no organismo, que tira o apetite do doente e libera substâncias que inibem a fome. Esta condição é conhecida como caquexia relacionada ao câncer.
A caquexia está associada a um risco aumentado de morte devido ao enfraquecimento do corpo, tornando o paciente mais vulnerável a infecções e dificultando a resposta aos tratamentos oncológicos.
Pela primeira vez, um medicamento se mostrou eficaz em melhorar a condição clínica desses indivíduos. O ponsegromab é um anticorpo monoclonal que inibe a citocina circulante GDF-15, que tende a ser encontrada em níveis muito elevados em quadros de caquexia relacionada ao câncer. O uso do medicamento mostrou melhora do peso, apetite e energia para se exercitar.
“O ponsegromab conseguiu fazer com que os pacientes comam melhor e tenham um nível maior de atividade e ganho de peso. Esse é um avanço muito significativo. É o primeiro remédio que funciona para essa questão”, afirma Fernandes.
Terapia-alvo
O câncer é uma doença complexa, com muitos subtipos e mutações que exigem tratamentos cada vez mais personalizados. Um dos focos da Asco deste ano foi mostrar os avanços do tratamento com terapia-alvo para diferentes mutações.
Essa abordagem usa drogas ou outras substâncias para atacar especificamente as células cancerígenas, usando como base as mutações genéticas e determinados genes dos tumores. Como resultado, o tratamento provoca poucos danos às demais células do paciente.
A terapia tem alta precisão e pode aumentar a eficácia de seu combate ao enfraquecer o tumor, já que o divide em partes menores. “Isso é extraordinariamente interessante porque você vai fragmentando a doença”, avalia o oncologista Rafael Kaliks, do Hospital Albert Einstein, em entrevista anterior ao Metrópoles.
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Fonte: Metrópoles