Triatleta de vídeo motivacional viral detalha luta contra depressão

Triatleta de vídeo motivacional viral detalha luta contra depressão

Leonardo Lopes é taxista no Rio de Janeiro. Mas também se apresenta como triatleta, já que todos os dias ele compartilha nas redes sociais sua rotina no esporte, a forma que encontrou para combater a depressão.

Seu vídeo mais famoso já passa das 200 mil visualizações em uma semana de publicação no Instagram. Nele, Leonardo chora enquanto se veste para pedalar. No relato, Leonardo diz que parte dele queria desistir, ficar deitado na cama para derramar mais lágrimas, mas a outra parte reconhece que a luta contra a doença é diária e exige sacrifícios.

A prática de esportes é cientificamente comprovada como um bom aliado no combate à doença, pois ativa a liberação de neurotransmissores como serotonina e endorfina, substâncias que aliviam os sintomas depressivos e trazem uma sensação de bem-estar. A atividade, porém, é apenas uma parte do tratamento.

“Desde a infância, senti tristeza profunda pela finitude da vida. Tentei tirar minha vida duas vezes. Busquei ajuda em religiões e psiquiatras, mas nada funcionou. Perguntei à minha família o que havia de errado comigo. Não tenho traumas, mas os sintomas me atacam de forma repentina. Ela fica à espreita, quando eu menos espero, me vejo em lágrimas nos cantos da casa”, destaca Leonardo.

Depois de muitos remédios e de três anos do primeiro diagnóstico, uma amiga chamou o taxista para correr na praia. Ele diz que achou mágico e quis dobrar o desafio. Tentou se inscrever em uma maratona de 21 km, mas o período para se registrar já havia encerrado. Leonardo decidiu participar apesar da falta de inscrição e completou a prova em 1h37m. Ainda voltou para o táxi, que havia deixado estacionado próximo ao local da largada da prova.

“Uma família que estava lá para a maratona queria que eu os levasse para casa. Eu aceitei a corrida e o pai percebeu que eu estava suado por também ter realizado prova. O filho me perguntou onde estava a minha medalha e eu respondi (que não estava oficialmente inscrito para aprova). Ele disse: ‘sem problemas. Eu achei esse número de inscrição no chão’. Sem que eu pedisse, ele abriu mão da própria medalha e a colocou no meu pescoço. Eu comecei a chorar”, conta o triatleta.

Conexão visceral com o corpo

Segundo a psicóloga Sílvia Oliveira, que atua como psicanalista em Brasília, depressão é um estado psíquico que se revela por meio de sentimentos de vazio, culpa e desesperança, acompanhados pela dificuldade de encontrar sentido na vida. E o triatlo pode ser um importante aliado na batalha.

“O triatleta, em sua rotina de treino, descobre uma conexão visceral com o corpo. Esse encontro é mais do que físico; é um ato de reconquista de si mesmo. Porém, o mais importante é o simbolismo desse movimento: é o corpo, muitas vezes negligenciado ou desprezado pelo sujeito deprimido, sendo ressignificado como um espaço de potência e reconstrução”, destaca Silvia.

Leonardo reconhece que o esporte não vai curar a depressão, apenas ajudar a vencê-la por mais um dia. Ele diz que não levanta da cama por si, mas encontra motivação na família, nos amigos, na filha ou nos colegas de treino. A depressão é uma luta constante para o triatleta. Tem dias que são mais fáceis, outros mais difíceis.

“Não estou aqui para ser um herói, mas para compartilhar minha história. Não é sobre cruzar a linha de chegada, mas sim sobre o trajeto. Quero inspirar outros a falar sobre suas lutas. Não desista. Fale sobre sua luta. Busque ajuda. Você não está sozinho”, afirma Leonardo.


Fonte: Metrópoles