Brasil corre risco de ter um surto nacional de gripe aviária?

O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) confirmou, nessa segunda-feira (19/5), que ainda investiga três casos suspeitos de gripe aviária no país. Dos seis que estavam em análise, três foram descartados após resultado negativo de testes laboratoriais.

O anúncio do primeiro caso de gripe aviária (H5N1) em uma granja comercial brasileira na última sexta-feira (16/5) colocou o país em alerta para a possibilidade da circulação da doença no país.

Primeiro caso em granja comercial

O vírus foi identificado no município de Montenegro, na Região Metropolitana de Porto Alegre (RS). O local atingido abrigava 17 mil aves – parte delas morreu e o restante foi sacrificado. No domingo (18/5), o ministério confirmou que as mortes de 38 cisnes e patos de um zoológico do estado também foram causadas pela doença. O parque está a cerca de 50 quilômetros de Montenegro.

Além dos dois casos confirmados, a pasta investiga outros três casos suspeitos espalhados pelo país. Amostras coletadas em granjas comerciais de Ipumirim (SC) e Aguiarnópolis (TO) estão em análise, assim como as colhidas em uma granja de produção familiar para subsistência em Salitre (CE).

As amostras coletadas nas granjas de subsistência de Gracho Cardoso (SE), Nova Brasilândia (MT) e Triunfo (RS) tiveram resultado negativo para a doença.

O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, afirmou nesta segunda que o país pode ficar livre da gripe aviária e retomar as exportações de carne de aves em até 28 dias, caso não sejam detectados novos casos da doença.

“O protocolo do ciclo é de 28 dias para a gripe aviária. Se em 28 dias não houver nenhum outro caso confirmado no Brasil, nós podemos, baseado em ciência, dizer que o Brasil está livre de gripe aviária em todo o território nacional”, afirmou o ministro a jornalistas.

O médico Alexandre Naime Barbosa, chefe do Departamento de Infectologia da Unesp e coordenador científico da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), afirma que o protocolo está em conformidade com as diretrizes da Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA).

De acordo com as normas internacionais, se não houver novos focos após 28 dias da eliminação do último caso confirmado — e desde que todas as medidas de controle tenham sido corretamente implementadas —, o país pode solicitar a recuperação do status sanitário.

“No entanto, esse é um critério técnico. Na prática, a vigilância deve continuar intensa, pois o vírus ainda circula em aves silvestres e há risco de reintrodução. Ou seja, mesmo que o status internacional seja retomado, ainda será necessário manter o monitoramento contínuo, protocolos rígidos de biossegurança e ações integradas entre os setores da saúde animal, humana e ambiental — dentro da abordagem conhecida como One Health”, aponta.

O que muda se as amostras forem positivas?

O virologista Fernando Spilki explica que a confirmação de novos casos pode aumentar a necessidade de criação de barreiras de contenção. “Internamente, muda a necessidade de um trabalho mais intensivo para tentar manter um esforço de proteção de uma área geográfica mais espalhada, que é sempre um problema”, explica.

A confirmação de novos casos em outros estados significaria que o vírus está disperso em uma área geográfica maior do que se imaginava, segundo a biomédica Mellanie Fontes-Dutra, pesquisadora e professora da Escola de Saúde da Unisinos.

“Será importante fazer o sequenciamento dessas amostras para entender se esse vírus já apresenta alguma mutação de interesse ou diferente do que estamos vendo em outros H5N1 que têm circulado nos EUA e em outras localidades do mundo”, afirma Mellanie.

Segundo a pesquisadora, cada vez que o vírus infecta diferentes hospedeiros e se aproxima de realizar contato com humanos, maiores são os riscos de adaptações que podem propiciar maior transmissão entre diversos animais, incluindo mamíferos.

Fotografia de um galinheiro lotado - Metrópoles - gripe aviária
Gripe aviária pode atingir aves domésticas como galinhas

Podemos ter um surto de grandes proporções?

Nos Estados Unidos, o surto que começou em 2022 já se tornou o mais severo e prolongado da história do país. Ao menos 170 milhões de aves foram atingidas, levando à disparada do preço do ovo.

Segundo a Associação Médica Veterinária Americana (AVMA), o avanço da gripe aviária altamente patogênica (H5N1) no país já resultou em perdas financeiras superiores a US$ 1,4 bilhão (cerca de R$ 7,9 bilhões).

A gripe aviária se tornou um problema mundial, com casos também na Europa e na Argentina. “Ao fazer uma comparação com esses países, a gente imagina que seja difícil parar no primeiro ou segundo caso. Normalmente isso avança mais, mas depende da eficácia das medidas adotadas. O perigo é a capacidade que esse vírus tem de se disseminar. É um momento de alerta, preocupação e de tomar todos os esforços necessários para evitar a expansão”, aponta Spilki.

Os especialistas ouvidos pelo Metrópoles afirmam que ainda é cedo para prever a proporção que a gripe aviária pode tomar no Brasil caso novos casos sejam confirmados em outras granjas comerciais. Mas eles reconhecem que o sistema de vigilância brasileiro se destaca no cenário mundial.

“O Brasil conseguiu retardar por bastante tempo a entrada do vírus em granjas comerciais, o que mostra que as medidas de biossegurança estavam funcionando. Contudo, com o primeiro foco confirmado em uma unidade de produção comercial no Rio Grande do Sul e outros casos sob investigação, é preciso intensificar ainda mais a vigilância”, considera Barbosa.

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Fonte: Metrópoles

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