Farmácias de manipulação podem vender Ozempic e Mounjaro? Entenda

Farmácias de manipulação podem vender Ozempic e Mounjaro? Entenda

Anúncios de medicamentos manipulados para perda de peso têm se espalhado pelas redes sociais. Usando o nome de remédios famosos como Wegovy e Mounjaro, profissionais de saúde prometem versões acessíveis das fórmulas patenteadas, mas a venda dos produtos é ilegal.

Alguns estabelecimentos usam de má fé e se aliam a médicos também mal intencionados para vender anabolizantes, remédios para emagrecer e outros, colocando em risco a saúde dos usuários em prol do lucro. Mas, afinal, quais são os limites?

Ozempic feito em farmácia

No caso do Ozempic e Wegovy, os remédios estão à venda no Brasil, mas isso não basta para a sua manipulação, que deve ser receitada individualmente e comunicada ao fabricante.

Na internet, as farmácias dizem fabricar a semaglutida em larga escala, alegando que o consumidor teria acesso a uma versão mais barata do Ozempic. É proibido vender uma versão manipulada idêntica, com a mesma fórmula e quantidade, do medicamento referência disponível no mercado.

A função das farmácias de manipulação é produzir medicamentos personalizados, ajustando doses e combinações conforme prescrição médica.

O farmacêutico Antônio Geraldo, conselheiro do Conselho Federal de Farmácia (CFF), membro do Grupo de Trabalho sobre Farmácia Magistral, explica que elas são fundamentais para personalizar o acesso à saúde.

“Alguns pacientes precisam usar medicamentos que são vendidos apenas em versões sólidas, mas possuem problemas de deglutição. A farmácia de manipulação faz uma versão líquida, por exemplo. Para pessoas que usam antidepressivos e querem fazer um desmame com doses que vão diminuindo lentamente, é preciso fazer um fracionamento adequado. Há mil exemplos como esses”, afirma Geraldo.

Por isso, as farmácias de manipulação devem seguir receitas personalizadas e sempre usar insumos importados legalmente segundo as regras da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Em nota enviada ao Metrópoles, a Novo Nordisk afirma que deveria ser notificada das necessidades de manipulação para pacientes, o que não tem sido feito. A fabricante alerta que versões manipuladas à venda atualmente podem colocar em risco a saúde dos pacientes.

“Para oferecer doses individualizadas e diferentes das já distribuídas pela Novo Nordisk, é necessária uma justificativa formal do médico prescritor e validação da Anvisa e da Novo Nordisk, que não foi procurada, se tratando de infração da patente e também das normas sanitárias. Não existem pesquisas clínicas ou estudos válidos que comprovem eficácia e segurança de doses diferentes das apresentadas em mercado”, diz o texto.

Existe Mounjaro manipulado?

O Mounjaro, medicamento cujo princípio ativo é a tirzepatida, foi aprovado pela Anvisa, mas ainda não está disponível no Brasil. A Eli Lilly, fabricante do fármaco, é a única fornecedora legal da substância e não vende para farmácias de manipulação — portanto, seria impossível produzir o Mounjaro manipulado.

Segundo o diretor médico sênior da Eli Lily, Luiz Magno, não há versão genérica ou manipulada autorizada e produtos clandestinos podem conter impurezas e substâncias desconhecidas.

“A Lilly investigou amostras desses produtos em todo o mundo e identificou que eles apresentavam problemas de segurança, esterilidade e eficácia. Alguns continham bactérias, altos níveis de impurezas, cores diferentes (rosa em vez de incolor) ou uma estrutura química completamente diferente dos medicamentos aprovados. Em pelo menos um caso, o produto não passava de álcool de açúcar”, afirma ele.

Farmácias de manipulação podem alterar fórmulas, mas com justificativas para atender pacientes individualmente

Fiscalização mais atenta

Geraldo destaca que o Brasil tem legislação rigorosa para farmácias de manipulação, mas defende uma fiscalização mais ativa. “O CFF está atento, assim como o Conselho Federal de Medicina (CFM), mas precisamos de estratégias para intensificar as punições e autuar de forma mais ativa os que agem de má-fé vendendo produtos falsos e clandestinos”, afirma.

“Temos uma legislação de controle das farmácias de manipulação que é exemplo em todo o mundo. O que precisamos é de uma fiscalização um pouco mais atenta aos maus profissionais que acabam se desviando da prática correta”, reforça.

Tire dúvidas sobre farmácias de manipulação

1. O que são farmácias de manipulação?

Estabelecimentos que produzem medicamentos personalizados, conforme prescrição de profissionais habilitados. A manipulação permite ajustar a fórmula de acordo com as necessidades individuais do paciente.

2. O que são remédios manipulados?

São fármacos com composição, dosagem e forma especificadas para cada indivíduo. Eles são preparados na própria farmácia pelo farmacêutico. A fórmula pode ser retirada do Formulário Nacional ou de referências internacionais distribuídas por revendedores reconhecidos pela Anvisa.

3. A mesma fórmula pode ser usada para vários pacientes?

Não. A manipulação é personalizada, levando em conta características individuais. Cada fórmula é preparada para um paciente específico, com base na prescrição do profissional de saúde. A comercialização em escala ou publicidade sugerindo uso amplo não é permitida.

4. Farmácias de manipulação podem fazer propaganda?

Depende. Não pode ser feita a divulgação de medicamentos manipulados, especialmente usando os nomes dos remédios de referência para o público geral. Entretanto, elas podem fazer anúncios sobre os serviços prestados, sem mencionar princípios ativos ou produtos específicos que tenham à disposição.

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Fonte: Metrópoles