O escritor Neil Gaiman, 64 anos, autor de obras amadas por muitos como “Coraline” e “Sandman”, atualmente é alvo de escândalos e processos judiciais nos Estados Unidos (EUA) após a antiga babá de seu filho, Scarlett Pavlovich, 27 anos, levar o autor e a ex-esposa à Justiça americana, acusando-os de uma série de crimes como abuso sexual, estupro e tráfico humano.
Scarlett é uma das oito mulheres que denunciou os abusos do escritor britânico. Publicadas pela revista Vulture em janeiro, as denúncias narram Gaiman como um obcecado sexual que abusava física e mentalmente das vítimas para satisfazer suas fantasias.
Veja as fotos
Segundo narra o processo, Scarlett conheceu a esposa de Neil Gaiman, a cantora Amanda Palmer, 44, por acaso enquanto ambas caminhavam pelas ruas da cidade de Auckland, na Nova Zelândia. Scarlett era uma admiradora de Palmer e decidiu arriscar a sorte e puxar assunto com a artista.
Dias depois, Palmer mandou uma mensagem à Scarlett: “Aqui é a Amanda, sua nova amiga”. A amizade das duas durou cerca de um ano e meio, em que em troca de convites para shows e festas com outras celebridades, Scarlett realizava pequenas tarefas para Palmer, entre elas substituir a babá do filho da cantora com o escritor.
Neil Gaiman morava em Waiheke, uma cidade vizinha a Auckland. O casal, hoje em processo de divórcio, vivia em casas separadas. Em seu primeiro dia, Scarlett teria que esperar na casa de Gaiman até que Palmer chegasse com o filho de cinco anos.
Durante a estadia de Scarlett, Gaiman se esforçou para causar uma boa impressão à nova babá, e ofereceu frutas caras, pizza e taças de vinho. O escritor inclusive insistiu que a moça se banhasse na banheira que decorava o jardim da residência.
Minutos depois de tirar a roupa e entrar na água, Scarlett ficou surpresa ao ver Gaiman pelado no jardim. Ele acendeu velas e coagiu a babá para que tivessem relações sexuais, descritas como violentas e humilhantes.
“Amanda [esposa de Gaiman] me disse que eu não poderia ter você. Mas eu sabia que tinha que te ter. Queria que fosse que nem nos velhos tempos, onde ambos poderíamos transar com você”, teria dito Gaiman a Scarlett após cometer o crime.
Scarlett estava falida, não tinha contato com a família que morava em outro país e estava desabrigada após a pandemia do COVID-19, época em que o caso ocorreu. Mesmo após a primeira violência, ela ainda assim continuou como babá da família, a pedidos de Amanda Palmer.
Os abusos sofridos por Scarlett foram descritos pela revista Vulture e podem ser sensíveis a certos leitores. Segundo os relatos da jovem, além de ser obrigada a participar de relações sexuais forçadas, Gaiman a humilhava e a assediava na frente do filho de cinco anos.
As violências só chegaram ao fim após Scarlett finalmente contar o que acontecia à Amanda Palmer. A artista afastou a jovem do trabalho, mas nunca testemunhou ao favor dela para as autoridades neozelandesas.
Processo por tráfico humano
A defesa de Scarlett pede no processo uma indenização de, pelo menos, US$ 7 milhões à ex-babá.
A advogada Vanessa Avellar Fernandez, professora de direito penal na Universidade de Ambra, na Flórida (EUA), disse ao Portal LeoDias que a acusação de tráfico humano associada com estupro é a principal estratégia da defesa de Scarlett para que tanto Gaiman quanto Palmer sejam julgamos pelo Tribunal de Júri.
”O caso entra no conceito do tráfico de pessoas devido a todos os artifícios descritos pela vítima: transporte, acolhimento, recrutamento mediante a coação (forçar alguém a algo seja por manipulação seja por força física)”, explica.
”Nos EUA, tráfico de pessoas associado com estupro [é tratado] com extrema gravidade e podem, a depender do estado, chegar a pena perpétua”, completou Fernandez.
Fãs traídos, contratos cancelados
Entre as outras sete vítimas dos abuso sexuais cometidos por Neil Gaiman, a maioria foram jovens fãs do autor, entre 18 e 25 anos, que o conheceram durante convenções e outros eventos.
Gaiman teria usado da fama e da admiração das jovens para criar uma relação de confiança com elas, para depois abusá-las sexualmente.
Com a repercussão do caso no mundo todo, diversos fãs e admiradores das obras de Gaiman, como “Coraline”, “Sandman” e “Deuses Americanos”, manifestaram o choque ao descobrir os atos cometidos pelo escritor.
A própria Scarlett foi uma das fãs enganadas pela até então falta de acusações contra Gaiman e o talento do autor em escrever histórias sensíveis sobre mulheres, pessoas LGBTQIAPN+ e outros membros minoritários da sociedade.
Gaiman nega veementemente as acusações. Em sua única declaração, à revista Vulture, o escritor afirmou que os casos que não foram “mentiras afastadas da realidade” teriam sido, segundo o réu, relações consensuais.
Enquanto o processo aguarda sentença, o veredito para Gaiman já parece ter sido anunciado: novas publicações do autor no Brasil foram suspensas, produções derivadas de suas obras, como a série “Sandman” da Netflix, foram canceladas, e empresas retiraram o criador do time de colaboradores.
Fonte: Portal LEODIAS