Casos de doença renal crônica devem aumentar com avanço da diabetes

Casos de doença renal crônica devem aumentar com avanço da diabetes

Os rins são geralmente lembrados como os órgãos que produzem a urina ou quando pedras incômodas — os cálculos renais — aparecem. Mas o órgão é responsável por várias funções que mantêm o metabolismo do organismo em equilíbrio, como a produção de hormônios.

O estilo de vida inadequado e o descontrole de doenças crônicas, como diabetes, hipertensão e obesidade, contribuem para a perda progressiva da função dos rins, que pode culminar em um diagnóstico de doença renal crônica (DRC).

Em um contexto em que o número de pessoas vivendo com hipertensão passou de 650 milhões para 1,3 bilhão entre 1990 e 2019, e o número de adultos diagnosticados com diabetes ultrapassou 800 milhões, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), espera-se que cada vez mais pessoas desenvolvam problemas renais.

A OMS estima que aproximadamente 10% da população mundial têm algum grau de doença renal crônica. No Brasil, calcula-se que a taxa seja de 6,7% com tendência de crescimento, triplicando em indivíduos com 60 anos ou mais.

O último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, divulgado em outubro de 2024, mostra um aumento de 152,81% no número de registros de atendimentos na atenção primária à saúde (APS) entre 2019 e 2023.

“A doença renal crônica é um retrato do mau controle da diabetes e da hipertensão. É uma doença que vem aumentando progressivamente no mundo inteiro, tanto em incidência quanto em prevalência”, afirma a médica Alessandra Alves de Sousa, nefrologista do Hospital DF Star, da rede D’Or.

A doença renal crônica se caracteriza pela perda gradual da função renal

Doença renal crônica

A doença renal é caracterizada pela perda gradual e progressiva da capacidade dos rins de filtrar o sangue. Quando o problema persiste por mais de três meses, ela passa a ser considerada crônica.

Os rins filtram os resíduos e excesso de fluidos do sangue, que são então excretados na urina. Quando a doença renal crônica atinge um estágio avançado, níveis perigosos de fluidos, eletrólitos e resíduos podem se acumular no corpo, impactando o funcionamento do órgão.

De acordo com o nefrologista Pedro Mendes, coordenador do serviço de nefrologia do Hospital Brasília, o diagnóstico significa que o rim do paciente está funcionando pior do que deveria (abaixo de 60% da capacidade) ou está com algumas alterações, como a perda de albumina na urina.

É uma doença progressiva, que piora ao longo do tempo, e irreversível. “Ela sempre anda para a frente. Por isso é importante ter o diagnóstico precoce, para frear a evolução da doença e dar ao paciente uma vida o mais saudável possível”, afirma o médico.

Estilo de vida

Alessandra atribui o aumento de casos a fatores como o envelhecimento da população e hábitos alimentares prejudiciais à função renal (com o consumo de ultraprocessados), além do aumento da incidência e prevalência de hipertensão e diabetes.

“A doença renal crônica é multifatorial e dentre as principais causas estão a hipertensão, diabetes, obesidade. A partir do momento que essas doenças vão prevalecendo, as pessoas passam a viver com elas. No futuro, aparecem mais complicações, icluindo problemas nos rins”, afirma.

Prevenção

A primeira forma de prevenção da doença renal crônica é o controle de fatores de risco. Alessandra destaca a importância do investimento na atenção primária à saúde.

“É uma doença de saúde pública. Os governos deveriam focar na atenção primária para controlar a hipertensão, a diabetes e, assim, evitar que a doença se agrave no futuro”, afirma a nefrologista.

