Uma alimentação rica em ultraprocessados pode trazer consequências para o organismo em pouco tempo. Um estudo publicado na revista Nature Metabolism, na última sexta-feira (21/2), revelou que apenas cinco dias de consumo excessivo de alimentos altamente calóricos são suficientes para prejudicar a resposta do cérebro à insulina e aumentar a gordura do fígado – mesmo em pessoas jovens e saudáveis.
O estudo foi conduzido por cientistas do Instituto de Pesquisa de Diabetes e Doenças Metabólicas do Centro Helmholtz de Munique, na Universidade de Tübingen, em parceria com o Centro Alemão de Pesquisa de Diabetes. Os autores da investigação alertam para os riscos dos alimentos ultraprocessados para a saúde.
Como o estudo foi feito?
Os pesquisadores analisaram a saúde de 29 homens saudáveis, com idades entre 19 e 27 anos. Eles foram divididos em dois grupos: um manteve a alimentação normal, enquanto o outro passou a consumir cerca de 1.500 calorias extras por dia, derivadas de lanches ultraprocessados.
Além disso, todos os participantes tiveram a rotina de exercícios reduzida. Durante o experimento, eles deveriam caminhar menos de 4 mil passos diários.
Ao final dos cinco dias, aqueles que ingeriram mais calorias tiveram o aumento na gordura do fígado, que passou de uma média de 1,55% para 2,54%. Apesar disso, não houve mudança expressiva no peso ou em indicadores de inflamação.
Efeitos no cérebro e na insulina
Para entender o impacto no cérebro, os cientistas realizaram exames de ressonância magnética antes do período de alimentação exagerada, logo após e novamente uma semana depois, quando os voluntários voltaram à dieta normal.
Os resultados mostraram que, o consumo excessivo de ultraprocessados aumentou inicialmente a resposta do cérebro à insulina em áreas como o córtex insular — envolvido na percepção do corpo e emoções — e no mesencéfalo, relacionado a funções motoras e sensoriais.
No entanto, após uma semana, a resposta caiu em regiões ligadas à cognição, como o hipocampo — importante para a aprendizagem e memória — e no giro fusiforme, associado ao reconhecimento de características.
A resistência à insulina no cérebro é algo preocupante, pois pode dificultar o controle do apetite e do metabolismo, favorecendo o ganho de peso e aumentando o risco de diabetes tipo 2 e problemas cognitivos.
Mudanças no aprendizado de recompensa
Outro ponto que chamou a atenção dos pesquisadores foi a mudança no “aprendizado de recompensa”, o mecanismo do cérebro que influencia a motivação e as decisões, inclusive as relacionadas à alimentação.
Após cinco dias de alimentação hipercalórica, testes mostraram que os participantes ficaram menos sensíveis às recompensas e reagiram mais intensamente às punições. Em outras palavras, sentiram menos motivação diante de estímulos positivos e maior impacto com respostas negativas.
Esse padrão já foi identificado em pessoas com obesidade e mostrou que pode levar a hábitos alimentares desregulados, aumentando a preferência por ultraprocessados. O novo experimento mostrou que existe uma tendência de reversão dos efeitos com a volta da alimentação habitual, mas eles não desaparecem completamente.
O que isso significa para a saúde?
O estudo mostra que até mesmo poucos dias de alimentação rica em ultraprocessados podem impactar o cérebro e o metabolismo de maneira duradoura. As mudanças na resposta à insulina e no aprendizado de recompensa podem, ao longo do tempo, aumentar o risco de descontrole alimentar e doenças metabólicas.
Os pesquisadores destacam que, apesar de o estudo ter sido realizado apenas em homens jovens e saudáveis, os resultados sugerem que o impacto pode ser ainda mais significativo em pessoas com fatores de risco para diabetes ou obesidade.
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Fonte: Metrópoles