Uma adolescente de 15 anos morreu na última quarta-feira (28/5), em Brasília, após complicações pulmonares relacionadas ao uso de cigarro eletrônico, conhecido popularmente como vape. Ela estava internada no Hospital Regional da Asa Norte (Hran), onde chegou em estado grave.
A jovem foi internada no Hospital Cidade do Sol no dia 18 de maio com diagnóstico de pneumonia comunitária, infecção por influenza A e suspeita de EVALI (sigla para lesão pulmonar associada ao uso de produtos de vape ou cigarro eletrônico).
Após dois dias de internação, o quadro piorou e ela apresentou febre persistente. A equipe médica ajustou a medicação, mas, diante da gravidade, a adolescente foi transferida ao Hospital Universitário de Brasília (HUB), onde precisou ser intubada.
Com a necessidade de vaga em UTI, foi levada ao Hran, onde morreu dias depois. A suspeita principal é de EVALI, mas a confirmação ainda depende do resultado da necrópsia.
Problemas de saúde relacionados ao uso prolongado de vape
- Doenças pulmonares crônicas: são comuns casos que incluem bronquite crônica e enfisema, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e fibrose pulmonar.
- Problemas cardiovasculares: o consumo frequente causa aumento da pressão arterial e frequência cardíaca, maior risco de infarto do miocárdio e AVC e danos nos vasos sanguíneos.
- Efeitos neurológicos: usar vape por muito tempo causa dependência da nicotina, alterações no cérebro em desenvolvimento, aumento da ansiedade e irritabilidade.
- Risco de câncer: a exposição a substâncias presentes no vape podem levar ao desenvolvimento de cânceres.
- Doença pulmonar associada ao uso de produtos de cigarro eletrônico (EVALI, em inglês): lesão pulmonar causada pelas substâncias contidas no vape e que pode deixar sequelas permanentes.
O que é EVALI?
A lesão pulmonar associada ao uso de vape pode surgir de forma súbita e grave, levando a inflamações nas vias aéreas e no tecido pulmonar, chamado de parênquima. Em casos extremos, pode evoluir rapidamente para insuficiência respiratória.
Segundo o pneumologista Paulo Feitosa, que atua em Brasília, a gravidade da EVALI está relacionada à incerteza sobre os compostos presentes nos vapes.
“Como não é regulamentado, nós não sabemos o que tem lá dentro. Deve ter variação de fabricante para fabricante, e fatalmente isso tem levado a lesões pulmonares graves, como a que aconteceu com essa menina”, explica o médico.
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Os dispositivos costumam conter nicotina, aromatizantes e glicerina vegetal. No entanto, outras substâncias podem ser adicionadas sem controle, como o tetrahidrocanabinol (THC), que está entre os compostos mais associados aos casos de EVALI.
“Cada vez se descobrem mais coisas sobre o cigarro eletrônico. O que parecia inofensivo não é tão inocente assim. Pelo contrário, hoje já está certo que o cigarro eletrônico faz mais mal do que o cigarro comum, inclusive de forma muito mais rápida”, afirma o especialista.
O quadro clínico pode variar bastante. Em alguns pacientes, a inflamação pulmonar se alastra rapidamente e pode causar hemorragias ou falta de ar severa. “Existem pessoas que chegam com o pulmão muito inflamado e infelizmente evoluem para óbito. A lesão pode ser extensa e comprometer de forma irreversível as trocas gasosas”, explica Feitosa.
