O secretário judicial Warwick Smith, 67, perdeu as cordas vocais após ter um câncer de laringe diagnosticado tardiamente. Os médicos confundiram os sintomas com os de garganta inflamada.
Conhecido entre os amigos por sua voz potente, Smith percebeu que algo estava errado com sua garganta ao notar uma rouquidão persistente. Ele procurou médicos de atenção básica que disseram para ele não se preocupar, mesmo que seu irmão tivesse morrido de câncer de garganta dois anos antes.
Após alguma insistência, o inglês foi inscrito em uma lista de espera para fazer uma ressonância no pescoço, mas só apareceu uma vaga (depois de uma desistência de última hora) sete meses depois, em outubro de 2022.
Tratamento intenso
Foi quando ele descobriu que seu câncer estava em estágio quatro (o mais avançado) e que tinha um prognóstico de apenas seis meses de vida a menos que passasse por uma cirurgia radical: a laringectomia total.
O procedimento remove totalmente a laringe, parte do corpo que contém a abertura da traqueia e as pregas vocais. O procedimento foi marcado para dezembro e levou 10 horas para ser feito.
O tratamento foi seguido por quimioterapia diária ao longo de seis semanas e uma radioterapia intensiva. A remoção da laringe deixou Smith dependente de uma prótese traqueoesofágica para falar.
Além de perder parte de sua capacidade de comunicação, o homem teve dificuldade para se alimentar, já que a laringe também tem como função isolar os pulmões dos alimentos. Por isso, até hoje ele faz uma dieta especial, essencialmente líquida.
Demora no diagnóstico
O cirurgião de cabeça e pescoço Carlos Santa Ritta, de Brasília, explica que não se deve ignorar sintomas de rouquidão persistente como o que ocorreu com Smith.
“O ideal é que, ao apresentar um padrão de voz diferente e persistente, a pessoa procure um otorrinolaringologista ou fonoaudiólogo. A rouquidão persistente pode ser um indício de lesão na prega vocal e deve ser avaliada por um exame de videolaringoscopia”, alerta.
Quanto mais precoce for o diagnóstico, maior é a probabilidade de preservação da laringe. “Se for apenas em uma prega vocal, o cirurgião pode optar pela cirurgia parcial, com menor risco de impactar na capacidade do paciente de deglutição e de fala”, orienta.
Nova realidade e desafios diários
A vida após a cirurgia trouxe mudanças drásticas para Smith. Durante a noite, ele precisa acordar a cada quatro horas para limpar a válvula da prótese. Além disso, ele ficou dois anos sem paladar.
Apesar das dificuldades, o inglês se considera satisfeito. Agora em remissão, ele participa de um grupo de apoio e dedica-se a arrecadar fundos para ajudar outros pacientes e tornar os exames de diagnóstico mais acessíveis do que foram para ele.
Smith já arrecadou 25 mil libras (aproximadamente 185 mil reais). O dinheiro será destinado à compra de um scanner de ultrassom portátil para auxiliar na detecção precoce do câncer.
“Fui diagnosticado sete meses após minha primeira consulta. Quando isso aconteceu, o câncer já estava no estágio 4. Se houvesse um scanner, esse atraso teria sido evitado”, afirma ele na campanha de arrecadação.
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Fonte: Metrópoles