O concurso “Miss Universo RS” prometia trazer para a capital gaúcha o melhor da beleza e elegância das mulheres do estado, contudo, uma situação ocorrida com a doação de uma tonelada de ração acabou revelando vários podres atrelados ao organizador do evento – incluindo supostos pedidos de pagamento do próprio aluguel em troca de favores e altas colocações do concurso.
Tudo começou com uma das etapas do concurso de miss, que previa que as misses arrecadassem alimentos para serem doados a cinco instituições beneficentes, sendo uma voltada para o cuidado dos animais.
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Danielle Debom, a Miss Porto Alegre, arrecadou de forma online mais de R$ 5 mil de 27 gaúchos. As doações em dinheiro revertidos em três toneladas de cestas básicas e uma tonelada de rações.
Os alimentos foram encaminhados à organização do Miss Universe RS, que redistribuiria para quatro instituições da capital do Estado. Enquanto isso, as rações continuaram sob responsabilidade da participante – a única que entregou insumos voltados aos pets – por falta de espaço.
Paulo Linhares Jr., dono da empresa responsável pela organização do Miss Universe RS, teria ficado impressionado com a quantidade – e chegou inclusive a dizer a Danielle que ela “com certeza estaria no top 3”.
Ao descobrir, no entanto, que as doações seriam para uma ONG de São Paulo que doaria para um abrigo em Belo Horizonte, ela se sentiu traída pelo organizador do evento.
“Cada um doou como pode, e todos doaram achando que fossem para instituições de Porto Alegre. Porque as pessoas que doaram confiavam em mim e acreditavam que iam estar ajudando o seu estado, que sofreu tanto com as enchentes”, justificou-se Danielle.
O empresário Alexandre Soares, responsável pela ONG “Patas Para Você”, só soube que não receberia as doações nessa quinta-feira (29/5), quando foi contado pelo agente da Miss.
Até então, Alexandre mantinha contato com Paulo Linhares, que sempre prometia que em breve as rações estariam em São Paulo. “Já estou sabendo que elas não vão chegar”, desabafou.
“Eu me comprometi com outros órgãos [para entregar as rações]. Como usaram o nome da minha ONG para arrecadar alimentos para outras me instituições?”, conta Alexandre.
Em contato com o empresário, no entanto, a entrega das rações parecia o menor dos problemas. Paulinho – como é conhecido no meio dos concursos – sempre fazia questão de intermediar as promessas da entrega com comentários sobre a dificuldade financeira, e eventuais pedidos de ajuda.
O que diz o organizador
Em contato com o portal LeoDias, Paulo logo retrucou que o erro seria da Miss Porto Alegre, que sequer teria pesquisado sobre a ONG antes de conduzir a campanha nas redes sociais. O empresário ainda não deixou de insinuar que a Miss tivesse desistido das doações por não ter conquistado a coroa.
“Se ela quis cancelar, tudo bem, é uma doação ela pode fazer isso. Mas ela agiu sim de má-fé. Porque não importa se a ONG é de lá ou daqui”, argumentou.
Além disso, ele foi categórico em dizer que iria se responsabilizar pelas doações. “Já combinei com o Alexandre. Nós vamos comprar, porque somos muito honestos” – minutos depois da declaração, Alexandre confirmou que nunca havia recebido essa promessa.
Nota: durante o fechamento do texto, e depois do contato com os envolvidos, Alexandre confirmou a reportagem que recebeu 65 sacos de ração compradas pelo próprio Paulinho. No entanto elas foram entregues em SP e não poderão ser distribuídas em BH pelo custo de envio.
Cestas não entregues e compra de votos
Durante a conversa com a reportagem, o organizador também garantiu que todas as cestas básicas foram entregues, inclusive com a presença da Miss Porto Alegre.
O portal LeDias conversou com as quatro instituições para averiguar o recebimento das doações, e elas responderam o seguinte:
- O Lar Esperança de Porto Alegre disse que ainda não recebeu as doações prometidas, e que Paulinho ignorou todas as tentativas de contato da ONG;
- A Clínica Esperança do Amparo a Criança disse que recebeu 21 cestas básicas (cerca de 350 kg) somente da Miss Soledade;
- O Instituto Pão dos Pobres confirmou que recebeu as doações, mas não especificou a quantidade ou a Miss;
- O Asilo Padre Cacique não respondeu até o fechamento da matéria.
Mesmo com o pedido da reportagem, Paulinho não mostrou formas de comprovara entrega das doações arrecadadas pelas misses – que somam pelo menos mais de 3 mil kg.
Em contato com outras pessoas ligadas aos bastidores do evento, para tentar apurar para onde foram os alimentos, o portal LeoDias descobriu também que o organizador faria negócios paralelos ao evento.
Uma colocação no top 10, por exemplo, seria negociado por um mês de aluguel do empresário. Para assegurar a coroa, assim como foi oferecido a Danielle, o preço seria de pelo menos R$ 10 mil.
Fonte: Portal LEODIAS