O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu, nessa quarta-feira (7/5), renovar o ciclo de altas da taxa básica de juros do país (Selic), mas em menor magnitude. A Selic subiu de 14,25% ao ano para 14,75% ao ano — maior valor da taxa em quase duas décadas.
Dessa forma, a Selic volta ao patamar de julho de 2006, fim do primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). À época, a economia brasileira estava em um período de crescimento.
Além disso, é a sexta subida consecutiva da Selic. O ciclo de aperto monetário começou em setembro de 2024, quando o Copom decidiu interromper o ciclo de cortes e elevar em 0,25 ponto percentual a taxa, que passou dos então 10,50% ao ano para 10,75% ao ano.
O Copom justificou que os riscos para a inflação — que é o que o BC busca controlar ao subir os juros — vão na direção tanto de alta quanto de baixa e estão mais elevados do que o usual.
Os efeitos práticos
Mas como isso impacta na sua vida? Grosso modo, juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Assim, taxas mais altas também podem conter a atividade econômica.
Veja abaixo os principais itens influenciados pela Selic:
- Crédito: como a Selic é uma taxa de referência para o custo das linhas de crédito, a tendência é que, em momentos de alta, empréstimos e financiamentos se tornem mais caros. Em outras palavras, o aumento dos juros leva bancos e outras instituições financeiras a cobrarem juros mais altos do consumidor nesse tipo de operação.
- Consumo: os efeitos da alta dos juros sobre o crédito, que atingem diretamente empréstimos e financiamentos, afetam, por tabela, o nível de consumo da população. Com o aumento dos custos de produtos e serviços, é natural que as pessoas comprem menos.
- Emprego: apesar do efeito positivo de conter a escalada da inflação, uma das consequências do aumento da taxa de juros é o esfriamento da atividade econômica – o que pode resultar em diminuição de contratações ou mesmo no corte de vagas por parte das empresas, afetando o emprego.
- Investimentos: o aumento da Selic beneficia os investimentos de renda fixa, cuja remuneração oferecida é baseada nos juros. Entre esses investimentos, estão os títulos públicos do governo federal, os CDBs emitidos pelos bancos, letras de crédito e debêntures. Em períodos de juros elevados, todos esses papéis costumam ter uma rentabilidade maior.
Entenda a situação dos juros no Brasil
- A taxa Selic é o principal instrumento de controle da inflação.
- O Brasil enfrenta uma inflação anual de 5,48%, acima do teto da meta de 4,5%, e a decisão visa segurar o avanço dos preços.
- Ao aumentar os juros, a consequência esperada é a redução do consumo no país.
- Dessa forma, o crédito fica mais caro e a atividade econômica tende a desaquecer, provocando queda de preços para consumidores e produtores. A inflação dos alimentos tem sido a pedra no sapato do presidente Lula (PT).
- Projeções mais recentes mostram que o mercado desacredita em um cenário em que a taxa de juros volte a ficar abaixo de dois dígitos durante o governo Lula e do mandato de Gabriel Galípolo à frente do BC.
- A próxima reunião do Copom está marcada para os dias 17 e 18 de junho.
No comunicado que acompanhou a decisão de elevar a Selic para 14,75% ao ano, o BC classificou o cenário externo como “adverso e “particularmente incerto” por causa da conjuntura econômica nos Estados Unidos e, ao contrário do que ocorreu nas últimas reuniões, não cravou o rumo da Selic para os próximos encontros do colegiado.
Marcelo Bolzan, sócio da The Hill Capital, avaliou que a ausência de guidance, ou seja, de sinalização clara para as próximas reuniões do Copom, é positiva porque significa que o Banco Central vai ganhar flexibilidade.
“Ao deixar em aberto os próximos movimentos, tivemos um comunicado com tom mais dovish [mais suave]. Então, o comitê vai deixar em aberto a possibilidade, inclusive, de parar de subir juros na próxima reunião, conforme aqui os dados futuros vierem”, analisou Bolzan.
Especialistas também observam que a decisão vai demandar uma atuação mais firme da política fiscal.
“Essa elevação reforça o papel do Banco Central como guardião da estabilidade, mas escancara os efeitos colaterais de um país que convive com desequilíbrios estruturais. Enquanto o governo não mostrar disciplina fiscal, o juro continuará sendo usado como único antídoto contra a inflação, mesmo que isso custe emprego, renda e crescimento”, disse João Kepler, CEO da Equity Group.
*Com conteúdos de reportagem publicada em 30/1/2025.
Fonte: Metrópoles