A atriz Fernanda Montenegro, 95, leu uma carta aberta para a filha, Fernanda Torres, 59, após ela ganhar o prêmio de Melhor Atriz de Filme Dramático, no Globo de Ouro, no último domingo (5).
“Desde os 12 anos, no grupo Tablado, de Maria Clara Machado, a Nanda já acontece como um ser criativo. Cinicamente, é uma vocacionada desde cedo. No filme ‘Inocência’, de 1983, direção de Walter Lima Jr, a atriz se apresenta plenamente. Eu lembro alguns de seus importantes filmes: ‘A Marvada Carne’, direção de André Klotzel. Lembro de ‘Eu Sei Que Vou Te Amar’, de Arnaldo Jabor, que lhe deu o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cannes em 1986”, começou Fernanda Montenegro na carta.
“Como mãe e filha, ou filha e mãe, nós fizemos ‘Fogo e Paixão’, ‘Traição’, ‘Redenção’, direção de Claudio Torres, ‘Casa de Areia’, direção de Andrucha Waddington, filme de aceitação e premiações internacionais.Tendo como base o teatro, estivemos juntas muitas vezes, nos palcos deste país, e em palco além fronteira”, relembrou.
“Fernanda é comprovadamente escritora e cronista respeitada, lida. Lida! O prêmio do Globo de Ouro reconhece, pontua e ilumina essa grande atriz brasileira que é Fernanda Torres.É um fato difícil de se alcançar. Eu sei na pele. Como artistas criadores, nós somos representantes de uma cultura altamente referencial, mas abaixo da linha do equador”, continou a atriz.
“De vez em quando nós conseguimos atravessar essa linha, temos o reconhecimento do nosso talento amplo e irrestrito. De pé, vi minha filha comovida e agradecida. Eu aplaudo Fernanda Torres. Bravo, minha filha, bravo!”, concluiu Fernanda Montenegro.
Fernandona, carinhosamente apelidada pelos fãs, leu a carta durante entrevista ao canal GloboNews, nesta segunda-feira (6).
Torres ganhou o prêmio por sua atuação no longa “Ainda Estou Aqui”, dirigido por Walter Salles e inspirado no livro de mesmo nome de Marcelo Rubens Paiva, no qual ele conta a história real de sua família.
O filme acompanha a trajetória da mãe de Marcelo, Eunice Paiva (Fernanda Torres), que precisa reorganizar sua vida e a vida dos filhos depois que seu marido, Rubens Paiva (Selton Mello), é levado por militares durante a ditadura militar no Brasil e some sem deixar rastros.
Fernanda Torres mostrou sua potência como atriz e está recebendo o reconhecimento internacional da indústria por sua interpretação de Eunice Paiva, mas ela não foi a primeira escolha de Walter Salles para o papel.
Fernanda Montenegro já concorreu ao Globo de Ouro em 1999 por sua atuação no filme “Central do Brasil”, mas perdeu a estatueta para Cate Blanchett, que era protagonista do longa-metragem “Elizabeth”. Contudo, o filme de Walter Salles ganhou como Melhor Filme Estrangeiro.
Na época, Salles, Fernandona e Vinicius Oliveira subiram ao palco para receber a honraria. Por este motivo, Torres fez questão de salientar que a mãe tinha subido no mesmo palco 25 anos antes. Em um discurso de improviso, a veterana disse na época:
“Meu inglês não é bom, mas minha alma é melhor. Vocês escolheram. Em nome de nosso produtor Arthur Cohn, um verdadeiro leão, Walter Salles, um maravilhoso diretor, Michael Barker, Tom Bernard e Marcy Bloom, da Sony Classics, muito obrigado por seu apoio a ‘Central do Brasil’. Estou muito, muito feliz que nosso filme foi tão bem recebido e tocou seus corações. Muito obrigada”, disse.
Pouco tempo depois, o nome de Fernanda apareceu indicada como Melhor Atriz — um feito inédito para o Brasil — no Oscar de 1999. “Central do Brasil” também foi indicado como Melhor Filme Estrangeiro, mas nenhum dos dois levou o prêmio.
Globo de Ouro: Fernanda Torres faz história e vence como Melhor Atriz
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