Estamos entrando em uma nova fase da gripe aviária? Entenda

Estamos entrando em uma nova fase da gripe aviária? Entenda

Os registros de novos casos de gripe aviária em diferentes partes do mundo têm se tornado cada vez mais recorrentes. O vírus H5N1, até então mais comum em aves silvestres, passou a ser detectado com mais frequência nas fazendas de gado comercial. Mas são os casos em humanos que têm chamado maior atenção das autoridades sanitárias.

“Nesse momento, sabemos que o vírus tem ganhado muito espaço não só entre aves selvagens e domésticas, mas especialmente entre mamíferos e isso traz preocupações para a saúde pública e para a biodiversidade”, explica a biomédica Mellanie Fontes-Dutra, professora da Escola de Saúde da Unisinos.

A infectologista Rosana Richtmann, do Instituto Emílio Ribas, lembra que a gripe aviária sempre foi uma preocupação. Mas a cepa de H5N1 em circulação parece ter ganhado uma forma de disseminação mais acelerada entre os mamíferos.

“Se eu fosse apostar em qual será o próximo vírus pandêmico, certamente a minha aposta seria em gripe aviária. Não sei se por H5N1 ou H5N9, mas H5 com certeza”, afirma Rosana, que é coordenadora do comitê de imunizações da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).

Até o momento, não existem registros de transmissão do vírus entre humanos, apenas de contato próximo com aves ou gado. A mudança do comportamento do patógeno poderia representar um risco importante na disseminação, colocando o mundo em uma nova fase da doença.

Aumento de casos de gripe aviária

Os Estados Unidos confirmaram, em 6 de janeiro, a primeira morte humana relacionada à gripe aviária (H5N1) no país. Um homem de 65 anos do estado da Louisiana foi hospitalizado no mês anterior com problemas respiratórios e não resistiu.

Além do paciente da Louisiana, outros 66 casos humanos foram confirmados nos EUA desde o início de 2024, segundo dados dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC). A maioria deles está relacionada à exposição à agricultura comercial, especialmente o contato com gado.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), foram registrados 878 casos da doença em 23 países entre janeiro de 2003 a agosto de 2023. Desses, 458 foram fatais.

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Vírus H5N1, da gripe aviária, é mais frequente em pássaros, mas ocorre também em mamíferos

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Os EUA confirmam, em janeiro, o primeiro surto de gripe aviária pela cepa H5N9

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Gripe aviária pode atingir aves domésticas, como galinhas, mas também animais selvagens e mamíferos

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Em 2023, milhares de leões marinhos morreram no Chile, Argentina e Peru infectados pela gripe aviária

Twitter/@sernapesca

Vírus está mudando

Testes de sequenciamento genético mostraram que o paciente de Louisiana foi infectado com o genótipo D1.1 do vírus H5N1, o mesmo detectado recentemente em aves selvagens e domésticas dos EUA e em casos humanos no estado de Washington e no Canadá.

Esta é uma versão diferente do genótipo B3.13, detectado anteriormente em vacas leiteiras, casos humanos e algumas aves domésticas.

Na última segunda-feira (27/1), a Organização Mundial de Saúde Animal confirmou o primeiro surto de gripe aviária H5N9, uma cepa considerada rara. Ela foi detectada em aves de uma granja de patos na Califórnia.

“Uma das preocupações atuais é de que, uma vez que patos podem ser infectados tanto por H5N1 e H5N9, uma coinfecção dos dois vírus em um mesmo hospedeiro possa levar a rearranjos e trazer riscos para que uma nova versão do patógeno tenha adaptações relevantes em transmissão e infectividade”, afirma Mellanie.

Baixo risco à população

Mesmo com o volume de casos entre animais e humanos, órgãos como a OMS e o CDC continuam a classificar o vírus como um “risco baixo” para a população em geral. Isso porque nenhum caso de transmissão entre humanos foi detectado até o momento.

“Estamos preocupados, é claro, mas analisamos o risco para a população em geral e ele ainda permanece baixo”, disse a porta-voz da OMS, Margaret Harris, durante coletiva de imprensa realizada no início do ano.

Gripe aviária no Brasil

No Brasil, o último caso de gripe aviária em aves silvestres foi identificado em junho de 2024, e o último foco em aves criadas para consumo próprio ocorreu em setembro de 2023, segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).

O último caso em mamíferos foi notificado em novembro de 2023, em lobos-marinhos no Rio Grande do Sul. “Importante ressaltar que esses foram casos em animais de vida livre. O Brasil nunca detectou influenza aviária de alta patogenicidade em aves comerciais ou em bovinos”, aponta a pasta em nota enviada ao Metrópoles.

Controle dos casos

A infectologista Rosana considera que as autoridades sanitárias estão de olho nos surtos, tentando bloquear o avanço do vírus nos locais de foco.

Entre as estratégias preventivas estão a vacinação dos animais e abate assim que o vírus é identificado. “Aqui no Brasil, as autoridades também estão de olho, principalmente o Ministério da Agricultura e Pecuária”, considera.

A biomédica Mellanie acredita que as medidas adotadas ao redor do mundo devem ser ainda mais efetivas e assertivas para mitigar a dispersão em animais. “Isso poderia ajudar a evitar exposições humanas e a reduzir os riscos para uma rápida aquisição de mutações pelo vírus. Sempre que o vírus encontra um novo hospedeiro, há riscos de ele adquirir mutações aleatórias e algumas podem vir a ser significativas e trazer impactos para a saúde coletiva”, ressalta.

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Fonte: Metrópoles