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A diabetes é uma doença que tem como principal característica o aumento dos níveis de açúcar no sangue. Grave e, durante boa parte do tempo, silenciosa, ela pode afetar vários órgãos do corpo, tais como: olhos, rins, nervos e coração, quando não tratada

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A diabetes surge devido ao aumento da glicose no sangue, que é chamado de hiperglicemia. Isso ocorre como consequência de defeitos na secreção ou na ação do hormônio insulina, que é produzido no pâncreas

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A função principal da insulina é promover a entrada de glicose nas células, de forma que elas aproveitem o açúcar para as atividades celulares. A falta da insulina ou um defeito na sua ação ocasiona o acúmulo de glicose no sangue, que em circulação no organismo vai danificando os outros órgãos do corpo

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Uma das principais causas da doença é a má alimentação. Dietas ruins baseadas em alimentos industrializados e açucarados, por exemplo, podem desencadear diabetes. Além disso, a falta de exercícios físicos também contribui para o mal

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A diabetes pode ser dividida em três principais tipos. A tipo 1, em que o pâncreas para de produzir insulina, é a tipagem menos comum e surge desde o nascimento. Os portadores do tipo 1 necessitam de injeções diárias de insulina para manter a glicose no sangue em valores normais

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Já a diabetes tipo 2 é considerada a mais comum da doença. Ocorre quando o paciente desenvolve resistência à insulina ou produz quantidade insuficiente do hormônio. O tratamento inclui atividades físicas regulares e controle da dieta

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A diabetes gestacional acomete grávidas que, em geral, apresentam histórico familiar da doença. A resistência à insulina ocorre especialmente a partir do segundo trimestre e pode causar complicações para o bebê, como má formação, prematuridade, problemas respiratórios, entre outros

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Além dessas, existem ainda outras formas de desenvolver a doença, apesar de raras. Algumas delas são: devido a doenças no pâncreas, defeito genético, por doenças endócrinas ou por uso de medicamento

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É comum também a utilização do termo pré-diabetes, que indica o aumento considerável de açúcar no sangue, mas não o suficiente para diagnosticar a doença

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Os sintomas da diabetes podem variar dependendo do tipo. No entanto, de forma geral, são: sede intensa, urina em excesso e coceira no corpo. Histórico familiar e obesidade são fatores de risco

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Alguns outros sinais também podem indicar a presença da doença, como saliências ósseas nos pés e insensibilidade na região, visão embaçada, presença frequente de micoses e infecções

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O diagnóstico é feito após exames de rotina, como o teste de glicemia em jejum, que mede a quantidade de glicose no sangue. Os valores de referência são: inferior a 99 mg/dL (normal), entre 100 a 125 mg/dL (pré-diabetes), acima de 126 mg/dL (Diabetes)

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Qualquer que seja o tipo da doença, o principal tratamento é controlar os níveis de glicose. Manter uma alimentação saudável e a prática regular de exercícios ajudam a manter o peso saudável e os índices glicêmicos e de colesterol sob controle

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Quando a diabetes não é tratada devidamente, os níveis de açúcar no sangue podem ficar elevados por muito tempo e causar sérios problemas ao paciente. Algumas das complicações geradas são surdez, neuropatia, doenças cardiovasculares, retinoplastia e até mesmo depressão

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Evolução no tratamento

Até meados de 2016, os principais tratamentos para a doença renal crônica eram feitos com apenas duas classes de medicações que ajudam a retardar a progressão da doença renal, os inibidores da enzima de conversão, voltados para pacientes com algum fator de risco para a doença.

A partir de 2016, o surgimento de uma nova classe de medicamentos destinados ao tratamento da diabetes mudou o jogo para os pacientes de outras doenças.

Estudos com o Ozempic, por exemplo, mostraram um efeito positivo em pacientes com doença renal crônica. A pesquisa publicada na revista Nature Medicine mostrou que a quantidade de proteína na urina reduziu em mais de 50%, assim como o grau de inflamação dos rins e a pressão arterial.

“A nefrologia nunca esteve tão bem servida de terapêutica medicamentosa para tentar retardar a evolução da doença”, afirma Alessandra.

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Fonte: Metrópoles