Os Estados Unidos já estão enfrentando uma crise constitucional, segundo o professor de História e Política da Universidade de Denver, Rafael Ioris. Em entrevista, o especialista afirmou que essa situação já era prevista desde antes da eleição de Donald Trump.
De acordo com Ioris, Trump sinalizava que iria impor uma nova lógica ao exercício do poder no país. “Ele tem se valido de bons assessores, inclusive na área jurídica, que apresentam uma tese de poder unificado no executivo”, explicou o professor.
Contradição histórica
O especialista ressalta que essa abordagem representa uma contradição à história dos Estados Unidos, país que implementou as ideias do iluminismo e de Montesquieu sobre a separação dos poderes. Esse sistema serviu bem ao país nos últimos 250 anos, mas agora enfrenta uma tentativa de reorganização.
Ioris destaca que Trump busca reorganizar o país em várias dimensões, incluindo sua presença no mundo, a economia norte-americana e, surpreendentemente, o próprio funcionamento das instituições políticas.
“Ele está forçando a barra, dizendo que o executivo quase que seria um poder único, que teria ele sim o poder de definir como exercer a alocação de recursos, o exercício de decisões judiciais ou não”, afirmou.
Incertezas sobre o futuro
O professor levanta questionamentos sobre como essa crise será resolvida. Ele aponta que o executivo tem mais poder de fato para implementar decisões, mas questiona quem fará Trump cumprir algo caso seja necessário. Embora um impeachment pudesse ser uma solução, Ioris avalia que o contexto político atual não parece propício para tal medida.
“É uma crise que parece que vai durar um certo tempo. Em algum momento, algo vai ter que ser decidido”, concluiu o especialista, indicando que ou o poder de Trump será fortalecido com essa nova interpretação do funcionamento das instituições políticas, ou haverá uma pressão do Congresso e do Judiciário para reacomodar as coisas nos padrões normais.
Este conteúdo foi originalmente publicado em Crise constitucional já chegou aos EUA, diz professor no site CNN Brasil.