Especialista explica como o álcool atua no corpo para causar câncer

*O artigo foi escrito pelo biólogo e professor de medicina Pranoti Mandrekar, da UMass Chan Medical School, nos Estados Unidos, e publicado na plataforma The Conversation Brasil.

Não há uma maneira de determinar o risco que cada pessoa correr de ter câncer causado pelo álcool. O histórico genético individual, o estilo de vida, a dieta e outros fatores de saúde de cada pessoa podem influenciar os efeitos da bebida na formação de tumores, mas uma coisa é certa: O álcool, seja consumido regularmente ou apenas em ocasiões especiais, prejudica seu corpo.

Desde o cérebro e o coração, passando pelos pulmões e músculos, até os sistemas gastrointestinal e imunológico, o álcool tem amplos efeitos nocivos à saúde – inclusive causa de câncer.

Consumir bebidas é a terceira principal causa evitável de câncer nos EUA, responsável por cerca de 100.000 casos de câncer e 20.000 mortes por câncer anualmente. Em comparação, os acidentes de carro relacionados ao álcool causam cerca de 13.500 mortes por ano nos EUA.

Já na década de 1980, os pesquisadores suspeitavam que o álcool pudesse causar câncer. Estudos epidemiológicos mostraram que o álcool está causalmente ligado ao câncer de cavidade oral, garganta, caixa vocal, esôfago, fígado, cólon e reto e mama. Outro estudo relatou uma associação entre consumo crônico e excessivo de álcool e câncer de pâncreas.

Em 2000, o Programa Nacional de Toxicologia dos EUA concluiu que o consumo de bebidas alcoólicas é um conhecido carcinógeno humano. Em 2012, a Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer, que faz parte da Organização Mundial da Saúde, classificou a bebida como carcinogênico do Grupo 1, a classificação mais alta que indica que há evidências suficientes para concluir que uma substância causa câncer nas pessoas. Tanto o Centers for Disease Control and Prevention quanto o National Institutes of Health concordam que há evidências conclusivas de que o álcool causa vários tipos de câncer.

Álcool afeta o corpo mesmo em pequenas quantidades

As diretrizes dietéticas dos EUA afirmam que até mesmo pequenas quantidades de bebida – menos de um único drinque por dia – aumentam o risco de câncer. Apesar disso, muitos americanos não estão cientes de que o álcool causa câncer. Uma pesquisa de 2019 constatou que menos de 50% dos adultos dos EUA estão cientes dos riscos de câncer do consumo. A Pesquisa Nacional sobre Uso de Drogas e Saúde de 2023 constatou que mais de 224 milhões de americanos com 12 anos ou mais beberam em algum momento da vida – mais de 79% das pessoas nessa faixa etária. O consumo estava aumentando mesmo antes da pandemia da COVID-19, refletindo um problema alarmante de saúde pública.

Sou um pesquisador que estuda os efeitos biológicos do consumo moderado e prolongado. Minha equipe está trabalhando para descobrir alguns dos mecanismos por trás de como o álcool aumenta o risco de câncer, incluindo danos às células imunológicas e ao fígado.

Como o álcool causa câncer?

O câncer ocorre quando as células crescem de forma incontrolável no corpo. O álcool pode levar à formação de tumores ao danificar o DNA, causando mutações que interrompem a divisão e o crescimento normais das células.

Os pesquisadores identificaram vários mecanismos associados ao álcool e ao desenvolvimento do câncer. Um relatório de 2025 do cirurgião geral dos EUA destaca quatro maneiras distintas pelas quais a bebida pode causar câncer: metabolismo dela, estresse oxidativo e inflamação, alterações nos níveis hormonais e interações com outros carcinógenos, como a fumaça do tabaco.

O metabolismo do álcool é o processo pelo qual o corpo o decompõe e elimina. Quando o álcool é decomposto, seu primeiro subproduto é o acetaldeído, um produto químico que é classificado como carcinogênico. Os pesquisadores descobriram que certas mutações genéticas podem levar o corpo a decompor o álcool mais rapidamente, resultando em níveis mais altos de acetaldeído.

Há também evidências consideráveis de que o álcool pode fazer com que o corpo libere moléculas prejudiciais chamadas radicais livres. Essas moléculas podem danificar o DNA, as proteínas e os lipídios das células em um processo denominado estresse oxidativo. Meu laboratório descobriu que os radicais livres formados pelo consumo da bebida podem afetar diretamente a forma como as células produzem e quebram proteínas, resultando em proteínas anormais que promovem a inflamação que favorece a formação de tumores.

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Álcool pode levar a sérias doenças do fígado e alta dependência química

Além do fígado, bebidas alcoólicas prejudicam a saúde do coração e do cérebro
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Uma pesquisa de 2023 apontou que sete em cada 10 brasileiros que abusam da bebida acham que bebem moderadamente

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Álcool pode levar a sérias doenças do fígado e alta dependência química

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Além do fígado, bebidas alcoólicas prejudicam a saúde do coração e do cérebro

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O álcool também pode afetar diretamente os níveis hormonais de forma a aumentar o risco de câncer. Por exemplo, os estrogênios podem aumentar o risco de câncer de mama. O consumo moderado pode tanto elevar os níveis de estrogênio quanto promover o consumo adicional. O álcool também aumenta o risco de câncer de mama ao reduzir os níveis de vitamina A, um composto que regula o estrogênio.

As pessoas que bebem e fumam têm um risco elevado de desenvolver câncer de boca, faringe e laringe. O álcool facilita a absorção pelo corpo dos carcinógenos presentes nos cigarros e vaporizadores eletrônicos. O fumo por si só também pode causar inflamação e induzir radicais livres que danificam o DNA.

Quanto álcool é seguro?

Você pode estar se perguntando qual é a quantidade de álcool que pode ser consumida com segurança e evitar danos. Se você perguntar a médicos e cientistas, talvez não goste da resposta: nenhuma.

Os Centers for Disease Control and Prevention (Centros de Controle e Prevenção de Doenças) e as American dietary guidelines (diretrizes dietéticas americanas) recomendam o consumo de no máximo um drinque por dia para mulheres e dois drinques para homens. O National Institute for Alcohol Abuse and Alcoholism e o U.S. surgeon general’s recent advisory têm recomendações semelhantes para limitar o consumo.

A ingestão é uma causa altamente evitável de câncer. No entanto, atualmente não há uma maneira de determinar o risco pessoal de câncer causado pela bebida. O histórico genético individual, o estilo de vida, a dieta e outros fatores de saúde de cada pessoa podem influenciar os efeitos do álcool na formação de tumores. Entretanto, repensar seus hábitos de consumo pode ajudar a proteger sua saúde e reduzir o risco de câncer.The Conversation

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Fonte: Metrópoles

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