Em julho de 2021, quando o Brasil vivia a segunda onda da Covid-19, Rozimere do Nascimento Rodrigues, 63, contraiu o coronavírus. A partir daí, sua vida mudou para sempre. A aposentada desenvolveu fibrose pulmonar irreversível, um dos piores efeitos colaterais da infecção, e foi diagnosticada com asma eosinofílica grave. Desde 2021, Rozimere não consegue respirar direito.
Antes de saber se estava com Covid-19, a aposentada teve sintomas leves, como perda de olfato e paladar. Ela foi a um hospital em Brasília acompanhada pela filha, Anny Cassimira, porém, como o país vivia um boom de casos, não conseguiu atendimento. Uma semana depois, o quadro de Rozimere piorou, e ela passou a aparesentar febre e alucinações persistentes.
Quando conseguiu atendimento médico, foi recomendado o isolamento em casa, como era o protocolo. Porém, a aposentada continuava piorando. Duas semanas depois do diagnóstico, ela ficou muito prostrada e sentindo falta de ar constante. Preocupados com o quadro e sem alternativas, a família resolveu procurar atendimento médico em Rialma, Goiás, cidade do marido da aposentada.
Com a ajuda dos profissionais de saúde, Rozimere começou a receber soro em casa, mas o quadro já era grave: ela estava quase inconsciente, desidratada e com oxigenação precária. Com um mês de tratamento, a aposentada só apresentou leve melhora.
“Ela ficava na base do soro e os enfermeiros iam em casa medir os sinais vitais dela. Mesmo com os sinais fracos, eles diziam que tínhamos que esperar, porque precisava abrir vaga no hospital. Mas sempre chegava alguém em estado gravíssimo e não sobrava vaga para minha mãe”, relembra Anny.
Sequelas persistentes e diagnóstico
Após percorrer diversos médicos buscando soluções para os sintomas pós-Covid de Rozimere, a família encontrou um pneumologista no Hospital São Francisco de Ceilândia, em Brasília, que passou a investigar o caso da aposentada.
Durante meses, Rozimere foi submetida ao tratamento clássico para asma com bombinhas e corticoides, mas sem solução. Durante um ano, as crises de falta de ar e pneumonia se tornaram mais frequentes.
O especialista solicitou a realização de uma tomografia, que revelou a presença de uma alteração pulmonar conhecida como vidro fosco, que caracteriza a fibrose pulmonar irreversível. Inicialmente, uma broncoscopia também constatou doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), mas depois descobriu-se que o quadro era causado por uma asma eosinofílica grave.

Diante da gravidade do quadro, o pneumologista indicou o uso do mepolizumabe, uma imunoterapia avançada, restrita a casos complicados, e com efeitos colaterais controlados. O medicamento atua diretamente nos alvéolos pulmonares, sendo essencial para manter a oxigenação adequada e evitar internações.
O que é asma eosinofílica grave
A asma eosinofílica grave é causada por um processo inflamatório caracterizado pela presença de eosinófilos (células inflamatórias) nos brônquios. Esse tipo de asma é frequentemente desencadeado por alergias, sendo tratado com medicamentos que agem em substâncias inflamatórias específicas, como as interleucinas.
A doença respiratória crônica pode ser classificada de acordo com sua gravidade, podendo ser leve, moderada e grave. A última apresenta crises diárias e pode ser difícil de controlar com tratamentos tradicionais. Para a asma grave, como no caso de Rozimere, novos tratamentos com medicamentos biológicos, como o mepolizumabe, têm mostrado bons resultados.
A aposentada tem fibrose pulmonar e asma grave, mas, segundo o pneumologista Elie Fiss, as condições não têm relação direta. “Asma eosinofílica grave é uma doença de quem tem asma. O paciente que tem fibrose pulmonar irreversível pode ter até sintomas semelhantes, mas não é asma grave, porque uma coisa não tem relação com a outra”, afirma o profissional da clínica Alta Diagnósticos.
Medicamento de alto custo resolve, mas fica um indisponivel
O tratamento com mepolizumabe tem funcionado para Rozimere, que conseguiu acesso ao remédio gratuitamente pela farmácia de alto custo. Ela começou o uso em julho do ano passado.
Porém, em janeiro de 2025, ao tentar retirar o medicamento para a mãe, Anny recebeu a notícia de que o remédio estava indisponível e sem previsão de reabastecimento. A dose do mepolizumabe custa cerca de 13 mil reais, muito mais do que a família pode arcar, e, desde então, a aposentada está sem tratamento.
Ela explica que a mãe já voltou a apresentar sintomas como tonturas, confusão mental, desmaio e insuficiência respiratória. Rozimere não consegue fazer as atividades do dia a dia, nem tomar banho sozinha. Esforços que parecem simples são muito difíceis sem conseguir respirar. Como é uma doença que não tem cura, apenas controle de sintomas, o remédio é imprescindível.
“Estamos falando de uma dívida de 150 mil reais ao ano. Não dispomos desse valor. Por enquanto, estamos tentando os canais da Secretaria de Saúde, Ouvidoria. Se não der certo, tentaremos a via judicial. É um descaso absurdo, é tratar o contribuinte como um lixo. Há uma completa desorganização nas farmácias de alto custo e não há transparência sobre onde estão os medicamentos”, lamenta Anny.
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Fonte: Metrópoles