Este 29 de janeiro marca a primeira “superquarta” de 2025, termo usado no mercado financeiro quando coincidem as divulgações sobre as taxas de juros no Brasil e nos Estados Unidos (EUA). A seguir o Metrópoles explica o que está em jogo.
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) e o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), do Federal Reserve (Fed, o BC dos Estados Unidos), divulgam na tarde desta quarta-feira (29/1) suas respectivas taxas de juros.
A expectativa é de que as decisões devem caminhar em direções opostas. Espera-se que o Banco Central do Brasil eleve a taxa básica de juros (a Selic), em até 1 ponto percentual, pela quarta vez seguida. Já o Fed mantém inalterado o intervalo da taxa de juros norte-americano, contrariando a política monetária defendida pelo presidente dos EUA, o republicano Donald Trump.
Entenda a situação da taxa de juros no Brasil:
- A taxa Selic é o principal instrumento de controle da inflação, que ficou acima do teto da meta em 2024;
- Em 2024, a taxa básica de juros do país (a Selic) ficou em 12,25% ao ano – voltando ao mesmo patamar de novembro de 2023. Esse foi o terceiro aumento consecutivo na taxa de juros;
- Além de ser a primeira reunião do Copom no ano, esta quarta marca o primeiro debate da taxa Selic sob o comando de Gabriel Galípolo, indicado pelo presidente Lula (PT) para comandar o BC até 2028;
- A expectativa é de novas altas nos juros ainda nos primeiros meses deste ano. Isso porque, na última ata do Copom, o BC adiantou que deveria fazer mais duas elevações, de pelo menos 1 ponto percentual, na taxa Selic no começo de 2025;
- O mercado financeiro estima que a Selic ficará em 15% ao ano até o fim de 2025, segundo o relatório Focus;
- Assim como o próprio Banco Central, analistas financeiros projetam um aumento de 1 ponto percentual na taxa de juros, que passaria dos atuais 12,25% ao ano para 13,25% ao ano;
- Projeções mais recentes mostram que o mercado financeiro desacredita em um cenário em que a taxa de juros volte a ficar abaixo de dois dígitos durante o governo Lula (PT), que termina em 2026, e do mandato de Gabriel Galípolo à frente do BC.
O Comitê de Política Monetária decide a taxa básica de juros do país, a Selic, que ficará vigente pelos próximos 45 dias, quando o colegiado do Banco Central se reúne novamente.
No Brasil, a expectativa é de novas altas nos juros. No ano passado, o Copom adiantou a contratação de mais duas elevações, de até 1 ponto percentual, na taxa Selic ainda no começo de 2025. Ou seja, nas reuniões de janeiro e março.
Sabendo disso, a taxa Selic poderá chegar a 14,25% ao ano ainda nos primeiros meses deste ano.
A decisão do comitê será anunciada em meio à sombra do descumprimento da meta de inflação, da pressão dos preços dos alimentos e da valorização da taxa de câmbio (dólar frente ao real).
Enquanto no Brasil a expectativa é de alta, nos Estados Unidos o mercado financeiro espera a manutenção do intervalo de juros, apesar da pressão do presidente Donald Trump para o corte nos juros.
Vale destacar que o cenário externo será considerado no balanço de riscos do Copom. Mas, ainda não há pistas do que o Fed decidirá: manter ou reduzir juros. A expectativa dos investidores é que o Fomc mantenha os juros no intervalo entre 4,25% e 4,5%.
Na última reunião de 2024, o Banco Central dos EUA decidiu cortar os juros em 0,25 ponto percentual. Com isso, fechou o ano com um intervalo entre 4,25% e 4,50% ao ano (antes era de 4,50% a 4,75% ao ano). Esta foi a última reunião do comitê de 2024.
O que economistas dizem sobre a “superquarta”
Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad Global, avalia que na primeira superquarta de 2025 “palavras deverão pesar mais que números”. Ao Metrópoles, ele ressaltou que nos EUA é esperado uma parada técnica — isto significa a manutenção do atual intervalo de juros —, enquanto no Brasil o BC adiantou um aumento de 1 ponto percentual.
Com isso, “não havendo surpresas com relação aos juros, o que importará serão os comunicados”, afirmou Igliori.
“Ao final da superquarta é praticamente certo que aumentaremos o diferencial de juros entre os dois países e que seguiremos em 2025 com políticas monetárias em direções opostas (aperto cá, afrouxamento lá)”, resume o economista.
