Você sabe como são escolhidos os nomes dos vírus e doenças? Além de características como sintomas e transmissão, as nomenclaturas podem surgir de locais onde as condições foram identificadas, do tipo de hospedeiro ou de detalhes científicos ligados à estrutura do agente causador.
O infectologista Carlos Starling, vice-presidente da Sociedade Mineira de Infectologia e consultor científico da Sociedade Brasileira de Infectologia, explica que os nomes das doenças infecciosas carregam informações científicas, históricas e culturais. “Em muitos casos, é uma maneira de marcar a origem ou as características do patógeno envolvido”, afirma.
É comum que vírus e doenças sejam nomeados a partir de regiões onde os primeiros surtos foram registrados. Exemplos disso incluem a febre do Nilo Ocidental, que se originou nas proximidades do Rio Nilo, e o vírus da zika, que foi identificado pela primeira vez em Uganda, na África.
Nos tempos antigos, os nomes das doenças costumavam ser baseados nos sintomas visíveis. Um exemplo disso é a varíola, que vem do latim “varius” e significa “manchado”, em referência às erupções cutâneas características da infecção.
“Com o avanço da microbiologia, os nomes passaram a refletir não apenas os sintomas, mas também os patógenos causadores das doenças, como no caso do HIV (vírus da imunodeficiência humana) ou do Streptococcus pyogenes, responsável pela faringite estreptocócica”, conta.
Estigmatização e mudanças nos nomes
No entanto, a origem dos nomes das doenças também pode causar confusão e estigmatização, especialmente quando associada a grupos específicos, regiões ou etnias.
“A gripe espanhola, por exemplo, não teve origem na Espanha, mas esse nome foi utilizado devido à intensa cobertura da imprensa do país sobre o surto. Estigmas também surgiram quando doenças como a aids foram associadas a grupos específicos, como homossexuais e usuários de drogas, dificultando a implementação de políticas de saúde pública eficazes”, destaca Starling.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) e outras entidades, como o Comitê Internacional de Taxonomia de Vírus (ICTV), adotaram critérios mais rigorosos para nomear doenças. A recomendação é evitar associações com lugares, grupos étnicos ou animais, a fim de prevenir o preconceito e promover uma comunicação mais clara e precisa.
Saiba a origem dos nomes de algumas doenças que circulam no Brasil
Coronavírus
O nome “coronavírus” está diretamente relacionado à aparência do vírus. De acordo com a Fiocruz, a palavra “corona” (que vem do latim e significa “coroa”) descreve a forma do vírus, que tem pontas ou espinhos em sua superfície, lembrando uma coroa quando visto no microscópio. Já o nome da doença, “Covid-19”, é uma junção de “coronavirus disease” (doença do coronavírus) com o ano de 2019, quando o vírus SARS-CoV-2 foi identificado.
O “SARS-CoV-2” faz referência a “coronavírus que causam Síndrome Respiratória Aguda Grave”, sendo o “2” uma alusão a um vírus semelhante que surgiu em 2003, o SARS-CoV-1.
Chikungunya
O nome “chikungunya” vem da língua Makonde, do sudeste da Tanzânia, e significa “aqueles que se contorcem” ou “aqueles que se dobram”, como explica a Organização Mundial da Saúde (OMS). O nome faz referência à dor intensa nas articulações causada pela infecção, que afeta principalmente punhos, tornozelos e cotovelos, deixando os pacientes extremamente debilitados.
O vírus foi identificado pela primeira vez em 1950, após um surto na Tanzânia, e inicialmente foi confundido com a dengue.
Dengue
A origem da palavra “dengue” remonta ao século 18, na Espanha, onde o termo era usado para descrever uma condição de fragilidade ou delicadeza, possivelmente em referência ao estado debilitado dos pacientes infectados, que apresentavam dores no corpo e se moviam com cuidado.
A palavra tem origem no espanhol, mas também pode derivar de termos africanos como “ndenge”, da língua quimbundo, que significa “recém-nascido” ou “choradeira”, ou do suáíli “ka-dinga pepo”, que se traduz como “cãibra de início súbito”.
Zika
O vírus zika recebeu seu nome da floresta onde foi encontrado pela primeira vez: a floresta Zika, em Uganda, na África. Identificado em 1947 a partir de amostras de um macaco rhesus, o vírus infectou o ser humano pela primeira vez em 1952.
No Brasil, o zika é transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, o mesmo vetor da dengue e da chikungunya. A infecção é especialmente preocupante durante a gestação, já que pode causar microcefalia em recém-nascidos.
Influenza
O termo “influenza” vem do italiano e significa “influência”. O Butantan explica que o primeiro uso médico da palavra ocorreu em 1358. O historiador italiano Matteo Villani associou a doença a uma “influência oculta dos céus”, uma crença popular da época.
Originalmente, a palavra era usada para descrever qualquer doença contagiosa, mas a partir do século 15 passou a se referir apenas à gripe. No século 18, com epidemias se espalhando pela Europa, o termo se internacionalizou, e, na mesma época, surgiu a versão abreviada em inglês, “flu”. Em português, o termo “influenza” foi adotado no século 19.
Febre amarela
A febre amarela recebeu esse nome devido à icterícia, uma condição que faz com que a pele e os olhos dos infectados adquiram uma coloração amarelada. O sintoma é causado por níveis elevados de bilirrubina no sangue, que é liberada quando os glóbulos vermelhos se desintegram.
De acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), a doença é caracterizada por febre súbita e pode ser fatal, especialmente quando afeta o fígado.
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Fonte: Metrópoles