“Meu filho com VSR precisou usar oxigênio até os 5 anos”, conta mãe

Em adultos, o vírus sincicial respiratório (VSR) costuma causar apenas sintomas de um resfriado leve. Em recém-nascidos, porém, ele é um dos maiores riscos à vida e pode comprometer a capacidade respiratória de crianças por vários anos.

Foi o caso do estudante Santiago Gomez, de 20 anos, que passou os cinco primeiros anos de sua vida usando suporte de oxigênio. Ele foi internado várias vezes por pneumonia e problemas respiratórios ao longo da infância. “Até hoje ele não respira bem”, conta a psicóloga Angélica Gomez, mãe dele.

A gestação de Santi, como o chama, era a terceira da mexicana, e ela nunca tinha sofrido qualquer complicação com os filhos. Quando estava na 27ª semana, porém, ela teve uma forte torção muscular e marcou consulta com um fisioterapeuta.

“Quando cheguei, ele disse que estava me achando indisposta e pediu para aferir minha pressão. Eu não estava sentindo nada, mas aceitei. Estava 20 por 15. O fisioterapeuta me levou para a emergência médica e eu fui internada com pré-eclampsia”, lembra ela.

Dois dias depois da internação, Angélica foi levada para uma cesariana de emergência. Santi nasceu prematuro e ficou semanas na incubadora. Angélica também teve complicações na operação e, mesmo que estivessem internados no mesmo hospital, mãe e filho não foram autorizados a ficar juntos.

Ainda no hospital, Santi foi infectado com o VSR. Em contato com o organismo frágil do bebê prematuro, o vírus levou a uma bronquiolite avassaladora. “Entre UTI neonatal, incubadora e outras hospitalizações, meu filho ficou quase um ano no hospital”, conta a psicóloga.

Pulmão comprometido permanentemente

A doença desencadeou uma severa displasia pulmonar em Santigo. A condição causa lesões graves no tecido interno do pulmão, comprometendo a capacidade respiratória. O quadro foi tão grave que Santi teve um infarto cerebral que, por sorte, foi pequeno.

No caso dele, o comprometimento dos pulmões foi tão grande que foi preciso usar suporte de oxigênio por cinco anos. Mesmo 20 anos depois da infecção pelo VSR, Santi ainda tem hipertensão pulmonar que causa dores constantes no peito e cansaço crônico.

“Foram tantas pneumonias e infecções que nos tornamos superprotetores. Eu gostava que minhas filhas se sujassem, que brincassem com os bichos, conhecessem gente. Com Santi, passamos a viver em uma prisão. Eu vivia com medo constante de que meu filho morresse e aquilo me adoeceu. Enfrentei dois anos de uma depressão grave”, lembra Angélica.

Sem encontrar espaço de acolhida para outras mães que passavam por uma situação parecida, Angélica decidiu criar uma fundação na Cidade do México, a NuNu, para dar acolhimento aos familiares de bebês extremamente prematuros.

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Psicóloga, Angélica acabou desenvolvendo depressão durante o período mais intenso da doença do filho

Aos 20 anos, Santiago decidiu se mudar de cidade para conseguir respirar melhor
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Santiago com uma foto de quando era bebê, internado na UTI neonatal

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Psicóloga, Angélica acabou desenvolvendo depressão durante o período mais intenso da doença do filho

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Aos 20 anos, Santiago decidiu se mudar de cidade para conseguir respirar melhor

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O risco do VSR

O VSR é a principal causa de bronquiolite, respondendo por cerca de 80% dos casos, segundo o Ministério da Saúde. A condição é a que mais mata crianças de até um ano globalmente. No Brasil, ela leva ao óbito de aproximadamente 400 bebês todos os anos. Estima-se que uma em cada cinco crianças infectadas pelo VSR antes dos cinco anos necessite de hospitalização.

“O VSR, quando atinge os pulmões, leva à inflamação dos brônquios. Essas estruturas se enchem de ar para abastecer nosso organismo, mas elas acabam sendo obstruídas pelo pus. Com isso, o bebê com bronquiolite passa a respirar muito mais rápido. Falta ar, ele não consegue mamar de cansaço e sem o atendimento médico, pode sim morrer”, explica a infectologista pediátrica Marta Avilés.

Somente em 2025, segundo o boletim Fiocruz/Infogripe, 14,8 mil pessoas tiveram síndromes respiratórias graves causadas por algum tipo vírus e a metade deles, quase 5 mil casos, foram relacionados ao VSR. Entre 2018 e 2024, foram registradas 83.740 internações de bebês prematuros (menos de 37 semanas) devido a complicações relacionadas ao vírus, como bronquite, bronquiolite e pneumonia.

A principal ferramenta do SUS até fevereiro deste ano era a vacina palivizumabe contra o VSR, mas ela era administrada apenas nos meses seguintes ao nascimento em bebês prematuros com menos de 28 semanas. A novidade é a incorporação do nirsevimabe, feita no início de 2025. O imunizante, além de funcionar para os mesmos casos da vacina anteriormente disponível, também pode ser administrado em gestantes para proteger os bebês já nos seus primeiros dias de vida.

Vacina a mãe, protege o bebê

Embora os estudos mostrem que a vacina imuniza de forma sutil a mãe contra a doença, o principal objetivo do nirsevimabe é proteger o bebê contra os vírus sinciciais respiratórios A e B.

“Essa é uma oportunidade grandiosa que a sociedade tem de proteger os bebês, especialmente os prematuros. A vacina pode reduzir os riscos de consequências que, mesmo se não forem fatais, podem acompanhá-los pelo resto da vida. Muitas destas crianças acabam sofrendo comprometimentos pulmonares, neurológicos e até nutricionais por terem enfrentado infecções tão severas em uma etapa tão inicial de suas vidas”, explica a imunologista Gabriela Abalos, líder médica de vacinas da Pfizer na América Latina.

Como a vacina é administrada na mãe, ela acaba produzindo anticorpos que são muito resistentes à doença e os passa através da placenta para o bebê. A vacina pode ser dada entre o quinto e o sétimo mês de gestação. Na rede privada brasileira, ela já está disponível desde setembro de 2024.

O nirsevimabe também tem indicação para ser usado por pessoas com mais de 60 anos para evitar casos de pneumonia em idosos, mas ele ainda não foi incorporado ao SUS para este público. Após a incorporação, negociações estão sendo feitas entre a Pfizer, fabricante, e o governo brasileiro para que o medicamento esteja disponível em todos os postos de saúde até 2026.

Mães que já conhecem de perto as consequências do VSR, como Angélica, fazem um chamado para que as futuras mamães se imunizem. “Me emociona saber que globalmente histórias como a minha já não se repetirão conforme a vacina for sendo mais utilizada. Reduzir a mortalidade infantil não é só salvar a vida daquele bebê, é salvar toda uma família”, conclui.

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Fonte: Metrópoles

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