Uma pesquisa brasileira identificou uma molécula capaz de reverter o declínio cognitivo e bloquear o envelhecimento do cérebro em camundongos.
A descoberta envolve a hevina (ou SPARCL-1), uma proteína produzida naturalmente por células do sistema nervoso, e foi feita por cientistas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade de São Paulo (USP). Os resultados foram publicados na revista científica Aging Cell em fevereiro.
O que é o Alzheimer?
- O Alzheimer é uma doença que afeta o funcionamento do cérebro de forma progressiva, prejudicando a memória e outras funções cognitivas.
- Ainda não se sabe exatamente o que causa o problema, mas há indícios de que ele esteja ligado à genética.
- É o tipo mais comum de demência em pessoas idosas e, segundo o Ministério da Saúde, responde por mais da metade dos casos registrados no Brasil.
- O sinal mais comum no início é a perda de memória recente. Com o avanço da doença, surgem outros sintomas mais intensos, como dificuldade para lembrar de fatos antigos, confusão com horários e lugares, irritabilidade, mudanças na fala e na forma de se comunicar.
A hevina é liberada por astrócitos, células de suporte que ajudam a manter as conexões entre os neurônios. No estudo, os pesquisadores aumentaram artificialmente a produção da molécula no cérebro de camundongos saudáveis e em outros que apresentavam sinais de Alzheimer.
Ao longo de seis meses, os animais tratados demonstraram melhora na memória, no aprendizado e na comunicação entre neurônios, em comparação com os camundongos que não receberam a substância.
“Descobrimos que a superprodução de hevina é capaz de reverter déficits cognitivos em animais idosos, melhorando a qualidade das sinapses”, afirmou a neurobióloga Flávia Alcantara Gomes, da UFRJ, em comunicado.
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Melhoria sem interferir nas placas do Alzheimer
Uma das características da doença de Alzheimer é o acúmulo de placas beta-amiloides no cérebro. A hevina não atuou diretamente sobre as placas, e ainda assim foi capaz de restaurar funções cognitivas. Isso reforça uma linha de pesquisa que questiona o papel central dessas placas como causa do Alzheimer.
“Os resultados apoiam a hipótese de que as placas beta-amiloides, embora façam parte da doença, não são suficientes para causá-la”, explica o biomédico Felipe Cabral-Miranda, da UFRJ.
Ao analisar cérebros de pacientes com Alzheimer por meio de bancos de dados públicos, os pesquisadores também notaram que os níveis de hevina estavam abaixo do normal nessas pessoas, o que sugere que a perda da proteína pode estar envolvida no processo de deterioração cognitiva.
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Alzheimer é uma doença degenerativa causada pela morte de células cerebrais e que pode surgir décadas antes do aparecimento dos primeiros sintomas
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Por ser uma doença que tende a se agravar com o passar dos anos, o diagnóstico precoce é fundamental para retardar o avanço. Portanto, ao apresentar quaisquer sintomas da doença é fundamental consultar um especialista
Andrew Brookes/ Getty Images3 de 8
Apesar de os sintomas serem mais comuns em pessoas com idade superior a 70 anos, não é incomum se manifestarem em jovens por volta dos 30. Aliás, quando essa manifestação “prematura” acontece, a condição passa a ser denominada Alzheimer precoce
Westend61/ Getty Images4 de 8
Na fase inicial, uma pessoa com Alzheimer tende a ter alteração na memória e passa a esquecer de coisas simples, tais como: onde guardou as chaves, o que comeu no café da manhã, o nome de alguém ou até a estação do ano
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Desorientação, dificuldade para lembrar do endereço onde mora ou o caminho para casa, dificuldades para tomar simples decisões, como planejar o que vai fazer ou comer, por exemplo, também são sinais da manifestação da doença
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Além disso, perda da vontade de praticar tarefas rotineiras, mudança no comportamento (tornando a pessoa mais nervosa ou agressiva), e repetições são alguns dos sintomas mais comuns
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Segundo pesquisa realizada pela fundação Alzheimer’s Drugs Discovery Foundation (ADDF), a presença de proteínas danificadas (Amilóide e Tau), doenças vasculares, neuroinflamação, falha de energia neural e genética (APOE) podem estar relacionadas com o surgimento da doença
Rossella De Berti/ Getty Images8 de 8
O tratamento do Alzheimer é feito com uso de medicamentos para diminuir os sintomas da doença, além de ser necessário realizar fisioterapia e estimulação cognitiva. A doença não tem cura e o cuidado deve ser feito até o fim da vida
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Foco nos astrócitos
Geralmente, os tratamentos e estudos sobre Alzheimer têm foco nos neurônios, mas o estudo propõe um novo caminho ao investigar o papel dos astrócitos e outras células de suporte.
A partir da ação da hevina, os cientistas perceberam que essas células também podem representar alvos promissores para novas estratégias terapêuticas.
“Desviamos o foco dos neurônios e esclarecemos o papel dos astrócitos. Isso pode abrir espaço para novas formas de tratamento”, diz Flávia.
Apesar dos resultados, os autores reforçam que a pesquisa ainda está em estágio inicial. Os testes foram feitos apenas em animais, e transformar a hevina ou seus efeitos em medicamentos para humanos levará tempo.
Mas o trabalho já fornece uma base importante para futuros estudos e amplia o entendimento sobre os mecanismos da demência e do envelhecimento cerebral.
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Fonte: Metrópoles