Cientistas australianos desenvolveram uma terapia celular para o tratamento do Parkinson que dispensa drogas imunossupressoras e restaura a função muscular. A abordagem, testada em camundongos, é vista como um avanço científico promissor e apontada como a próxima geração em tratamentos neurológicos.
Os pesquisadores do Instituto Florey de Neurociência e Saúde Mental em Melbourne, Austrália, criaram uma maneira de enganar o sistema imunológico, fazendo-o aceitar enxertos de neurônios modificados como parte do corpo, em vez de atacá-los como objetos estranhos.
Ao contrário dos medicamentos atuais, que tratam os sintomas da doença, os enxertos de neurônios modificados têm como alvo a causa, substituindo neurônios mortos. O avanço foi publicado na quarta-feira (10/4), na revista Cell Stem Cell.
“O Parkinson causa a morte de células nervosas específicas (neurônios), levando a sintomas que incluem dificuldades de locomoção, tremores, rigidez e comprometimento do equilíbrio. O enxerto neural é um tratamento emergente para substituir esses neurônios mortos”, disse a professora Clare Parish, principal autora do estudo e vice-diretora do Florey, em comunicado à imprensa.
O que é o Parkinson?
- O Parkinson é uma condição crônica e progressiva causada pela neurodegeneração das células do cérebro.
- Estima-se que cerca de 10 milhões de pessoas no mundo tenham Parkinson.
- A ocorrência é mais comum entre idosos com mais de 65 anos, mas também pode se manifestar em outras idades.
- A doença atinge principalmente as funções motoras, causando sintomas como: lentidão dos movimentos, rigidez muscular e tremores.
- Os pacientes também podem ter: diminuição do olfato, alterações do sono, mudanças de humor, incontinência ou urgência urinária, dor no corpo e fadiga.
- Cerca de 30% das pessoas que vivem com Parkinson desenvolvem demência por associação.
O tratamento atual da doença envolve uma combinação de medicamentos e terapias, com o objetivo principal de aliviar os sintomas e melhorar a qualidade de vida do paciente. No entanto, ainda não existe cura definitiva, explica a médica Siane Prado, coordenadora do Serviço de Neurologia do Hospital Brasília Águas Claras.
“Existem estudos em andamento, como a terapia gênica, para tentar bloquear o mecanismo de degeneração progressiva de neurônios dopaminérgicos, fazendo a substituição de células que estão doentes. Esse tratamento seria revolucionário e poderia bloquear a progressão da doença e diminuir a quantidade de medicação usada atualmente, o que melhoraria a qualidade e expectativa de vida dos pacientes”, considera a médica.
Enxertos neurais invisíveis
Testes com enxertos neurais em humanos estão em andamento em outros países, mas ainda esbarram em alguns obstáculos, como a rejeição pelo sistema imunológico a um corpo estranho.
Assim como acontece com outros tipos de transplantes de órgãos ou células, os pacientes precisam evitar que o corpo rejeite o enxerto tomando medicamentos imunossupressores várias vezes ao dia. “Infelizmente, esses medicamentos apresentam seus próprios riscos e efeitos colaterais”, aponta Clare.
Os pesquisadores do Instituto Florey, em parceria com um grupo da Universidade de Toronto, desenvolveram neurônios semelhantes aos que estão em ensaios clínicos para a doença de Parkinson, mas também lhes deram uma “capa de invisibilidade”.
“Eles podem se esconder à vista do sistema imunológico. Isso pode significar o fim da necessidade de medicamentos antirrejeição”, sugere a autora do estudo.
Os enxertos de neurônios foram colocados em camundongos modificados, com um sistema imunológico “humanizado”, e em ratos com Parkinson.
Ao fim das 12 semanas do experimento, a função muscular dos ratos havia melhorado significativamente e os sintomas da doença deixaram de existir, indicando que os neurônios encapsulados não perdem sua eficácia contra a doença. Os camundongos não apresentaram efeitos colaterais, o que os pesquisadores consideram um indicativo positivo para testes com humanos.
“Esta é a próxima geração de tratamento neurológico e pode ser usada como um produto celular seguro e pronto para uso, adequado para tratar doenças para as quais as terapias baseadas em células são uma opção viável, como derrame, doença de Huntington, doenças cardíacas e diabetes”, considera Clare.
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Fonte: Metrópoles