Eventos climáticos extremos estão comprometendo o progresso no combate ao HIV, aponta um estudo publicado na segunda-feira (6/1). A pesquisa revela como desastres naturais como enchentes e secas mais severas estão dificultando o acesso à prevenção, testes e tratamentos, colocando em risco os avanços do combate à aids das últimas décadas, especialmente no continente africano.
O estudo foi divulgado na revista Current Opinions in Infectious Disease e conduzido por pesquisadores da Universidade de Toronto, no Canadá. Foram revisadas 22 investigações publicadas entre 2022 e 2024 que exploraram os efeitos das mudanças climáticas nas infecções sexualmente transmissíveis (ISTs).
A relação das mudanças climáticas com o HIV
O estudo identificou que secas, inundações e outros eventos climáticos extremos estão associados à redução das possibilidades de acesso aos testes de HIV, aos preservativos, e ao aumento de comportamentos de risco como a troca de sexo por favores econômicos.
“Eventos climáticos extremos causam danos estruturais à infraestrutura de assistência médica e aumentam a migração e o deslocamento, ambos interrompendo o acesso a clínicas de HIV para prevenção e teste. Também vemos aumentos em práticas que aumentam o risco de HIV devido à escassez de recursos”, resume a autora principal do estudo, Carmen Logie, em comunicado à imprensa.
As políticas de prevenção do HIV incluem frentes múltiplas, mas que precisam de uma infraestrutura de saúde que tem sido destruída por mudanças climáticas. Nas enchentes do Rio Grande do Sul de 2024, por exemplo, o atendimento a pelo menos 3,4 mil pessoas vivendo com HIV/aids foi prejudicado e o governo do estado precisou fazer uma força-tarefa para impedir que as pessoas ficassem sem o antirretroviral.
Apesar dos impactos globais das mudanças climáticas, os estudos analisados por Logie se concentraram em maior medida no contexto do continente africano, que concentra 54% da população mundial vivendo com o vírus. Lá, situações como insegurança alimentar e migrações forçadas devido às prolongadas secas causadas pelo aquecimento global expuseram as populações a um risco elevado de contato com o HIV.
Para as pessoas que já vivem com a doença, muitas tiveram uma pior adesão ao tratamento em consequência das alterações do clima, o que levou a um aumento significativo médio da carga viral. Esta alta é um dos fatores associados a um eventual aparecimento da aids em pessoas com o HIV.
A autora do estudo destacou que as mudanças climáticas obrigam os governos a pensar em novas estratégias multiníveis, como terapias de longa duração e distribuição comunitária de medicamentos, para mitigar a situação. “Intervenções inovadoras de HIV, como PrEP de ação prolongada, farmácias móveis e clínicas de saúde, e intervenções que reduzem a insegurança alimentar e hídrica podem contribuir para melhorar o tratamento de HIV durante eventos climáticos extremos”, explicou Carmen.
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Fonte: Metrópoles