Quando pensamos em como as infecções sexualmente transmissíveis (IST) podem ser ameaçadoras à saúde, em geral nos vem à cabeça a aids como principal problema. Embora o HIV seja de fato uma grande ameaça à prevenção de saúde e esteja em uma curva crescente de casos no Brasil nos últimos anos, ele não é o único.
Estima-se que a hepatite B seja 50 vezes mais contagiosa que o HIV e, embora tenhamos uma vacina eficaz para combatê-la, o Brasil ainda registra uma média de 10 mil casos anuais da doença viral. Mais da metade dos novos casos de hepatite B são detectados no Brasil em pessoas entre 20 e 45 anos de idade.
O objetivo do Brasil é que, até 2030, a detecção de novos casos de hepatite B caia a aproximadamente mil registros anuais e os óbitos fiquem em cerca de 150 ao ano. Em 2023, último ano de referência, foram 343 mortes.
“É fundamental diagnosticar precocemente a hepatite B para ter um tratamento eficaz e prevenir futuros danos. Além disso, manter a caderneta vacinal em dia é essencial para prevenir a doença e sua transmissão”, afirma o infectologista Roberto Florim, da Clínica Vacinar, de São Paulo.
O que é a hepatite B?
A hepatite B é uma infecção viral altamente contagiosa transmitida pelo contato com sangue e fluidos corporais — até lágrimas podem ser um veículo de transmissão do VHB, o vírus causador da doença.
A hepatite B não tem cura. O tratamento é feito controlando os sintomas e a multiplicação do vírus, mas não é capaz de eliminá-lo. O vírus VHB é conhecido por sua persistência dentro e fora do corpo: gotas de sangue seco podem conservar o patógeno ativo por mais de uma semana.
As duas formas de hepatite B
A hepatite B se desenvolve de duas formas. Inicialmente, ocorre uma infecção aguda, com sintomas que duram até seis meses. Em cerca de 80% dos casos, a infecção se resolve espontaneamente no semestre após os primeiros sintomas, embora rastros desativados do vírus permaneçam no corpo e possam, eventualmente, voltar à atividade.
Cerca de dois em cada dez casos evoluem para a forma crônica, mais comum em idosos. Esses pacientes precisam tomar medicamentos antirretrovirais por toda a vida para controlar a doença.
A hepatite B pode evoluir para complicações graves, incluindo cirrose e câncer de fígado. Cerca de 20% a 25% dos pacientes crônicos desenvolvem cirrose, enquanto a incidência anual de câncer no fígado varia entre 2% e 3% nos pacientes já acometidos pela doença hepática.
Formas de transmissão
O vírus da hepatite B pode ser transmitido de várias formas. O contato sexual desprotegido é a principal via de infecção, respondendo por mais da metade dos casos, mas não é a única.
A transmissão vertical, da mãe para o bebê durante a gestação ou parto, é uma preocupação global, já que 90% dos recém-nascidos infectados desenvolvem a forma crônica da doença.
O compartilhamento de seringas, agulhas e outros materiais para o uso de drogas também é um fator de risco relevante. Tatuagens, procedimentos cirúrgicos e piercings mal higienizados podem ser vias de contato.
Sinais e sintomas da IST
A hepatite B pode se manifestar de forma silenciosa. Muitos infectados permanecem assintomáticos por anos, o que dificulta o diagnóstico precoce.
“Nos casos sintomáticos, os sinais podem variar desde mal-estar geral, cansaço e falta de apetite até a presença de sintomas um pouco mais específicos como febre, dor abdominal, náuseas e vômitos”, explica o infectologista Lucas Macedo, professor do curso de Medicina da Universidade de Franca, em São Paulo.
Com a progressão da doença, alguns pacientes desenvolvem icterícia, caracterizada pelo amarelamento da pele e dos olhos. A urina pode se tornar escura, enquanto as fezes apresentam coloração esbranquiçada. Exames de sangue simples são capazes de confirmar a infecção e indicar se ela é aguda ou crônica.
Vacinação e prevenção
A vacina contra a hepatite B é a principal forma de prevenção. Disponível no Sistema Único de Saúde (SUS), o imunizante é aplicado em recém-nascidos, preferencialmente nas primeiras 12 a 24 horas após o nascimento. Neles é aplicada a a vacina pentavalente (que previne também contra difteria, tétano, coqueluche e a bactéria Haemophilus influenzae tipo b). O esquema completo inclui três doses aplicadas nos primeiros dois, quatro e seis meses de vida.
Em 2024, a cobertura vacinal em crianças foi de 89%, voltando a se aproximar da meta de 90%, que o Brasil não atinge desde 2020. As doses de adulto, porém, enfrentam problemas de adesão. Elas são dadas em quem não completou o esquema vacinal quando recém-nascido. Entretanto, dependem de reforços após um mês e após seis meses da primeira aplicação, o que muitas vezes não é feito pelos usuários.
“Se a pessoa atrasou, não importa o prazo, não importa se é a vacina de hepatite B para crianças ou adultos, ela conta a dose que foi feita e fazemos os reforços na vida adulta. Seja qual for o momento, é sempre época de colocar em dia o cartão de vacinação”, disse a presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Mônica Levi, em entrevista ao Metrópoles sobre a baixa procura de adultos.
Além da vacinação, especialistas reforçam a importância do pré-natal adequado para prevenir a transmissão vertical entre gestante e bebê. Além disso, a conscientização sobre o uso de preservativos e a prevenção do uso compartilhado de objetos perfurantes são essenciais para frear a propagação do vírus.
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Fonte: Metrópoles