O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou, nesta terça-feira (4/2), que a safra deste ano e o recuo do dólar podem ajudar a conter o avanço dos preços dos alimentos. A declaração do ministro ocorreu após o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) estimar que o aumento dos preços dos alimentos “tende a se propagar para o médio prazo”.
A diretoria do Banco Central destacou que os preços de alimentos cresceram de forma significativa em função, entre outros fatores, da estiagem e da elevação de preços das carnes, afetada pelo ciclo do boi.
O que está acontecendo
- O governo federal está estudando medidas para baratear o preço dos alimentos, que afeta intensamente o bolso do brasileiro mais pobre. O destaque vai para as carnes e o café.
- O preço dos alimentos puxou a alta na inflação de 2024, que fechou o ano em 4,83% – acima da meta projetada pela equipe econômica do governo. O grupo Alimentação e Bebidas avançou 7,69% em 2024.
- No ano passado, as maiores variações de preços foram das carnes (20,84%) e do café moído (39,60%).
- O Palácio do Planalto descartou o tabelamento de preços para forçar a queda nos valores dos alimentos.
- Uma das medidas estudas pelo governo é fortalecer e tornar mais “estimulante” o novo Plano Safra.
- O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, disse que a equipe de Lula avalia aplicar juros mais baixos em determinados produtos no âmbito do Plano Safra 2025/2026. A ideia é dar mais estímulo para os produtores.
Supersafra pode conter preços dos alimentos
Questionado sobre o trecho da ata do Copom que cita a pressão inflacionária sob os alimentos, Haddad ressaltou que, há pouco tempo, o Brasil estava lidando com um dólar acima dos R$ 6 e que agora está próximo dos R$ 5,80.
De acordo com ele, esse recuo da moeda norte-americana “ajuda muito” após o alto volume de saída de dólares do país.
Para Haddad, o trabalho conjunto entre Banco Central e Ministério da Fazenda será capaz de acomodar as “variáveis macroeconômicas” que pressionam os preços dos alimentos.
“Isso certamente vai favorecer e eu estou muito confiante de que a safra deste ano, por todos os relatos que eu tenho tido do pessoal do agro, vai ser uma safra muito forte e isso também vai ajudar”, acrescentou o ministro.
Confira a declaração de Haddad:
Meta da inflação pode ser descumprida em junho, diz BC
O BC também admitiu a possibilidade de estouro da meta em 2025, no caso de as projeções do cenário de referência se concretizarem. Nesse cenário, “a inflação acumulada em 12 meses permanecerá acima do limite superior do intervalo de tolerância da meta nos próximos seis meses consecutivos“, ressalta o órgão.
“Desse modo, com a inflação de junho deste ano, configurar-se-ia descumprimento da meta sob a nova sistemática do regime de metas”, explicou o Copom em trecho da ata.
Em 2025, a meta de inflação é de 3%, com variação de 1,5 ponto percentual, sendo 1,5% (piso) e 4,5% (teto). Ela será considerada cumprida se oscilar entre esse intervalo de tolerância. Nesse novo modelo, se a inflação acumulada em 12 meses ficar fora desse intervalo por seis meses consecutivos, a meta é considerada descumprida.
Haddad disse que o modelo de meta contínua “permite uma melhor acomodação”. “Isso faz com que o BC possa apresentar um plano de trabalho consistente para trazer a inflação para a meta com mais racionalidade”.
Na visão dele, o Copom terá mais tempo para analisar o patamar e avaliar o período de juros restritivos (ou seja, alta da taax de juros). “Eu penso que o BC vai ter tempo de analisar o patamar de juros restritivos que ele vai manter, e por quanto tempo, para conseguir esse objetivo [convergir a inflação à meta]”, acrescentou.
Em caso de descumprimento, o BC precisa divulgar uma carta aberta ao ministro da Fazenda, explicando as razões para o estouro. Isso porque a autoridade monetária é que faz o controle da inflação, por meio da Selic, definida pelo Copom a cada 45 dias.
Fonte: Metrópoles