A era da hiperconectividade está transformando profundamente as relações humanas, segundo a psicóloga Dorli Kamkhag, da Universidade de São Paulo (USP). Em entrevista ao programa CNN Sinais Vitais, com doutor Roberto Kalil, a especialista compartilhou observações preocupantes sobre o comportamento de pacientes na era digital.
Kamkhag relata ser cada vez mais comum ver pacientes entrando em consulta com o celular em mãos, muitas vezes alegando estar esperando “um telefonema urgente”. “Então ele não está ali”, lamenta a psicóloga, destacando como a presença constante dos dispositivos eletrônicos afeta a qualidade da interação terapêutica.
O impacto nas relações interpessoais
A especialista enfatiza que as mudanças nos últimos anos têm sido significativas, afetando não apenas as consultas, mas as relações em geral. “Para muito pior”, avalia Kamkhag, referindo-se à qualidade dos relacionamentos na era digital.
Um dos aspectos mais preocupantes apontados pela psicóloga é a forma como as pessoas estão interpretando as interações online. “Muitas vezes alguém me traz uma consulta, “olha o que ele me falou” e daí ela não diz, ela não está aqui comigo, ela está me mostrando numa tela o que o cara escreveu”, exemplifica Kamkhag.
A nova linguagem digital e seus desafios
A psicóloga destaca como os pacientes estão se “nutrindo dos emojis”, buscando significado em cada detalhe das mensagens digitais. “Mas ele mandou três corações, mas ele mandou um beijinho”, ilustra Kamkhag, evidenciando a complexidade das interpretações nas comunicações virtuais.
Esta nova dinâmica, segundo a especialista, está criando um “vazio de solidão” nas relações. Kamkhag alerta que, mesmo quando as pessoas acreditam estar se conectando por meio das mensagens digitais, na verdade estão se deixando em um vazio emocional, contribuindo para um sentimento crescente de solidão.
Este conteúdo foi originalmente publicado em Sinais Vitais com dr. Kalil: os efeitos da tecnologia na solidão no site CNN Brasil.