De acordo com Igliori, o foco:
- nos EUA será para verificar como serão sinalizados novos pontos de atenção sobre a resistência da inflação em convergir para a meta e, particularmente, se serão feitas menções a potenciais medidas do novo governo;
- no Brasil também tentará antecipar o ritmo de aumento e nível terminal da Selic no ciclo de aperto monetário (aumento dos juros).
Ainda sobre o cenário dos EUA, o economista da Nomad ressalta que maiores preocupações com a dinâmica inflacionária poderão produzir mudanças nas projeções sobre o ciclo de afrouxamento monetário.
Atualmente, as estimativas indicam para cortes entre 0,50 e 0,75 ponto percentual nos juros dos EUA ao longo de 2025.
No cenário interno, Igliori destaca o papel de Gabriel Galípolo na comunicação após a primeira reunião do Copom. Ele ainda cita que, desde a última reunião do colegiado do BC (em dezembro de 2024), houve mais deterioração nas expectativas para a inflação deste ano, bem como não ocorreram “avanços nas discussões sobre ajustes fiscais” nas contas públicas.
“Essa será a primeira reunião com Galípolo na função de presidente e terá especial interesse verificar a existência de eventuais mudanças no teor da comunicação. Em particular, será relevante para os movimentos de mercado a manutenção de informações sobre o curso dos ajustes futuros para a Selic (o chamado forward guidance)”, explica.
Para Johnny Mendes, professor da Faculdade ESEG, do Grupo Etapa, o mercado financeiro reagiu à contratação de mais duas elevações da taxa Selic “de forma positiva”. Ainda segundo ele, o “Banco Central está reagindo coerente com as suas decisões, mesmo antes do Galípolo assumir como novo presidente”.
Ele entende que Galípolo tem seguido a mesma linha de raciocínio da política monetária de Campos Neto e, por isso, o mercado está reagindo positivamente. “Seria ruim se ele [Copom] já não tivesse indicado que haveria esse aumento da taxa Selic, depois das confirmações que vem acontecendo nos últimos meses do aumento da taxa da inflação”, analisa.
Com a possibilidade da Selic chegar próximo dos 15% ao ano ainda no início de 2025, Mendes acredita que o governo terá que desenvolver políticas para amenizar o aumento da inflação e combater a perda do poder de compra da população.
“Isso não é simples, mas o fato de já termos contratado duas altas já no início desse ano vai fazer com que o governo Lula tenha ou crie alternativas para tentar mitigar ou tentar deixar menos relevante essa perda de poder de compra”, completa.
Mercado não vê Selic abaixo dos dois dígitos até 2028
Segundo o relatório Focus mais recente, o mercado financeiro manteve inalterada a projeção da taxa de juros para o fim deste ano. A estimativa dos economistas segue em 15% ao ano, como no relatório anterior.
Ao elevar a Selic para conter a inflação, a consequência esperada é a redução do consumo e dos investimentos no país. O crédito fica mais caro e a atividade econômica tende a desaquecer, provocando queda de preços para os consumidores.
Outro tópico de destaque no relatório Focus é a descrença do mercado financeiro da Selic ficar abaixo de dois dígitos durante o governo Lula (PT) e do mandato de Galípolo. Confira as previsões da taxa:
- 2025: 15% ao ano.
- 2026: 12,50% ao ano (último ano da gestão Lula).
- 2027: 10,38% ao ano.
- 2028: 10% ao ano (fim do mandato de Galípolo no BC).
Além da pressão do mercado, Galípolo terá que lidar com as cobranças do presidente Lula e da base governista. Os petistas têm sido vocais nas críticas contra o atual patamar dos juros e da condução da política monetária brasileira que, anteriormente, era comandada por Roberto Campos Neto — antigo chefe do BC, indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Calendário do Copom
Janeiro
- Reunião do Copom: 28 e 29 de janeiro
- Divulgação da ata do Copom: 4 de fevereiro
Março
- Reunião do Copom: 18 e 19 de março
- Divulgação da ata do Copom: 25 de março
Maio
- Reunião do Copom: 6 e 7 de maio
- Divulgação da ata do Copom: 13 de maio
Junho
- Reunião do Copom: 17 e 18 de junho
- Divulgação da ata do Copom: 24 de junho
Julho
- Reunião do Copom: 29 e 30 de julho
- Divulgação da ata do Copom: 5 de agosto
Setembro
- Reunião do Copom: 16 e 17 de setembro
- Divulgação da ata do Copom: 23 de setembro
Novembro
- Reunião do Copom: 4 e 5 de novembro
- Divulgação da ata do Copom: 11 de novembro
Dezembro
- Reunião do Copom: 9 e 10 de dezembro
- Divulgação da ata do Copom: 16 de dezembro
Fonte: Metrópoles