Apontado pela polícia como chefe de um grupo que promovia correntes de ódio na internet, principalmente contra negros, mulheres, adolescentes e animais, Bruce Vaz de Oliveira, de 24 anos, preso anteontem, é também suspeito de manter conexões internacionais e facilitar a divulgação desse conteúdo fora do Brasil. Além dele, foram presos Caio Nicholas Augusto Coelho, de 18 anos, e Kayke Sant Anna Franco, de 19. Um adolescente de 17 anos foi apreendido. Segundo a investigação, o grupo planejou executar um homem em situação de rua.
De acordo com a polícia, Bruce — que usava o codinome Jihad — administrava o servidor “466”, espaço virtual onde cenas de brutalidade contra animais eram transmitidas em tempo real. O material, segundo a Delegacia da Criança e Adolescente Vítima (DCAV), era compartilhado com outros usuários e servia como ferramenta de aliciamento de adolescentes.
A investigação, conduzida pela delegada Maria Luiza Armínio Machado, revelou que a agressão contra o morador de rua aconteceria no Domingo de Páscoa e seria transmitida ao vivo pela plataforma Discord. A operação que resultou nas prisões foi deflagrada a partir de informação do Laboratório de Operações Cibernéticas, do Ministério da Justiça.
Como o grupo aliciava adolescentes
Pelo inquérito, Bruce era o cérebro do grupo: organizava transmissões, discutia métodos de violência com os participantes e coordenava o funcionamento da comunidade criminosa.
Já Caio Nicholas, que usava o apelido Sync, seria o coadministrador do servidor. Sua principal função sera aliciar adolescentes e inseri-los na dinâmica do grupo. Ele também seria autor de conteúdos racistas. Já Kayke, conhecido como Fearless, seria responsável pela moderação e pela instigação dos membros. Ainda incentivaria adolescentes à automutilação e participava do planejamento de ataques físicos, além de promover desafios de violência entre os usuários, de acordo com a investigação.
Rede organizada e linguagens cifradas
A polícia identificou que o grupo usava linguagem cifrada, além de memes e códigos visuais, para esconder suas práticas dos moderadores da plataforma. Relatórios técnicos do Ministério da Justiça foram cruciais para a coleta de provas.
Os três acusados vão responder por associação criminosa, incitação ao crime, maus-tratos com agravantes, corrupção de menores, indução ao suicídio e crimes de intolerância racial. Computadores e celulares foram apreendidos e serão periciados. A polícia não descarta novos indiciamentos.
O Discord informou, por nota, que “tem políticas rigorosas contra atividades que promovam discurso de ódio, incitação à violência e compartilhamento de conteúdo prejudicial”.