Uma paciente de 31 anos é a primeira no país a passar por uma cirurgia de redesignação sexual utilizando técnica robótica. O procedimento foi realizado no Hospital Santa Isabel, em Blumenau, Santa Catarina, no dia 10 de dezembro.
A cirurgia foi conduzida pelo cirurgião José Carlos Martins Junior, especialista em intervenções para a transição de gênero. O procedimento contou com auxílio da cirurgiã Karina Mandeli e do cirurgião abdominal Rinaldo Danesi, especialista em cirurgia robótica.
O uso da robótica oferece uma alternativa menos invasiva e mais precisa para o procedimento de redesignação sexual, especialmente para casos em que há falta de pele suficiente para a construção da vagina ou para corrigir sequelas de cirurgias anteriores mal sucedidas.
Cirurgia com técnica robótica
Em entrevista ao Metrópoles, o cirurgião Martins Junior explicou que a principal técnica utilizada atualmente para a redesignação genital de mulheres trans é a inversão peniana. Nesse procedimento, a pele do pênis e da bolsa escrotal é utilizada para a construção da vagina e do canal vaginal. No entanto, apesar de ser amplamente eficaz, a técnica pode não ser adequada para todas as pacientes.
“A inversão peniana é a técnica padrão, e pode funcionar bem em muitas situações, trazendo bons resultados estéticos e funcionais. No entanto, ela não é indicada para todas. Por exemplo, em mulheres trans que iniciam a transição ainda na adolescência, a falta de crescimento adequado da pele genital pode comprometer a eficácia do procedimento”, explica.
Para esses casos, a cirurgia robótica é considerada uma boa opção. Em vez de utilizar a pele do órgão genital para a construção da vagina, o procedimento utiliza o peritônio, uma membrana fina e resistente que envolve a cavidade abdominal.
“A grande vantagem da técnica robótica é a precisão. Nós conseguimos trabalhar em áreas muito delicadas, ao mesmo tempo, de forma muito mais exata. O robô nos dá uma visão ampliada e permite movimentos muito mais controlados, minimizando o risco de complicações e aumentando a precisão, o que acelera o tempo de recuperação do paciente”, detalha o cirurgião.
A cirurgia teve a duração de cinco horas e foi um sucesso. A paciente se encontra em boa recuperação, sem apresentar queixas pós-operatórias. “É uma cirurgia que fazemos com certa rapidez. Uma inversão peniana tradicional leva cerca de três horas, enquanto a cirurgia robótica dura cinco. Mesmo assim, a recuperação da paciente é muito boa, e ela geralmente fica apenas três dias internada, o mesmo tempo que na inversão peniana”, explica Martins Junior.
Apesar dos avanços, a técnica robótica ainda enfrenta um obstáculo: o custo elevado. O médico destaca que a cirurgia robótica custa 50% mais do que o procedimento tradicional de inversão peniana, devido ao uso de tecnologia de ponta e à necessidade de mais profissionais durante a operação. Uma cirurgia de redesignação do órgão sexual custa em torno de R$ 70 mil.
“Estamos começando a ver convênios médicos liberando a cobertura para esse tipo de procedimento, e isso é um grande passo para garantir que mais pessoas possam ter acesso à opção”, afirma. No caso da paciente que passou pela cirurgia no Hospital Santa Isabel, o procedimento foi coberto por um convênio médico, com a devida justificativa técnica.
Técnica não é indicada para todos os pacientes
Embora a técnica robótica seja vantajosa, a inversão peniana continua sendo a escolha primária para a maioria dos casos, já que oferece bons resultados estéticos e funcionais e é considerada mais segura.
“É uma cirurgia para casos específicos, não uma tendência da moda. A inversão peniana continua sendo a melhor opção para a maioria das mulheres trans. Mas a robótica é uma alternativa importante para casos complicados e, com o tempo, a tecnologia se tornará mais acessível, ajudando muitas pacientes”, conclui.
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Fonte: Metrópoles