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Cada vez mais popular no Brasil, o vape, cigarro eletrônico ou e-cigarrette tem se tornado um verdadeiro fenômeno entre os jovens. O produto, geralmente, tem aparência semelhante a de um cigarro comum, mas também pode ser encontrado em formato de pen drive ou caneta
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Em uma embalagem colorida, com sabores diferentes, sem o cheiro ruim do cigarro tradicional e com uma grande quantidade de fumaça, os produtos são muito comuns, especialmente, entre pessoas de 18 a 24 anos, apesar de serem proibidos no Brasil
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No geral, o produto é composto por bateria, atomizador, microprocessador, lâmpada LED e cartucho de nicotina líquida. Esses mecanismos são responsáveis por aquecer o líquido que produz o vapor inalado pelos usuários
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Apesar de serem bastante usados no mundo inteiro e, inicialmente, tenham sido introduzidos no comércio como uma alternativa para os cigarros comuns, os vapes são perigosos para a saúde, segundo o Conselho Federal de Medicina (CFM)
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Os médicos afirmam que os cigarros eletrônicos são “uma ameaça à saúde pública” e oferecem ainda mais riscos do que os cigarros comuns, além de serem porta de entrada dos jovens no mundo da nicotina
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Esses especialistas afirmam que o filamento de metal que aquece o líquido é composto de metais pesados que acabam sendo inalados, como o níquel, substância cancerígena
Shahril Affandi Khairuddin / EyeEm/Getty Images7 de 14
Ainda segundo os especialistas, o líquido produzido pelo cigarro eletrônico tem pelo menos 80 substâncias químicas consideradas perigosas e responsáveis por reforçar a dependência na nicotina
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Além disso, o uso diário de cigarros eletrônicos causa estado inflamatório em vários órgãos do organismo, incluindo o cérebro. Novas pesquisas indicam que a utilização também pode desregular alguns genes e fazer com que o usuário desenvolva uma condição chamada EVALE, lesão causada pelo produto nos pulmões
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O neurologista Wanderley Cerqueira, do Hospital Albert Einstein, explica que os efeitos no usuário variam dependendo da nicotina e dos sabores líquidos, que influenciam a forma como o corpo responde às infecções. Segundo ele, vapes de menta, por exemplo, deixam as pessoas mais sensíveis aos efeitos da pneumonia bacteriana do que outros aromatizantes
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O especialista alerta que as células imunológicas parecem ser desativadas à medida que os pulmões são continuamente encharcados com produtos químicos. Esse processo enfraquece as defesas do organismo contra ameaças como pneumonia ou câncer
Diego Cervo / EyeEm/Getty Images11 de 14
Ainda segundo o médico, mesmo os vapes sem sabor são perigosos. Isso porque eles possuem outros aditivos químicos em sua composição, como propilenoglicol, glicerina, formaldeído e a própria nicotina, que causa câncer
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Uma pesquisa da Universidade de Duke, nos Estados Unidos, encontrou níveis perigosos de toxinas em produtos usados para conferir sensação mentolada em cigarros eletrônicos. Foram verificados problemas em várias marcas dessas substâncias mas, principalmente, na Puffbar, uma das mais populares do mundo
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Os cientistas encontraram níveis das toxinas WS-3 e WS-23 acima dos considerados seguros pela Organização Mundial de Saúde (OMS) no fluido do produto. Dos 25 líquidos analisados, 24 tinham WS-3, por exemplo
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As substâncias são usadas em aditivos alimentícios para dar o “frescor” do mentolado sem o sabor de menta, mas não devem ser inaladas. Elas são encontradas também em produtos nos sabores de manga ou baunilha
Daniel Cabajewski / EyeEm/Getty Images
Como o vape afeta o organismo?
Embora não envolvam a queima de tabaco, os cigarros eletrônicos também expõem o organismo a substâncias tóxicas. O dispositivo aquece uma solução líquida aromatizada, que, ao ser vaporizada, libera compostos potencialmente perigosos. Entre eles estão formaldeído, acroleína e benzaldeído, substâncias irritantes e inflamatórias para o trato respiratório.
Além disso, resíduos de metais pesados como chumbo e níquel podem estar presentes no vapor inalado, elevando o risco de danos aos pulmões. A exposição frequente a esses agentes químicos tem sido associada a lesões respiratórias graves, como a EVALI.
“O uso do vape, além de causar doenças pulmonares e cardiovasculares, pode agravar condições pré-existentes, como asma e bronquite. Pacientes portadores de qualquer pneumopatia crônica terão a doença ou seus sintomas agravados”, alertou o pneumologista Elie Fiss, do laboratório Alta Diagnósticos, em entrevista anterior ao Metrópoles.
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Fonte: Metrópoles