Pesquisa descobre por que homens têm o dobro de risco de ter Parkinson

Pesquisa descobre por que homens têm o dobro de risco de ter Parkinson

Homens têm duas vezes mais risco de desenvolver a doença de Parkinson do que mulheres, e um novo estudo sugere que a resposta do sistema imunológico a uma proteína cerebral pode ser a chave para entender essa disparidade.

A investigação aponta que a proteína PINK1, normalmente inofensiva e produzida pelo próprio organismo, se torna alvo de ataques do sistema imunológico em pacientes com Parkinson, especialmente nos homens.

A pesquisa foi liderada pelo Instituto de Imunologia La Jolla, nos Estados Unidos, e publicada na edição de janeiro do Journal of Clinical Investigation.

Resposta imune marcante em homens

A PINK1 desempenha um papel crucial na regulação da energia celular no cérebro. No entanto, em alguns casos de Parkinson, as células T do sistema imunológico confundem a proteína com uma ameaça, atacando as células cerebrais que a expressam.

Esse processo é significativamente mais agressivo em cérebros de homens, que têm uma reação mais intensa das células de defesa, o que pode explicar a maior incidência da doença nesse grupo.

“Diferenças baseadas no sexo nas respostas das células T foram muito, muito marcantes. Essa resposta imune pode ser um componente do motivo pelo qual vemos uma diferença de sexo na doença de Parkinson”, afirmou o imunologista Alessandro Sette, do La Jolla, em um comunicado à imprensa.

Ao analisar amostras de sangue de pacientes com Parkinson, os pesquisadores observaram que as células T dos homens atacavam as células cerebrais marcadas com PINK1 com uma intensidade seis vezes maior do que em cérebros saudáveis. Já nas mulheres, o aumento foi de apenas 0,7 vezes. Essa diferença sugere que a resposta imune pode ser um fator crítico na progressão da doença.

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Parkinson é uma doença neurológica caracterizada pela degeneração progressiva dos neurônios responsáveis pela produção de dopamina

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Esse processo degenerativo das células nervosas pode afetar diferentes partes do cérebro e, como consequência, gerar sintomas como tremores involuntários, perda da coordenação motora e rigidez muscular

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Outros sintomas da doença são lentidão, contração muscular, movimentos involuntários e instabilidade da postura

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Em casos avançados, a doença também impede a produção de acetilcolina, neurotransmissor que regula a memória, aprendizado e o sono

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Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), apesar de a doença ser conhecida por acometer pessoas idosas, cerca de 10% a 15% dos pacientes diagnosticados têm menos de 50 anos

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Não se sabe ao certo o que causa o Parkinson, mas, quando ocorre em jovens, é comum que tenha relação genética. Neste caso, os sintomas progridem mais lentamente, e há uma maior preservação cognitiva e de expectativa de vida

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O Parkinson não tem cura, mas o tratamento pode diminuir a progressão dos sintomas e ajudar na qualidade de vida. Além de remédio, é necessário o acompanhamento de uma equipe multidisciplinar. Em alguns casos, há possibilidade de cirurgia no cérebro

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Novos caminhos para tratar o Parkinson

A descoberta abre portas para novas abordagens terapêuticas. “Poderíamos potencialmente desenvolver terapias para bloquear essas células T, agora que sabemos porque elas têm como alvo o cérebro”, explica Cecilia Lindestam Arlehamn, imunologista do mesmo instituto.

Além disso, a detecção precoce das células T em exames de sangue pode permitir diagnósticos mais precoces, melhorando o tratamento e o suporte aos pacientes.

Anteriormente, a mesma equipe já havia identificado uma resposta semelhante das células T à proteína alfa-sinucleína, mas a reação não era comum a todos os pacientes. Isso levou os pesquisadores a investigar outros alvos, como a PINK1, que agora se mostra um alvo promissor para estudos futuros.

Desafios e próximos passos

Apesar dos avanços, ainda há muito a ser explorado. “Precisamos expandir para realizar uma análise mais global da progressão da doença e das diferenças entre os sexos, considerando todos os diferentes antígenos, gravidade e tempo desde o início dos sintomas”, ressalta Sette.

A doença de Parkinson, o segundo distúrbio neurodegenerativo mais comum, ainda não tem cura, mas entender seus mecanismos é um passo crucial para combatê-la.

Enquanto isso, a identificação de alvos como a PINK1 e outras proteínas relacionadas à doença oferece esperança para o desenvolvimento de tratamentos mais específicos e eficazes. A pesquisa continua, com o objetivo de desvendar os mistérios que ainda cercam a condição complexa e debilitante.

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Fonte: Metrópoles