O mieloma múltiplo é um tipo de câncer que afeta as células plasmáticas na medula óssea, que são responsáveis por produzir anticorpos — elas se replicam de forma errada, atrapalhando a formação também de outras células do sangue. A doença é grave, progressiva, e não tem cura: o tratamento existente é para evitar a progressão do quadro. O paciente, depois de diagnosticado, vive em média 10 anos.
Para pessoas diagnosticadas que estejam em recidiva ou já tenham sido tratadas com duas terapias prévias sem sucesso, o principal tratamento é o carfilzomibe, uma terapia-alvo que custa, em média, R$ 6,5 mil — três anos de tratamento, o recomendado, custariam cerca de R$ 800 mil.
O medicamento está disponível no SUS desde 2023, mas não deixou de ser dispendioso para o sistema único de saúde — um relatório da Conitec publicado na época da incorporação estima um gasto adicional ao governo de 188 milhões em cinco anos.
Opção brasileira e mais em conta
Com o objetivo de baratear o medicamento para o governo, pesquisadores da Universidade de São Carlos (UFSCar), em São Paulo, com apoio da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) e parceria com a empresa Import Now, estão tentando rever a rota de fabricação do fármaco.
A ideia é usar métodos mais eficientes, com novos materiais de baixo custo para baratear o produto final. O projeto está em fase laboratorial, com testes para escalonamento industrial, e a expectativa dos cientistas é que a produção se torne entre 30% e 50% mais rápida e barata.
“O maior destaque dessa tecnologia está na originalidade do nosso processo. Até o momento, não existe nenhuma metodologia similar reportada na literatura. Nossa rota de síntese permitirá a produção desse importante fármaco em um tempo significativamente menor, com maior pureza bruta a um custo reduzido — tudo isso acompanhando os princípios de sustentabilidade. É uma solução que alia eficiência, economia e responsabilidade ambiental”, ressalta o professor Márcio Weber Paixão, coordenador do projeto na Unidade Embrapii.
A inovação tem como meta reduzir o preço do medicamento e garantir produção nacional, diminuindo a dependência de importações. A conclusão do projeto está prevista para 2026.
“Iniciativas deste porte nos enchem de orgulho porque indicam que, com nossa contribuição, o Brasil tem conseguido colocar sua competência científica a favor do fortalecimento da sua capacidade industrial”, destaca o presidente da Embrapii, Alvaro Prata. “Acreditamos que nossos esforços possam contribuir para atingirmos a autossuficiência na produção de medicamentos”, completa.
Caso o projeto tenha sucesso, além de fortalecer a produção local a indústria nacional, ele promoveria um acesso rápido e mais barato para quem depende da medicação. Os métodos ainda estão alinhados à química verde, evitando a geração de toneladas de resíduos por ano.
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Fonte: Metrópoles