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Homens pretos correm maior risco de ter câncer de próstata. Entenda

Cada vez mais estudos estão sendo feitos para entender por que homens negros parecem ter maior predisposição a desenvolver o câncer de próstata. Embora não se conheça o número no Brasil, nos Estados Unidos a incidência da doença é 60% mais alta nessa população quando comparada à branca, segundo estudo publicado em 2024 na revista Nature.

A mesma pesquisa revelou que, no Reino Unido, o risco de diagnóstico entre negros é de duas a três vezes maior. Além disso, a mortalidade também é o dobro, mesmo em sistemas de saúde distintos como o britânico (majoritariamente público) e o americano (privado).

No Brasil, embora não haja dados étnico-raciais precisos, os especialistas ouvidos pelo Metrópoles indicam que a maioria dos pacientes atendidos também é de homens pretos e pardos. A explicação por trás deste número parece ser uma união de aspectos físicos e sociais.


Câncer de próstata


Fatores genéticos e sociais em conjunto

Segundo o cirurgião oncológico Jayme Nobre, coordenador nacional da Comissão de Tumores Genito-urinários da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO), fatores genéticos e biológicos também contribuem para a maior expressão da doença em homens negros.

“As evidências de que a doença em si é diferente são cada vez mais robustas, consequência, provavelmente, de uma genética de grupos ancestrais que foi compartilhada. Homens pretos com câncer de próstata apresentam um aumento de sinalização de receptores de andrógeno, mais alterações metabólicas e maior sinalização inflamatória, o que torna a doença mais grave”, explica o médico.

A genética, no entanto, não é o único fator. A desigualdade no acesso à saúde afeta o diagnóstico precoce. “Infelizmente, a população negra chega com a doença em estágios mais avançados”, diz o oncologista Cleydson Santos, do Hospital Mater Dei Salvador.

Impacto da desigualdade no Brasil

Essa diferença é percebida na prática clínica. Cleydson aponta que Salvador — cidade com alta proporção de população negra — registra muitos desses casos. “Especialmente nos atendimentos do setor público a gente percebe que os homens negros têm uma incidência mais alta da doença e também uma maior agressividade dela”, afirma o médico.

“Para completar essa dificuldade de acesso também ao serviço de saúde, normalmente a população negra chega com a doença em estágios mais avançados. Então, mais uma vez, para além da questão genética, essa questão social é extremamente relevante”, completa Cleydson.

Nobre também relata que o predomínio de pacientes negros com câncer de próstata é mais evidente nos atendimentos que faz no Sistema Único de Saúde (SUS). “No atendimento de pacientes da saúde suplementar e privada há clara limitação de acesso desta população, principalmente por aspectos socioeconômicos em nosso país. Por isso a diferença não se nota”, completa o representante da SBCO.

Prevenção e diagnóstico precoce

O Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima mais de 70 mil novos casos do câncer de próstata por ano no Brasil. Destes, uma parcela expressiva ocorre em homens negros, mas a ausência de dados oficiais dificulta o dimensionamento exato da desigualdade.

Como em todo câncer, a prevenção é sempre a melhor arma. Os médicos recomendam que homens busquem manter uma alimentação balanceada, pratiquem exercícios físicos e evitem o tabagismo para reduzir o risco de doenças. Um estudo de 2024 indicou que o risco de ter câncer de próstata cai 35% com a prática regular de exercícios.

Além disso, o rastreamento ativo deve começar aos 50 anos. No caso de homens com histórico familiar de doença, a recomendação é iniciar os exames aos 45 ou até 40 anos, para aumentar as chances de detecção precoce e melhor resultado com o tratamento.

Os exames mais indicados são o toque retal e o PSA, um exame de sangue que avalia proteínas relacionadas ao tumor.

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Fonte: Metrópoles

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