Um estudo realizado pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), com apoio da Fapesp, revelou que até mesmo os casos leves de Covid-19 podem causar danos ao sistema cardiovascular.
Os pesquisadores analisaram 130 voluntários e identificaram alterações na variabilidade da frequência cardíaca (VFC), que indica a capacidade do coração de se adaptar a diferentes situações. Os resultados foram publicados na revista Scientific Reports em dezembro de 2024.
Impacto da Covid-19 no sistema cardiovascular
Os participantes foram avaliados em três momentos: até seis semanas após a infecção, entre dois e seis meses e entre sete e 12 meses. O grupo analisado mais precocemente apresentou uma redução significativa da VFC, sugerindo dificuldades do coração em responder ao estresse do dia a dia.
Embora os participantes avaliados posteriormente tenham mostrado melhoras graduais, seus índices não voltaram ao normal quando comparados aos de pessoas que não tiveram a doença.
“Nosso estudo reforça a necessidade de programas de reabilitação até mesmo para quem teve Covid-19 leve e não precisou ser hospitalizado”, explica Audrey Borghi Silva, coordenadora da pesquisa, em entrevista à Agência Fapesp.
Segundo ela, os voluntários tinham em média 40 anos e alguns apresentavam fatores de risco para doenças cardiovasculares, como colesterol alto, tabagismo, diabetes, obesidade e hipertensão. “Aparentemente, a Covid-19 potencializou esse desequilíbrio cardiovascular e, por consequência, aumentou o risco de doenças”, completa.
Desequilíbrio no controle dos batimentos cardíacos
Outro achado importante foi o impacto no sistema nervoso autônomo, que regula os batimentos cardíacos. Os pesquisadores perceberam que, nos infectados, o sistema simpático (responsável por acelerar o coração em situações de estresse) estava mais ativo do que o parassimpático (que tem a função oposta).
“O bom funcionamento cardiovascular depende do equilíbrio entre esses mecanismos, e a Covid-19 causou um desajuste no sistema”, explica Aldair Darlan Santos-de-Araújo, primeiro autor do estudo.
Os participantes com maior alteração nesse controle apresentaram sintomas como falta de ar, tosse, fadiga, dor de cabeça, perda do paladar, ansiedade e coriza. Cerca de 44% dos participantes deste grupo não foram vacinados contra o coronavírus.
Agora, os cientistas querem entender por que algumas pessoas recuperam a VFC completamente, enquanto outras continuam com alterações a longo prazo. Eles também pretendem investigar como a vacinação pode influenciar na recuperação do coração após a infecção.
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Fonte: Metrópoles