Estudo indica que células de gordura marrom podem matar as de câncer

Estudo indica que células de gordura marrom podem matar as de câncer

Cientistas da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, desenvolveram uma abordagem inovadora no combate ao câncer: usar gordura para matar as células tumorais de “fome”.

A ideia da pesquisa foi induzir a transformação das células de gordura branca — que armazenam energia e são a maior parte das disponíveis em nosso corpo — em células de gordura marrom, que queimam calorias para gerar calor.

Ao serem implantadas próximas a tumores, essas células modificadas consomem nutrientes de forma voraz, privando as células cancerígenas de combustível e levando-as à morrer de fome.

O estudo foi realizado em quatro camundongos. Os resultados promissores da pesquisa foram publicados nesta terça-feira (4/2) na revista Nature Biotechnology. A técnica testada foi inspirada em procedimentos de lipoaspiração e cirurgia plástica.

“Nós já removemos rotineiramente células de gordura com lipoaspiração e as colocamos de volta por meio de cirurgia plástica. Elas podem ser facilmente manipuladas em laboratório e colocadas de volta no corpo com segurança, tornando-as uma plataforma atraente para terapia celular, inclusive para câncer”, explicou o pesquisador de bioengenharia Nadav Ahituv, principal autor do artigo, em comunicado à imprensa.

A pesquisa utiliza a edição genética Crispr para ativar genes específicos da gordura. O gene UCP1, crucial para a produção de calor foi o alvo principal para que a célula mudasse de função.

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As células de gordura brancas formam os estoques de tecido adiposo do corpo mais visíveis

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Gráfico mostra depósitos de gordura marrom nas costas de criança e de adulto

Reprodução/Morten Mosin/University of Southern Denmark

Células de gordura superaram cânceres

Nas fases iniciais do experimento, as células de gordura bege (brancas que foram modificadas para marrom) foram cultivadas junto a células cancerígenas em placas de análise. Os resultados surpreenderam os pesquisadores.

“Achamos que era um erro, mas repetimos várias vezes e o efeito persistiu”, disse Ahituv sobre a morte da maioria das células tumorais. A técnica funcionou contra células de câncer de mama, cólon, pâncreas e próstata.

Em seguida, os cientistas testaram a abordagem em camundongos. Células bege foram implantadas próximas a tumores, e os resultados foram igualmente promissores. As células cancerígenas morreram de fome, enquanto as de gordura consumiam todos os nutrientes disponíveis.

Os pesquisadores ficaram surpresos ao observarem que a técnica foi eficaz mesmo quando as células adiposas foram implantadas longe dos tumores.

Potencial para personalização

A equipe também testou a técnica em tecido humano, utilizando células de gordura e de câncer de mama. O tecido adiposo modificado superou os cancerígenos, especialmente quando foram adaptados para consumir nutrientes específicos, como a uridina, crucial para certos tipos de câncer pancreático.

Segundo Ahituv, as células de gordura têm vantagens únicas. Elas são fáceis de obter, crescem bem em laboratório e interagem de forma segura com o corpo. “Podemos programá-las para realizar tarefas complexas, como liberar insulina ou absorver ferro em excesso”, afirmou.

A técnica, batizada de Transplante de Manipulação Adiposa (AMT, na sigla em inglês), pode ser adaptada para diferentes tipos de câncer e até outras doenças. Embora o pesquisador diga que o céu é o limite para essas células, ainda faltam testes mais profundos de sua eficácia.

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Fonte: Metrópoles