O draft da NFL é transmitido ao vivo todos os anos e atrai milhões de telespectadores. Centenas de milhares também acompanham o evento presencialmente, celebrando cada escolha com entusiasmo.
Mesmo sem touchdowns ou jogadas em campo, o draft se tornou um dos maiores eventos esportivos do ano.
Neste ano, 257 jogadores serão selecionados em Green Bay, Wisconsin. Aqueles escolhidos na primeira rodada, que começa na quinta-feira às 20h (de Brasília), garantem contratos milionários.
Mas o início do draft foi bem diferente. Em 1936, apenas 81 atletas foram escolhidos em nove rodadas. O primeiro selecionado nem sabia que estava sendo draftado.
O primeiro draft e Jay Berwanger
Tudo era muito diferente em 1936, quando o primeiro draft contou com apenas 81 jogadores selecionados ao longo de nove rodadas.
Não havia dúvidas de que Jay Berwanger, um halfback da Universidade de Chicago, seria o primeiro escolhido. Com 1,83 m e 88 kg, ele havia acabado de receber o primeiro Troféu Heisman.
Ele também foi nomeado o melhor jogador da Big 10 pelo Chicago Tribune.
“Ele jogava ataque, defesa e nos times especiais”, disse à CNN Landon Bundy, diretor de esportes da Universidade de Chicago. “Praticamente nunca saía do campo.”
Segundo Bundy, Berwanger também era o chutador do time — ele corria para touchdowns e chutava os pontos extras.
“Na campanha do Heisman, ele lançou para 405 jardas, correu para 577 jardas, retornou kickoffs e marcou seis touchdowns, além de chutar cinco pontos extras. Ele fazia de tudo.”
“Você pode dizer qualquer coisa boa sobre ele e eu dobro”, disse seu técnico, Clark Shaughnessy, ao Chicago Tribune em 1935.
Berwanger tinha muitos apelidos, incluindo “O Homem da Máscara de Ferro”, por causa de sua máscara facial — ele quebrou o nariz duas vezes.

Reconhecimento nacional e o Troféu Heisman
No último ano universitário, o Chicago Tribune entrevistou seus adversários: 104 de 107 jogadores disseram que ele era o melhor halfback que já haviam enfrentado.
Até Gerald Ford, futuro presidente dos EUA e campeão nacional por Michigan, elogiava Berwanger — e tinha uma cicatriz no rosto por tentar derrubá-lo.
Em 1935, o Downtown Athletic Club de Nova York criou um troféu para o “jogador mais valioso a leste do Mississippi” e deu o prêmio inaugural a Berwanger.
No ano seguinte, o troféu foi renomeado em homenagem a John Heisman, diretor atlético do clube, após sua morte.
Berwanger soube do prêmio por telegrama e, décadas depois, contou que ninguém fez muito caso.
“Ninguém falou nada, só me deram os parabéns. Eu estava mais empolgado com a viagem a Nova York do que com o troféu — era meu primeiro voo.”
Ele mal usava o troféu, que era grande demais para a lareira ou para a mesa de centro. A revista da UChicago conta que ele serviu como calço de porta na casa da sua tia Gussie por anos.
O primeiro draft da NFL
Três meses depois, ocorreu o primeiro draft oficial da NFL — algo bem diferente do que é hoje. O Hartford Courant descreveu o evento como “mais parecido com um jogo de pôquer barato”.
Nove dirigentes fumando charutos, alguns pagando seus jogadores com promissórias, tentavam manter vivo o sonho do futebol profissional.
Berwanger contou ao Courant em 1994 que só soube que havia sido selecionado ao ler o jornal.
“Descobri que fui draftado lendo o jornal. Nem sabia que o draft estava acontecendo.”
O proprietário do Eagles, Bert Bell, havia criado o draft para acabar com as batalhas caras por jogadores universitários. Ele propôs que os times escolhessem em ordem inversa à classificação da temporada anterior.
Assim, os Eagles (2-9) tiveram a primeira escolha e selecionaram Berwanger — mas logo trocaram seus direitos com o Chicago Bears.
O Eagles não tinha dinheiro para pagar o que ele queria. O técnico dos Bears, George Halas, também não.
De acordo com o Courant, os dois se encontraram no saguão de um hotel em Chicago. “Ele me perguntou quanto eu queria. Eu disse, de brincadeira, US$ 25 mil por dois anos”, disse Berwanger.
“Halas olhou para mim e disse: ‘Prazer em conhecê-lo, divirta-se esta noite’.”
Por que Berwanger não jogou na NFL
Brian E. Cooper, autor do livro First Heisman: The Life of Jay Berwanger, disse à revista da UChicago que o pedido de salário alto era um sinal de que Berwanger não queria jogar profissionalmente.
“Ele basicamente deixou claro para Halas que não estava interessado.”
Em seu obituário de 2002, o Los Angeles Times citou Berwanger dizendo: “Não havia dinheiro no futebol profissional naquela época, era a Grande Depressão. Achei que teria um futuro melhor usando minha formação.”
Vida após o futebol americano
Berwanger chegou a considerar competir no decatlo nas Olimpíadas de Berlim, mas decidiu terminar seus estudos e começou a vender borracha.
Durante a Segunda Guerra Mundial, ele foi instrutor de voo da Marinha e chegou ao posto de tenente-comandante.
Depois, fundou uma empresa de peças de borracha para carros e máquinas agrícolas. Segundo o New York Times, a Jay Berwanger Inc. faturava US$ 30 milhões quando foi vendida em 1992.
Outros primeiros picks que não jogaram
Berwanger não foi o único jogador draftado em primeiro lugar que nunca jogou na NFL. Ernie Davis, o primeiro negro a ganhar o Heisman, foi selecionado em 1962, mas morreu de leucemia aos 23 anos, sem jogar pelo Cleveland Browns.
Mesmo sem ter jogado na NFL, Berwanger ocupa um lugar único na história da liga mais lucrativa do mundo: foi a primeira escolha do primeiro draft.
Antes de morrer aos 88 anos em 2002, ele refletiu: se tivesse sido draftado alguns anos depois, provavelmente teria jogado profissionalmente.
“Eu ainda me vejo como o primeiro — tipo o George Washington”, disse ele certa vez.
Este conteúdo foi originalmente publicado em Draft da NFL: primeiro jogador draftado na história nunca atuou; conheça no site CNN Brasil.