Última vitória do Brasil no Monumental teve herói convocado às pressas

Imagine ser convocado às pressas para um clássico contra a Argentina, voar para Buenos Aires na véspera do jogo e ainda marcar o gol da vitória por 1 a 0.

Foi o que aconteceu com o atacante Donizete Pantera, autor do gol que deu à Seleção Brasileira seu último triunfo no Monumental de Nuñez, estádio do River Plate e casa da Albiceleste, no dia 8 de novembro de 1995.

Um feito que a equipe comandada por Dorival Júnior tentará repetir — quase 30 anos depois — na noite desta terça-feira (25), em duelo válido pelas Eliminatórias.

De lá para cá, o Brasil chegou a vencer a seleção rival em território argentino. Contudo, na vitória por 3 a 1 em 2009, o clássico foi disputado no Gigante de Arroyito, em Rosario. Já no Monumental, foram quatro duelos desde então, com três vitórias da Argentina e um empate.

1995 x 2025: clima hostil no Monumental

Carlos Germano, goleiro titular da Seleção Brasileira no triunfo de 1995, lembra que o clima encontrado em Buenos Aires naquela ocasião se assemelha ao que os comandados de Dorival Júnior encontrarão nesta terça, inflamado depois das declarações do atacante Raphinha de que “dará porrada” nos argentinos.

Na época, porém, a hostilidade com que os brasileiros foram recebidos não teve a ver com declarações polêmicas, mas sim por conta de um gol controverso.

“Teve um gol do Túlio, de mão, que ele domina a bola com a mão e faz o gol, contra a Argentina na Copa América de 1995. E logo depois teve esse amistoso. Então estava uma tensão danada. Acho que foi muito parecido com o episódio do Raphinha agora. Na época a torcida da Argentina estava putíssima com o Tulio pelo gol de mão, e logo depois jogamos essa partida [no Monumental]”, conta Carlos Germano à CNN Brasil.


Carlos Germano em ação pela Seleção Brasileira
Carlos Germano em ação pela Seleção Brasileira • Neal Simpson/EMPICS via Getty Images

Na Copa América daquele ano, disputada no Uruguai, Brasil e Argentina empataram por 2 a 2 pelas quartas de final e Túlio marcou um gol em que ajeitou a bola com o braço, muito reclamado pelos argentinos. Nos pênaltis, os brasileiros levaram a melhor e avançaram para a semifinal.

Meses depois, as equipes voltaram a se encontrar em Buenos Aires, para um amistoso organizado em homenagem aos 50 anos do Diário Clarín. Parte da arrecadação, inclusive, seria doada à Unicef.

O Brasil, que tinha conquistado no ano anterior o tetracampeonato mundial, contava com Bebeto. Mas um problema de logística impediu a presença do atacante do La Coruña na convocação. E então o técnico Zagallo precisou chamar às pressas um substituto.

“Alô, Donizete?”

Dois dias antes do clássico no Monumental de Nuñez, Bebeto, que estava convocado para o amistoso, comunicou à CBF que não havia voos de La Coruña para Madri e, por isso, não conseguiria viajar a tempo para a Argentina.

Para o lugar do atacante, Zagallo chamou Donizete, do Botafogo, que viajou a Buenos Aires na véspera da partida e mal teve tempo de se preparar junto aos companheiros de seleção.

Sem Mauro Silva e Bebeto, campeões mundiais em 1994, a responsabilidade caiu no colo de jogadores jovens que começavam a reivindicar protagonismo na equipe nacional, como Cafu, Roberto Carlos e Rivaldo. Carlos Germano, por exemplo, estava apenas em sua segunda convocação.

Viajamos para a Argentina e, na véspera do jogo, a gente recebeu a notícia de que o Bebeto e o Mauro Silva tiveram que ser cortados porque não conseguiram pegar o voo para Buenos Aires. A gente ficou apreensivo, porque ficaríamos sem dois campeões do mundo, duas referências para nós. Então foram convocados o Donizete, que fez o gol da partida, e o Amaral, que foi o autor da assistência


Carlos Germano

Aos 21 minutos de jogo, Amaral subiu pela direita do ataque e cruzou rasteiro para a entrada da área. Donizete dominou e chutou forte para superar o goleiro Cristante e marcar o gol da vitória brasileira.

Ainda que o contestado triunfo da Copa América, com o gol de mão de Túlio, estivesse vivo na memória dos torcedores argentinos, o Monumental de Nuñez pareceu reconhecer a superioridade do Brasil no amistoso.

“Ao final, a torcida argentina aplaudiu os brasileiros e vaiou a equipe do técnico Passarella”, disse o relato da partida publicado na Folha de S. Paulo de 9 de novembro, dia seguinte ao triunfo da Seleção.

Na noite desta terça-feira, especialmente após as declarações de Raphinha a Romário, os jogadores brasileiros não deverão esperar manifestações de carinho por parte da torcida local. É com esse clima que a equipe de Dorival Júnior buscará sua primeira vitória no estádio em quase três décadas.

“No jogo de hoje, o importante hoje é ter paciência, porque o jogo vai ser pegado. O Brasil tem que ter inteligência para jogar, competir o tempo todo para podermos sair com uma grande vitória da Argentina”, opina Carlos Germano, o último goleiro da Seleção a sair do Monumental vitorioso.

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