Em sua delação premiada, o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), afirmou que a maior preocupação na suposta tentativa de golpe sempre foi o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Os nomes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) nunca eram citados, contou o militar em depoimento. Os vídeos e áudios da delação de Cid foram liberados nesta quarta-feira (20) por Moraes.
O relatório da Polícia Federal (PF) sobre o caso menciona o plano “Punhal Verde e Amarelo”, que previa o assassinato de Moraes, de Lula e Alckmin.
De acordo com o tenente-coronel, ele não estava ciente do plano para assassinar o magistrado, e achou que se tratava de uma ação com manifestantes.
Alexandre de Moraes: Eu estou conversando com um oficial do Exército, que tem um treinamento, uma vivência sobre operações. O senhor participou, o senhor foi procurado pelos coronéis, que diziam que era necessário fazer uma operação, gerar caos, para que houvesse uma medida excepcional e não, e que o presidente eleito não tomasse posse. Aí o senhor participa da reunião com eles e o general Braga Netto. O senhor é procurado de novo, para arrumar dinheiro.
Mauro Cid: Sim, senhor.
Alexandre de Moraes: Aí o senhor fala com o general Braga Netto, o senhor vai até o PL aqui no [ininteligível], depois o senhor vê que o general Braga Netto arrumou dinheiro. Obviamente é porque o senhor sabe que alguma está em curso. Aí pedem a minha localização. O senhor não fez uma ligação em relação a isso?
Mauro Cid: Ministro, digamos que eu estava ajudando, mas sem, até porque, eu senti que eles não queriam que eu me envolvesse, até porque quanto mais gente sabe de alguma coisa, é pior. Quanto mais informação você passa e pergunta, é pior. Ainda mais por WhatsApp. Então, o que estavam fazendo, eu não sabia. O dia do reconhecimento que eles vieram eu não sabia, não sabia que eles estavam aqui. Então, o que foi acontecendo eu não sabia. Não sabia se eles iam tacar alguma coisa no senhor como fizeram na casa da ministra, ou fazer foguetório, ou… Eu não tinha esse nível de detalhamento e ciência, e nem quando ia acontecer e se ia acontecer, em cima disso aí. Então, na minha cabeça, eles iam fazer alguma coisa com manifestantes. Na minha cabeça, eles estavam trabalhando com os manifestantes, e é o que a gente escutava: ‘Ah, as Forças Especiais estão ali com os manifestantes’. Eu achei que fosse alguma coisa relativa a isso, não que tivesse usando material do batalhão, tivesse fazendo reconhecimento com carro do batalhão pelo documento que o general Mário fez que fossem usar armamento do batalhão. Isso aí eu desconheço completamente.
Alexandre de Moraes: O senhor falou: ‘Como fizeram na casa da ministra’. O que eles fizeram na casa da ministra?
Mauro Cid: Não, não, tem uns anos que ‘tacaram’ tinta na casa da ministra Cármen Lúcia.
Alexandre de Moraes: Eu achei que fosse… Na minha cabeça, eu achei que fosse acontecer alguma coisa assim. Alguma coisa utilizando manifestantes. Eu não achei que fosse chegar a mais coisas, digamos assim.
Alexandre de Moraes: Certo. Só um segundo. O meu monitoramento já havia começado antes.
Mauro Cid: Ministro, a primeira vez que eu solicitei foi só nesse pacote. Eu não me lembro de ter pedido antes algum monitoramento do senhor com o coronel Câmara, não estou me recordando.
Alexandre de Moraes: A troca de mensagens entre o senhor e o Marcelo Câmara, relativa ao monitoramento meu, do presidente eleito Lula na cerimônia de diplomação, que foi no dia 12.
Mauro Cid: Essa mensagem, ministro, eu não me lembro. Quando eu vi essa mensagem, eu não me lembrava dela, mas não me parece… Me parece que era mensagem dos elementos de segurança, não sei se alguém me pediu. Eu não me recordo deles terem me pedido. Eu não me recordo dessa mensagem específica, se foi eles que pediram ou se foi passado. Para mim era uma mensagem administrativa, mais uma das que a função do ajudante de ordens tinha. Ainda mais quando tem evento, tem essas coisas, óbvio que o presidente Bolsonaro não ia participar. Mas me parece alguma coisa de segurança. Eu não sei se alguém ia, se alguém perguntou, alguém quis saber. Mas eu não me recordo se foi efetivamente para monitorar o senhor, diferente do dia 12, do dia 16, que foi. E do dia 24 foi. E, bom, eu não me recordo. Ministro, eu estou sendo sincero, eu não me recordo. Eu não vou dizer que sim, nem que não, eu não me recordo. Mas eu acho que não, porque talvez eu me lembrasse. Para mim foi mais uma mensagem administrativa, das milhares e centenas que eu tinha por dia.
Alexandre de Moraes: Certo.
Mauro Cid: A do dia 16 eu lembro, eu confirmo. E a do dia 20 e…
Alexandre de Moraes: Quatro.
Mauro Cid: Não, 22, eu digo e confirmo. Eles nunca, ministro, ninguém nunca falou… O nome do presidente Lula e do vice-presidente nunca eram citados em nada. A preocupação maior sempre foi, digamos, com o senhor.
Este conteúdo foi originalmente publicado em Em delação, Mauro Cid afirma que preocupação sempre foi Moraes; veja vídeo no site CNN Brasil.
Fonte: CNN