O ex-jogador Ronaldo Fenômeno revelou o desejo de ser presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e chegou a declarar que venderia o Real Valladolid, da Espanha, com o intuito de evitar conflitos de interesse. O que Ronaldo manteve escondido é que ele continua sendo dono do Cruzeiro.
O estatuto e o Código de Ética da CBF vedam que presidentes da entidade tenham vínculos com qualquer clube. Ronaldo, portanto, estará infringindo as normas da confederação caso mantenha a intenção de comandar a entidade.
O Metrópoles teve acesso a um contrato firmado em 1º de julho de 2024, que demonstra que Ronaldo manteve sua ligação com o Cruzeiro, mesmo após a venda do clube para a BPW Sports Participações, de Pedro Lourenço, em 29 de abril do mesmo ano.
O ex-jogador, que havia transferido a propriedade da Tara Sports Brasil – controladora de 90% das ações da SAF Cruzeiro – à BPW, manteve um vínculo com o clube por meio de um “instrumento particular de alienação fiduciária de ações em garantia”.
O acordo estabelece que Ronaldo, como “credor fiduciário”, terá direito às ações societárias do Cruzeiro até que o pagamento total de R$ 600 milhões seja concluído em 2035.
Esse valor será quitado em 11 parcelas anuais, com início em 1º de julho de 2025. Até lá, as ações permanecem como garantia de pagamento, transferindo a Ronaldo “todos os direitos e ativos relacionados”, incluindo rendimentos, dividendos e lucros, além de novas ações emitidas em caso de aumento de capital.
Caso a BPW Sports não cumpra o compromisso financeiro, Ronaldo poderá retomar o controle pleno e direto das ações societárias do Cruzeiro e revendê-las a terceiros, sem necessidade de aprovação das partes envolvidas. Essa cláusula está amparada pela legislação do mercado de capitais, especificamente no artigo 66-B da Lei nº 4.728/65.
Embora a BPW e a Tara Sports assumam formalmente a posse das ações, essa condição é limitada à função de depositárias, impedindo-as de vendê-las ou negociá-las sem autorização do Ronaldo. Na prática, isso significa que os compradores ainda não têm domínio efetivo sobre o clube, que permanece sob controle do ex-jogador.
Portanto, Ronaldo só deixará de ser dono do Cruzeiro de fato em 2035, a não ser que Pedro Lourenço pague as demais parcelas de forma adiantada.
Além disso, esse arranjo apresenta semelhanças com o caso do Valladolid, clube espanhol que Ronaldo também controla, configurando um evidente conflito de interesse diante de sua possível candidatura à presidência da CBF.
A candidatura do ex-jogador ao cargo máximo da CBF é impossibilitada pelos vínculos entre ele e os clubes Cruzeiro e Valladolid. As eleições para a presidência da entidade ocorrem em 2026.
Fonte: Metrópoles